Dentre as principais moedas do mundo, o Real se destaca nos últimos 12 meses com valorização de 7% contra o Dólar americano. Essa valorização levanta o debate se é melhor aplicar em um título de renda fixa privado que é corrigido pela variação cambial ou pelo IPCA. Explico abaixo o que precisa considerar para decidir.
Conversando com vários investidores, percebo que há uma incoerência entre suas expectativas e preferências. Muitos investidores preferem investir em um título em dólar, mas esperam que o Real se valorize, o que parece incoerente.
A expectativa de valorização ocorre pelo movimento recente que o Real apresentou. Conforme pode ser observado no gráfico abaixo, o Real é a moeda que mais se valoriza contra o Dólar nos últimos 12 meses, dentre as principais moedas, segundo a Bloomberg.
Ontem escrevi sobre o processo para escolher entre a remuneração prefixada e IPCA. Expliquei que esta decisão deve considerar a diferença entre sua expectativa de inflação e a inflação implícita entre os títulos prefixado e IPCA.
A decisão de hoje é um pouco mais trabalhosa. Primeiro vamos estabelecer o critério para comparação.
Toda comparação deve considerar títulos de mesmo emissor, ou seja, de mesma qualidade de crédito e de mesmo vencimento.
Portanto, não dá para comparar um título de uma empresa, que possui qualidade de crédito regular, com o CDB de um banco avaliado com nota máxima.
Assim como, não faz sentido comparar o retorno de um título de prazo de 20 anos com outro de vencimento de 5 anos. O risco de taxa de juros em um título longo é maior. Logo, possivelmente o título longo terá maior expectativa de retorno esperado.
Considerando isso, vamos comparar duas emissões da empresa Petrobras. Uma no exterior com vencimento em 2031 e outra no Brasil de prazo similar, mas referenciada ao IPCA.
Coletei a taxa negociada no exterior com uma corretora parceira. O título da Petrobras com vencimento em 2031 em Dólar era negociado na semana passada com uma taxa de retorno de 5,6% ao ano.
Assim, um investidor brasileiro que aplicasse nesse título, ganharia a variação do câmbio (R$/ Dólar) acrescida de 5,6% ao ano.
A Petrobras também possui uma debênture de vencimento em 15 de setembro de 2029 e outra com vencimento em 2034. Ambas são referenciadas ao IPCA e negociam com taxa de 5,6% ao ano. No site da Anbima você pode consultar a taxa desta debênture e de outras emissões.
A decisão deve considerar sua expectativa de inflação e de desvalorização cambial pelos próximos nove anos.
Entendo que é um exercício difícil. Ainda que sujeito a erros, estimar a variação cambial no longo prazo é mais fácil que no curto prazo.
No longo prazo, o câmbio tem apresentado desvalorização muito relacionada à evolução da inflação.
Veja no gráfico acima que, desde o Plano Real, apesar de o câmbio ter maior volatilidade nos intervalos de curto prazo, a moeda se desvaloriza praticamente o mesmo que a inflação.
Entretanto, a teoria explica que a desvalorização no longo prazo deveria se aproximar do diferencial de inflação entre os dois países EUA e Brasil.
Logo, para dois títulos de renda fixa com vencimento no longo prazo, se a taxa de juros deles é a mesma, você deveria preferir o título referenciado ao IPCA ao em Dólar. Para decidir pelo título em Dólar, no longo prazo, ele deveria apresentar maior rentabilidade.
Portanto, não é uma decisão trivial aplicar em um título em Dólar, ainda que ele tenha taxa de retorno maior que a taxa em IPCA. Você precisa considerar que a moeda deveria se desvalorizar menos que o IPCA e cobrar na taxa de juros esta diferença.
Já as decisões de curto prazo, são muito mais difíceis, pois deveria acertar o movimento do câmbio que apresenta alta volatilidade no curto prazo. Como disse o Ministro Delfim Neto: "o câmbio foi feito para humilhar os economistas".
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor
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