Frequentemente, recebo questionamentos de investidores sobre se devem montar um negócio ou comprar determinadas franquias. Durante a discussão, eles sempre me questionam se, alternativamente, seria melhor investir em ações na bolsa de valores. Muitos criticam essa comparação, mas ela merece atenção e deve fazer parte da discussão de todos, pois em ambos os casos você é o dono do negócio.
Empreender é o sonho de muitos. Também, é possível dizer que é o pesadelo de vários.
Há três fatores que são importantes na comparação: risco do negócio, retorno potencial e comprometimento.
Vamos começar com o risco.
Ter um negócio próprio é um sonho, pois quando temos a ideia, imaginamos e colocamos na planilha os números que desejamos que o negócio atinja. Usualmente, desconsideramos as dificuldades que ocorrem ao longo do caminho.
Apesar de ter caído, é de pleno conhecimento que a taxa de mortalidade de pequenas empresas é enorme. Segundo dados do Sebrae, cerca de 20%, ou seja, 1 em cada 5 pequenas empresas fecham as portas em 5 anos.
Esse é o número de empresas que encerram as operações no curto prazo.
Não diz sobre a magnitude das perdas que estes e os outros 80% eventualmente tiveram.
Fechar as portas pode significar você perder todo o capital e ainda ficar endividado.
Assim como, o fato de as outras 80% das empresas continuarem operando, não significa que estejam lucrando.
Essa introdução é importante para relativizar o risco com o investimento no mercado de ações.
As empresas que chegaram a emitir ações em bolsa são aquelas que venceram a arrebentação. Elas estão em outro estágio de maturidade.
Portanto, por mais volátil que o mercado financeiro pareça, os resultados destas empresas, na média, são muito mais estáveis que a média dos resultados de pequenas empresas.
Não confunda a volatilidade de preço das ações na bolsa com a estabilidade nos resultados. O fato da ação de uma empresa pequena de sua propriedade não ser negociada, dá uma falsa sensação de que ele possa ser menos arriscado, mas o risco se encontra na volatilidade da receita e lucro.
Nunca ninguém perdeu todo capital investido por aplicar em um índice de dividendos como o IDIV ou no próprio Ibovespa. Nenhum índice de ações vai a zero. No entanto, você pode perder tudo em um negócio próprio.
Logo, o risco das empresas listadas em bolsa é significativamente menor.
Você provavelmente já ouviu o ditado sobre retorno e risco: quanto maior o risco, maior o potencial de retorno.
Aqui não é diferente. Uma empresa pequena tem mais risco, mas, usualmente, possui maior potencial de retorno. Digo usualmente, pois nem sempre é verdade.
Há empresas no mercado que se você avaliar a relação entre retorno e risco, pode chegar à conclusão de que é melhor comprar suas ações em bolsa do que montar uma loja similar ou comprar uma franquia dela.
Assim, a decisão entre empreender ou investir em ações está também relacionada ao perfil de risco e objetivo de retorno que o investidor possui
Por último, há de se considerar o comprometimento.
No negócio próprio, você coloca seu tempo e esforço. Portanto, ele deve te remunerar por isso, ou seja, você também é um "empregado" de seu negócio e ganha o salário de CEO, ou pelo menos deveria.
Já quando decide por investir em ações, você não atua no negócio. Portanto, não tem nenhuma das dificuldades, preocupações e estresses naturais que qualquer empresário possui.
Funciona como se em seu negócio você contratasse um grupo de diretores que fizesse tudo. Obviamente, essa diretoria seria remunerada e essa remuneração reduziria seu ganho, mas te tira o trabalho.
Assim, enquanto no investimento em ações, não há comprometimento de seu trabalho, um negócio próprio exige sua atenção em tempo integral.
Portanto, a escolha depende de seu perfil de risco, demanda de retorno potencial e desejo de se comprometer.
Em qualquer caso escolhido, a avaliação do retorno deve ser sempre realizada em horizontes de investimento de mais de cinco anos.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor
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