Para quem gosta de bater perna pela cidade de São Paulo, uma nova alternativa vai tomando forma ao lado da marginal de Pinheiros: o Parque Linear Bruno Covas. Por enquanto, apenas 8,2 quilômetros estão razoavelmente estruturados, dos pouco mais de 17 quilômetros que serão abertos no final da implantação do projeto orçado em R$ 58 milhões. Mas já é possível desfrutar razoavelmente tanto da ciclovia quanto da pista para caminhada e corrida que a margeia na maior parte de sua extensão, esta coberta de cascalho.
Na última terça-feira (28), o blog foi até o parque conferir o anúncio da abertura do Mirante e da Passarela Flutuante, bem como as estruturas (quiosques, estação de ginásticas e play ground) já montadas no local. A Passarela, que liga as ciclovias das duas margens, estava lá, mas a seção central ainda não foi colocada, impedindo o cruzamento, que tem previsão de funcionar para valer a partir de 15 de julho próximo. Já o Mirante estava disponível, e convidativo para uma foto com a ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira compondo a paisagem. Coisa digna de muitos likes em redes sociais, com certeza.
A convivência entre ciclistas e caminhantes ou corredores, em um dia de semana, até que é tranquila. Mas ela pode ser dificultada em fins de semana, quando a afluência de público é maior e as passagens por trechos mais estreitos de ambas trilhas se cruzam ou sobrepõem —como ao lado da usina da Traição, da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE). Todo cuidado é pouco, portanto, até porque, embora a cada poucos metros haja uma placa ostensivamente alertando para a velocidade máxima de 20 km/h na ciclovia, nem sempre o limite é levado muito a sério.
De três instalações de banheiros já montadas no trecho percorrido, apenas uma podia ser utilizada, a 2,5 quilômetros do acesso da ponte Laguna, por onde entramos, e a quase 6 quilômetros da saída mais próxima, na altura da ponte Cidade Jardim. Os outros dois postos nesse trecho estavam inoperantes, assim como os bebedouros. Mas a assessoria explicou que tanto esses serviços como os Centros de Convivência e apoio estarão plenamente disponíveis a partir desta sexta-feira (1).
Como chega lá?
A questão dos acessos ainda é um problema para quem vai correr ou caminhar, e mais ainda para quem quiser levar crianças para desfrutarem do Espaço Kids e do Espaço Zen já implantados —mas que ficam a distância considerável das entradas disponíveis. Atualmente, a área oficialmente liberada do parque só é acessada ou pela ponte Laguna ou pela ponte Cidade Jardim. Outra ponte metálica está sendo finalizada e vai permitir o acesso à administração do Parque Global, na margem oeste da pista, sobre a marginal, também a partir de 15 de julho, segundo a assessoria.
"A primeira vez que fui correr no parque, foi justamente para conhecer algo longe de minha casa, no Alto de Pinheiros", conta o assistente jurídico e estudante de Direito Roberto Carreira, 43, "paulistano da Mooca", que costuma caminhar e correr todos os dias antes das 6h. "Senti falta de mais acessos, e da infraestrutura de bebedouros e banheiros, porque quem vai percorrer quase 9 quilômetros, se não levar água, fica sem opção e não tem saídas no percurso", continua. Mas ele elogia a presença de policiamento nos acessos, "que dá uma boa sensação de segurança" e, principalmente, a visão alternativa da cidade: "É um parque sensacional, porque além de ser amigável por não ter subidas ou descidas agressivas, ainda mostra um lado da cidade que não vemos normalmente", garante.
Essa visão alternativa é justamente o que destaca o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado de São Paulo, Fernando Chucre como grande diferencial do Bruno Covas. "Vamos ter ainda vários acessos, mas a infraestrutura ainda está em implantação e vai sendo oferecida ao público por fases", explica. Ele ressalta que o conceito de parques lineares "é uma grande oportunidade que oferecemos de trazer a população de volta às margens de seus rios, em paralelo com o processo de despoluição do rio Pinheiros".
Ah, sim, não é pouca coisa poder afirmar: em plena manhã de sol, o rio não cheirava mal. Não que chegasse a parecer assim um Tâmisa, o rio que corta Londres e que teve a qualidade de sua recuperação certificada em 2021, com a constatação de que cerca de 115 espécies de peixes, incluindo enguias, tubarões e até focas já se esbaldam em suas águas geladas. Mas, a julgar pelas garças e quero-queros que flanavam ao sol pelas margens, talvez o paulistano possa ter esperança de, finalmente, respirar aliviado à beira de suas tão maltratadas águas, das quais, desde 2019, o projeto Novo Rio Pinheiros informa já ter retirado mais de 71,1 mil toneladas de lixo e 732 mil metros cúbicos de sedimentos do fundo do rio. A cidade, penhorada, agradece —e torce para que venha mais e melhor.
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