Se alguém quiser testar seus limites na cidade de São Paulo antes de se arriscar numa aventura rural, o Parque Estadual do Jaraguá é uma ótima pedida. Localizado a 23 quilômetros da Praça da Sé, centro da capital paulista, no bairro de Vila Chica Luiza, a poucos metros de uma aldeia indígena guarani, é servido por várias linhas de ônibus e a entrada é gratuita. E melhor: oferece uma infraestrutura de serviços bem razoável para o visitante, de bebedouros a banheiros, passando por barraquinhas de açaí, sorvete e água de coco na base do pico do Jaraguá, de 1.135 metros de altitude. Seja o leitor um canário de apartamento ou trilheiro raiz, um estímulo e tanto, vai.
O nome Jaraguá vem do tupi e significa "Senhor dos vales". E é todo o vale ao redor que se vê lá do alto, aos pés de duas antenas, compartilhadas pelas TVs Globo, Bandeirantes e Cultura. Dá até para subir ao pé das antenas, instaladas exatamente no pico, ponto oficialmente mais alto da cidade de São Paulo, mas sempre é bom avisar que a escadaria tem 242 degraus de concreto, sem sombra. No verão, um sol de rachar. No inverno, um vento de respeito. Vai encarar? Vale a tentativa.
Mas o mais charmoso do parque são suas trilhas, com diferentes graus de dificuldade. Com 491,98 hectares de área de preservação ambiental, é considerado desde 1994 Patrimônio da Humanidade pela Unesco por abrigar uma das últimas áreas de mata atlântica na região metropolitana. É frequente cruzar com quatis que passeiam tranquilamente pelos caminhos, alheios aos passantes e até posando para fotos, disputando os flashes com macacos-prego e tucanos. Mas, atenção: nada de alimentar os animais! E, por favor, segurem as crianças e adultos desavisados: tentar "fazer um carinho" num animal selvagem pode acabar no pronto-socorro.
Voltemos às trilhas.
A mais concorrida, a Trilha do Pai Zé, é também classificada como a mais difícil. Com 3.600 metros de terreno irregular e íngreme, bem escorregadio depois de dias chuvosos, recebeu 500.030 visitantes em 2019, última estatística disponível antes do fim do mundo, digo, da pandemia do novo coronavírus, que fechou o parque ao público meses a fio. Apesar de exigir bastante das pernas e, em alguns casos, das mãos como apoio extra para evitar tombos (um bastão de caminhada é uma excelente ajuda em alguns trechos), é um caminho que segue praticamente todo à sombra da floresta densa e fresca. Para quem perder o fôlego, pedras não faltam pelo caminho para fazer uma pausa. Ah, e é de bom tom dar bom dia e boa tarde aos que cruzam nosso caminho. Mesmo que às vezes a falta de ar faça o cumprimento soar mais como um resmungo. Todos entendem, ligue não.
Mais facinhas são a Trilha do Silêncio, com pouco menos de 2 quilômetros e de pouca inclinação, e a Trilha da Bica, classificada como de dificuldade moderada, e que leva, como o nome indica, a uma bica de água fresquinha. Para quem vai de bicicleta, carro, ou não quer saber de sufoco, a Estrada Turística do Jaraguá oferece cerca de 4,6 quilômetros de asfalto até a base do pico. Ou seja: tem opção de passeio para todo perfil de visitante.
"Nosso principal diferencial é a oportunidade de contato direto com a flora e fauna, o PE Jaraguá é um importante espaço para contemplação da natureza e uma excelente área para caminhada, prática de ciclismo e corrida", diz Gustavo Lopes do Espírito Santo, gestor da unidade. Por nada, não, mas ele tem toda a razão. Quem vamos?
Serviço
Horário de funcionamento: das 7h às 17h, de terça a domingo
Ingressos: entrada gratuita
Endereço - Rua Antônio Cardoso Nogueira, 539 , Vila Chica Luiza, São Paulo
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