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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu juros Selic copom

Bolsa americana tem a maior alta mensal em 9 meses; veja se está na hora de aplicar

A alta das ações nos EUA depende de quatro fatores, mas os juros no Brasil também influenciam na decisão de investimento

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O mês de julho ainda não acabou, mas a bolsa de valores americana, medida pelo índice S&P 500, já se valoriza 4,7%, no mês até a última sexta-feira. Esta é a maior alta mensal desde outubro de 2021. Neste momento, investidores se questionam se o pior já passou.

A alta das ações nos EUA depende de quatro fatores, mas os juros no Brasil também influenciam na decisão de investimento. REUTERS/Brendan McDermid ORG XMIT: PPP - NYK502 - REUTERS

O S&P 500 acumula desvalorização de 16,9% neste ano de 2022. No pior momento do ano, a queda acumulada ultrapassou 23% de desvalorização. Muitos se perguntam se a bolsa americana teria atingido seu valor mínimo no mês passado e subiria a partir de agora.

A recuperação ocorrida neste mês, quando considerado o efeito do câmbio, animou ainda mais os investidores. A desvalorização do Real contribui positivamente no investimento internacional. Assim, a alta do índice americano foi de 9,5% em julho quando avaliado em Reais.

Para entender se o pior já passou e se estaria na hora de voltar a elevar a exposição ao mercado acionário americano é importante compreender o que levou o mercado a ter esse desempenho. Adicionalmente, se estes motivos podem ser revertidos no futuro próximo.

É possível elencar quatro motivos que levaram o mercado a ter o desempenho negativo no ano, mas há um vilão principal dentre eles.

Os quatro motivos estão interligados: inflação acima do esperado, elevação das taxas de juros nos EUA, desaceleração econômica e revisão dos lucros das empresas.

Conforme pode ser observado no gráfico abaixo, a inflação americana se encontra em seu maior patamar dos últimos 40 anos. Ela tem sido o principal vilão.

Esta inflação exige que o Federal Reserve (FED) tenha de elevar as taxas de juros. A elevação de taxas de juros deve resultar em uma desaceleração econômica. Por consequência desta última, os lucros das empresas devem cair.

Evolução do CPI, inflação ao consumidor americano, equivalente ao IPCA brasileiro
Evolução, nos últimos 40 anos, do CPI acumulado de 12 meses, inflação ao consumidor americano, equivalente ao IPCA brasileiro. - Bloomberg

As ações acompanham a evolução negativa esperada dos lucros. Adicionalmente, juros mais altos fazem com que os múltiplos, por exemplo, Preço/ Lucro justo das empresas seja menor. Portanto, pressionando os preços das ações ainda mais para baixo.

Sabendo os quatro motivos, agora é preciso entender quão rápido eles podem se dissipar.

Na pandemia, o mercado caiu de forma mais intensa e rápida que agora.

Talvez você não lembre, mas no primeiro semestre de 2020, o S&P 500 caiu apenas nos meses de fevereiro e março. Em velocidade similar à de queda, ele se recuperou rapidamente.

Essa rápida recuperação ocorreu, pois o remédio que o FED e o governo aplicaram na economia era doce. Ninguém se constrange em prescrever remédio doce em abundância. Foram distribuídas fortunas de dinheiro à população e as taxas de juros foram reduzidas a zero.

Agora é diferente. O remédio é amargo, pois deve ser feito exatamente o contrário.

Ninguém gosta de remédios amargos, tampouco qualquer político ou dirigente quer ser o aplicador deste.

No Brasil, estamos mais acostumados em lidar com inflação. O Banco Central brasileiro tem sido duro na luta contra a inflação e deve continuar elevando os juros.

Entretanto, a parcimônia do FED em subir os juros e reduzir a expansão monetária pode fazer com que a inflação caia lentamente.

Assim, os motivos que levaram o mercado a cair não devem se dissipar tão logo.

As valorizações ocorridas nos últimos anos na bolsa americana fizeram com que muitos reduzissem a percepção de risco sobre ela.

Warren Buffett argumenta, que no longo prazo, a bolsa americana é um dos melhores investimentos. No entanto, Buffett, não consegue investir no CDI como você.

Os elevados juros no Brasil pesam também na decisão de curto prazo, ou seja, até dois anos. Esse é um grande custo de oportunidade que reduz a vantagem de correr o risco de elevar a exposição em bolsa americana.

Realmente, o retorno da última década do S&P 500 foi muito atrativo. Nos últimos dez anos, a bolsa americana rendeu em Reais o equivalente a 21,9% ao ano. Mais que o dobro da valorização do CDI. O câmbio contribuiu com metade desta valorização.

Entretanto, a foto dos últimos 20 anos é diferente. Gráfico abaixo apresenta esta comparação nos 20 anos.

Evolução de R$10 mil aplicados no CDI e no S&P500 (em R$, ou seja, considerando o efeito positivo da desvalorização cambial) em 20 anos.
Evolução de R$10 mil aplicados no CDI e no S&P500 (em R$, ou seja, considerando o efeito positivo da desvalorização cambial) em 20 anos. - Michael Viriato

Considerando a desvalorização do Real, que favorece o investimento internacional, a bolsa americana se valorizou apenas 10,3% ao ano desde junho de 2002. Já o CDI rendeu o equivalente a 11,3% no mesmo período.

Logo, nos últimos 20 anos, não compensou correr o risco de investir no S&P 500.

Sabendo que a última década foi excelente, mas que o período de vinte anos frustrou, você consegue imaginar o desastre que foi a década entre 2002 e 2012?

Neste intervalo, o retorno médio anual do S&P 500 foi de, aproximadamente, zero. Para ser mais preciso, foi de -0,2% ao ano. Enquanto o CDI rendeu mais de 14% ao ano entre 2002 e 2012.

Portanto, neste momento, pensar em elevar a exposição à bolsa americana deve ser bem ponderado e seria mais adequado apenas aos investidores que aceitam risco e que possuem horizonte de investimento de longo prazo.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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