É Logo Ali

Para quem gosta de caminhar, trilhar, escalaminhar e bater perna por aí

É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor

Evite os perrengues e sustos no turismo de natureza

Caminhar é democrático, mas riscos fazem parte; saiba como fugir de roubadas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sim, já dissemos aqui que caminhadas e trilhas são um ambiente democrático. Não, isso não quer dizer que vale tudo. Especialistas alertam para o fato de que alguns cuidados são essenciais para evitar roubadas como a do grupo guiado pelo coach messiânico Pablo Marçal, que levou um grupo ao topo do pico dos Marins em meio a uma tempestade, ou a tragédia que se abateu sobre os turistas que desfrutavam da vista do cânion no chamado Mar de Minas, em Capitólio (MG), matando dez pessoas.


E não, de novo, não são problemas iguais -mas ambos refletem uma situação maior de falta de fiscalização, informação e, bem, de um tal de bom senso.


Para o diretor-executivo da Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura), Luiz Del Vigna, um dos problemas do chamado turismo de natureza é a informalidade em todos os segmentos da economia, que nesse especificamente põe em risco vidas que poderiam ser poupadas.

Homem idoso olhando para cima, com pão de açúcar ao fundo
Luiz Del Vigna, diretor-executivo da Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura) - Divulgação

"Você tem um aumento significativo de pessoas não habilitadas, não autorizadas, nem formalizadas realizando passeios, não importa se é para falar com Deus, contemplar a paisagem ou ganhar dinheiro", ressalta. Hoje, a Abeta estima entre 1.500 e 2.000 o total de empresas formais em atividades ligadas à natureza. Mas a entidade reconhece que o número de iniciativas informais é muito maior. Qualquer um acha que bastam meia dúzia de passeios para guiar os outros. E é aí que a coisa fica feia.


"O fato é que estamos falando de deslocamento por um ambiente natural, uma área de conservação, que tem um regramento. E se a pessoa está ganhando dinheiro com aquilo, então aquilo é um negócio, é turismo, e tem que ter CNPJ, tem que seguir as normas —e elas existem", acrescenta.


Entre as normas, Del Vigna ressalta as leis federais como a Lei Geral do Turismo e o Código de Defesa do Consumidor, que obrigam as empresas de turismo de natureza a se adequarem às normas técnicas brasileiras. Só que isso não acontece. "E também não tem quem fiscalize", afirma.


O filão da atividade, aparentemente, é, grande. O diretor da Abeta estima que a procura por atividades na natureza tenha crescido de 7% a 10% ao ano nos últimos anos e, de forma ainda não contabilizada, "mas doidamente", nos tempos de pandemia.

Prática de caminhadas foi intensificada com a reabertura dos parques que haviam sido fechados para combater a pandemia de Covid-19. - Rubens Cavallari - 8.jul.20/Folhapress

Del Vigna garante, ainda, que não é por falta de acesso a informação de boas práticas que uma agência ou um guia vai deixar de saber o que pode ou não pode fazer. Só no site da Abeta, mediante rápido cadastro, estão disponíveis a qualquer um, gratuitamente, mais de 20 manuais detalhados que orientam as diversas atividades na natureza, os cuidados a observar e as medidas básicas de segurança.


E se a informalidade é grande, maior é a falta de infraestrutura de apoio ao usuário pelas trilhas do país. "Seria bom termos mais espaços com sinalização das trilhas, boa informação, e orientação, como nos parques de Itatiaia e da Serra dos Órgãos", diz Rafael Leal, 29, um dos membros do grupo "Respeite a montanha", que circulou nos últimos dias um manifesto criticando a ida do grupo messiânico ao pico do Marins e exigindo observação às regras do montanhismo.

Homem no alto de uma montanha, o pico do Sucuruiu, no norte de Minas Gerais
Montanhista Rafael Leal, membro do grupo "Respeite a montanha", no pico do Sucuruiu, no norte de Minas Gerais - Arquivo pessoal

"Achamos um absurdo, por exemplo, lugares como o pico dos Marins e a Serra Fina, que atraem tanta gente, não serem parques, não terem regulamentações estabelecidas e específicas que, para a prática do esporte, ajudam muito a evitar riscos tanto ambientais como de acidentes", afirma Leal, sociólogo que tem 8 anos de experiência em montanhas.

ALGUMAS DICAS PARA NÃO ENTRAR EM FRIA

Entre outros cuidados que são elencados para quem não quer virar notícia ruim depois de uma experiência na natureza, alguns são obrigatórios antes de arrumar a mochila:


  1. Procure conhecer o fornecedor do serviço. Peça referências, confira se está formalizada (qualquer buscador mostra o CNPJ da empresa, são só alguns segundos para digitar e descobrir o que usuários já disseram a respeito), procure relatos de quem já usou o serviço, de preferência alguém que você conheça.

  2. Peça ao fornecedor o termo de conhecimento de risco – não existe turismo na natureza com risco zero. De simples escorregões a pedras que caem e possíveis cabeças d’água, cada região tem sua dose de potenciais perrengues. Peça detalhes do nível de dificuldade técnica (que vai dar parâmetros para você saber se pode escalar o Aconcágua ou, no máximo, subir o Pico do Jaraguá).


  3. Esse detalhamento do risco está exigido pela norma técnica ABNT ISO 21.101 e é um direito do consumidor. Mas, atenção: termo de conhecimento de risco não é o mesmo que termo de isenção de responsabilidade, muito difundido por aí. Exija sempre o primeiro. O segundo só pretende livrar a cara do fornecedor em caso de algo dar ruim para você.
  4. A depender do perfil da empreitada, dê preferência a quem oferecer opção de seguro contra acidentes – muitos planos de saúde não garantem atendimento para o que chamam de atividades de alto risco, isso costuma constar dos contratos, e a interpretação das operadoras do que é alto risco é bem elástica.
  5. Exija, ainda, junto ao termo de conhecimento de risco, o plano de atendimento a emergências. Se acidentes e imprevistos podem acontecer, o fornecedor tem que estar preparado para explicar qual é e como é acessada sua retaguarda de apoio em caso de urgência, emergência ou mesmo se o cliente precisar ou quiser desistir no meio do passeio. Não é raro um usuário que não foi devidamente orientado na demanda técnica real da jornada descobrir no meio do caminho que não dá conta de chegar ao destino. Saber o que o fornecedor fará em um caso desses, acredite, faz toda a diferença.
Erramos: o texto foi alterado

Em versão anterior deste texto, legenda da foto dizia que Luiz ​Del Vigna é presidente da Abeta; ele é diretor-executivo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.