O Ibovespa negocia hoje nos mesmos 111 mil pontos que negociava em novembro de 2019. Neste período de dois anos e meio, o principal índice de ações brasileiro só entregou ao investidor volatilidade, mas nada de retorno. Para quem esteve investido, parece que foi o maior intervalo de tempo em que o mercado não saiu do lugar. No entanto, já ocorreram pelo menos três outros prazos mais extensos em que o investidor não viu resultado algum, mas apenas oscilação.
Depois do artigo de ontem, recebi algumas mensagens questionando se a estratégia ideal seria a de investir em um ETF ou fundo passivo de Ibovespa e esquecer.
A história explica que a estratégia de comprar o Ibovespa e esquecer não é eficiente. Fabio Mota, gestor da DAO Capital explica que:
"...taxas de juros historicamente altas prejudicam o ambiente de negócios e, consequentemente, as ações das empresas. Por isso, é preciso saber selecionar ações de empresas mais rentáveis, menos endividadas, com maior crescimento de lucros e que, ao mesmo tempo, estejam baratas."
Ontem mencionei que o investidor de ações brasileiro deveria ter mentalidade de empresário e ser paciente, mas também deveria ser flexível, alterando a estratégia conforme o cenário.
Investir no índice Ibovespa e permanecer parado é uma estratégia perdedora no médio e no longo prazo, dado o custo de oportunidade da taxa de juros muito elevada. Apenas em curtos períodos esta estratégia se mostrou positiva em relação a de investir no CDI.
Na figura acima, apresento três exemplos em que, nos últimos 25 anos, o investidor viu sua aplicação encerrar no mesmo valor após 3 anos de investimento.
Lembro que o Ibovespa é um índice. Em índices, os dividendos são reinvestidos. Portanto, o gráfico apresenta o ganho referente à variação dos preços, com o ganho de dividendos inclusos.
No primeiro caso, o investidor que aplicou R$ 10 mil em junho de 1997, investiu no índice a 12,9 mil pontos. Em junho de 2003, o Ibovespa era negociado no mesmo valor. Isso quer dizer que depois de 6 anos, o investidor tinha o mesmo valor de R$ 10 mil. Durante todo esse período, o valor subiu, caiu, mas terminou no mesmo nível.
Imagino o quanto isso é frustrante. Mas, ainda não é o pior caso.
Considere um aplicador que investiu R$ 10 mil em maio de 2008. O Ibovespa naquele momento estava em 72,6 mil pontos. Primeiro, ele viu seu valor investido se desvalorizar 50% para apenas R$ 5 mil.
Dois anos depois, quando ele já estava próximo de recuperar o valor investido, o mercado começou a cair novamente. Mais de sete anos depois do investimento inicial, ele ainda tinha somente metade do valor aplicado, ou seja, R$ 5 mil.
Logo após, o Ibovespa começou a melhorar e seu valor investido superou R$ 16 mil. Entretanto, a alegria durou pouco, pois mais de nove anos depois de ter aplicado, o valor caiu novamente para os R$ 10 mil iniciais.
Qual investidor se recuperaria deste trauma? Você teria suportado alguma destas duas situações?
Por mais que este investidor tenha mentalidade de empresário, tenho dúvidas se ele voltaria a aplicar em qualquer ação. Possivelmente, este investidor saiu no meio do caminho com prejuízo. Mas qual foi o erro?
O erro foi a estratégia escolhida. A estratégia de comprar o Ibovespa e esquecer, provavelmente, vai fazer você lembrar que não deveria ter feito a seguido. O leitor José Padilha Neto já entendeu isso quando comentou ontem: "Investir em ações, para mim, não é investir no Ibovespa...".
Existem diversas estratégias melhores de investimento em ações. Também não basta escolher outra qualquer. É preciso alinhar a estratégia ao cenário econômico.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor
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