É uma honra imensa encerrar este projeto tão lindo que eu e a Pat pensamos juntas para este último mês com Conceição Evaristo, uma das mais importantes escritoras brasileiras. Mineira de Belo Horizonte, sempre envolvida com Educação, Doutora em Literatura Comparada, Conceição Evaristo representa em sua literatura a dor da mulher negra, jogando luz sobre os problemas da nossa sociedade. Difícil escolher imagens que dialoguem com ela, mas a tarefa precisava ser seguida e escolhi a artista japonesa Minako Shirakura, que explora em médias e grandes instalações, a delicadeza e as diferentes formas dos objetos, pensando o mundo como uma intrincada teia de aranha. A escrita de Evaristo é baseada na escrevivência - aquilo que vem da experiência, da vivência, da memória, da história e individual e coletiva das mulheres pretas - termo cunhado por Conceição para dar conta da particularidade e universalidade de seus escritos, que têm sua origem nas histórias orais, passadas de uma mulher para outra. Escreve romances, poemas, ensaios e contos, que sempre trazem perguntas fundamentais e respostas duras e complexas. Shirakura, em sua obra "Corresponence", usa lascas de espelho e vidro coletados em lojas de molduras e ferragens e seu efeito é totalmente atravessado pelo ambiente. Seus silêncios e brilhos respondem ao ar e ao sol, tornando-se efêmeras. Mesmo geograficamente e temporalmente distantes, os espelhos de Minako potencializam a luz sobre os problemas, devaneios e reflexões de Conceição.
Por Conceição Evaristo
Vaga-lumes, estrelas terrenas, brilham na noite. Nas matas vagas da intromissão humana, pirilampiando cumprem o claro destino. Incendeiam o negrume do tempo. Quanto mais é a virgem escuridão
dos matagais, igualmente o lampejar se faz intenso.
Sonho vaga-lumes na falsa claridade das lâmpadas da urbe. Olhos
humanos apagados para o natural suportarão tanta luz, tanto brilho,
tanto fulgor?
Talvez, não. Temos a íris machucada pelo cintilar das telas. Brilhos falsos, noites e dias, deslocam as nossas retinas. Não suportamos a luminescência dos vaga-lumes, por isso, alguns resolveram decretar a
morte do reluzente inseto. Matam-se as matas. Humanos tememqualquer ser que tenha luz própria.
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