Pesquisa de sentimento aponta que o percentual de investidores individuais americanos otimistas com o mercado de ações é o menor das últimas três décadas. Dados como estes assustam qualquer leitor. Entretanto, precisamos ter muito cuidado com este tipo de pesquisa e qual a melhor atitude a tomar com esta informação.
Recebo pesquisas de sentimento sobre a bolsa de valores quase todos os meses. Não me furto a responder, mas tomo muito cuidado para refletir se minha resposta é fruto do que eu acredito que vai ocorrer ou do que eu tenho passado nas últimas semanas.
A pesquisa da American Association of Individual Investors (AAII) é feita semanalmente e mede o percentual dos respondentes que está otimista, neutro ou pessimista em relação ao mercado de ações nos próximos seis meses. Link para a pesquisa (aqui)
O percentual de investidores otimistas que foi divulgado antes de ontem de 18,87% é um pouco melhor do que o da semana passada que atingiu a incrível marca de 15,84%.
O gráfico abaixo apresenta a evolução deste indicador ao longo do tempo desde 1987.
Percebe-se uma alta frequência nesse gráfico, o que indica que os investidores mudam de opinião rapidamente.
Em novembro passado, ou seja, há seis meses, o percentual de investidores otimistas com o mercado atingiu quase 50%. Enquanto os pessimistas naquele momento eram apenas 24% do total.
Como mencionei, a pergunta que os investidores precisam responder é sobre o que eles acreditam quanto ao mercado nos próximos seis meses. Se o consenso estivesse certo, o mercado deveria ir bem no semestre seguinte em que houvesse mais investidores otimistas e deveria ir mal no semestre seguinte ao que o percentual de investidores otimistas caísse.
Entretanto, não é bem isso que acontece.
Quando medimos a correlação do retorno do S&P500 dos próximos seis meses com o percentual de investidores otimistas, percebemos que a correlação é negativa (-0,16). A correlação mede a relação linear entre duas variáveis e varia de -1 a 1.
A correlação negativa quer dizer que quando os investidores estão muito otimistas, nos próximos seis meses o mercado tende a cair e quando a maioria dos investidores está pessimista, o mercado sobe.
Por exemplo, veja o que ocorreu de novembro passado até hoje. Havia um percentual muito grande de investidores otimistas e o mercado caiu.
Na verdade, a correlação maior (0,33) do dado é com o retorno observado nos últimos dois meses. Ou seja, o retorno que o investidor experimentou nos últimos dois meses está refletido muito mais em seu sentimento sobre o que ocorrerá no futuro.
Portanto, cuidado ao ler pesquisas de sentimento sobre o que o consenso acredita que vai ocorrer no futuro. Elas podem refletir muito mais o passado recente.
Há quem diga que estas pesquisas seriam um bom indicador contrário sobre o que fazer, ou seja, se existem muitos investidores pessimistas, poderia ser um bom momento para comprar, pois o prêmio de mercado estaria elevado.
Os próximos seis meses vão dizer quem está certo.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor
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