Atraídos pela promessa de altos ganhos, investidores aplicam em ações classificadas como junk (lixo), quando deveriam buscar qualidade. Parece quase óbvio que qualidade deveria ser um critério-chave a se perseguir no investimento em ações. Entretanto, será que qualidade é realmente importante? E o que determina a qualidade de uma ação?
Se você acompanha esta coluna, já leu algumas vezes sobre a administração de uma carteira de ações por meio de fatores. Um dos fatores que apresenta melhor desempenho no mundo e que é perseguido pelo investidor Warren Buffett é o fator qualidade.
Segundo a MSCI, o índice de ações que segue o fator qualidade no mundo (MSCI ACWI Quality Index) apresentou um desempenho de 296,54% nos últimos quinze anos. No mesmo período o índice agregado, o MSCI ACWI, se valorizou apenas 144,73%.
Adicionalmente, conforme demonstra Andrea Frazini, em artigo acadêmico publicado em 2013 intitulado, Buffett’s Alpha: "We show that Buffett’s performance can be largely explained by exposures to value, low-risk, and quality factors." (Mostramos que o desempenho de Buffett é fortemente explicado pela exposição aos fatores valor, baixo risco e qualidade).
Portanto, o fator qualidade é um dos fatores que explicam o elevado desempenho do bilionário Warren Buffett. Ou seja, qualidade é importante.
Conforme o artigo Quality minus Junk de Frazzini publicado em 2019, o fator qualidade é determinado por três características chave: lucratividade, crescimento e segurança.
Para explicar como aplicar estas três características na classificação das ações com melhor qualidade, vou comentar como a MSCI define seu índice.
No artigo, Frazini descreve vários índices que podem ser utilizados para atender aos três critérios. A MSCI selecionou dentre eles de forma bem simples.
Para lucratividade, a MSCI considera a rentabilidade das empresas medida pelo ROE (Return on Equity). Para o critério de crescimento ela considera o crescimento dos lucros, mas privilegiando a estabilidade deste crescimento. Já no critério segurança, ela classifica pelo baixo endividamento financeiro, ou seja, quanto menor o endividamento, maior é a segurança.
Se você administra sua própria carteira, mas não é capaz de classificar ações de forma simples como acima, cuidado. Você pode estar comprando junk.
Segundo a MSCI, exemplo de empresas globais de elevada qualidade seriam: Apple, Microsoft, Meta, Nvidia, Johnson & Johnson, Taiwan Semiconductor, Unitedhealth Group e Visa. Exemplos de empresas brasileiras de qualidade seriam: Vale, B3, Ambev, Weg, Localiza, Itausa, Gerdau, BB Seguridade, Hapvida e Vibra.
É importante entender que classificação de qualidade de uma empresa se altera com o tempo. Assim, uma empresa classificada com elevado índice de qualidade hoje, pode não ser mais no próximo ano.
Perceba que um índice calculado com critérios simples que retratam a qualidade de uma empresa já é capaz de produzir um bom diferencial de retorno. Como mencionei ontem, existem estratégias de investimento em ações que superam a aplicação em índices como o Ibovespa.
Se você deseja investir diretamente em ações, deve se capacitar para construir critérios de classificação das empresas de forma a ter um portfólio mais eficiente e com qualidade.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor
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