Frederico Vasconcelos

Interesse Público

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Descrição de chapéu Folhajus

Eduardo Bolsonaro vai a evento de tribunal de Minas Gerais

Deputado federal foi único parlamentar no ato que não pertence à bancada mineira

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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) estava na inauguração do escritório de representação do Tribunal de Justiça de Minas Gerais em Brasília, no último dia 15.

Sua participação reforçou a impressão de que a iniciativa do tribunal foi um ato político ao criar um espaço para o exercício do lobby na capital federal.

Dos parlamentares presentes à cerimônia, segundo a lista oficial, Bolsonaro era o único que não pertencia à bancada mineira.

Bolsonaro atribuiu sua presença no evento a uma retribuição ao presidente da corte, desembargador Gilson Lemes.

"É sempre bom ver o Poder Judiciário se aproximando de Brasília." (...) "Viemos, com satisfação, prestigiar a solenidade e reencontrar o presidente Gilson Lemes, que me recebeu tão bem em Minas Gerais", afirmou o deputado a um boletim informativo do TJ-MG.

Deputado federal Eduardo Bolsonaro, na cerimônia de inauguração do escritório de representação do Tribunal de Minas Gerais em Brasília. No destaque, o deputado e o juiz federal Eduardo Cubas questionam as urnas eletrônicas diante do Tribunal Superior Eleitoral. Abaixo, o parlamentar com chapéu da campanha eleitoral de Donald Trump, nos EUA
Deputado federal Eduardo Bolsonaro, na cerimônia de inauguração do escritório de representação do Tribunal de Minas Gerais em Brasília. No destaque, o deputado e o juiz federal Eduardo Cubas questionam as urnas eletrônicas diante do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Abaixo, o parlamentar com chapéu da campanha eleitoral de Donald Trump, nos EUA. - TJ-MG e Reprodução

Em pelo menos dois episódios envolvendo o Judiciário a atuação de Eduardo Bolsonaro gerou polêmicas.

Em 2018, o deputado do PSL e o juiz federal Eduardo Cubas, de Goiás, filmaram um vídeo, em frente ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), questionando a segurança e a credibilidade das urnas eletrônicas.

O juiz Cubas foi acusado de pretender tumultuar as eleições.

Na época, Eduardo Bolsonaro afirmou que "bastam um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal". Foi acusado de incitar as Forças Armadas à animosidade contra instituições civis.

Eduardo Bolsonaro participou de turnê nos Estados Unidos e se encontrou com o ex-presidente Donald Trump. Esteve em eventos com apoiadores do candidato derrotado, sustentando a tese de que Trump foi o vencedor da disputa com Joe Biden.

Em janeiro de 2021, esses atos do deputado refletiam declarações do presidente Jair Bolsonaro, seu pai, que sugeriam uma dissimulada ameaça: "Se tivermos voto eletrônico" em 2022, "vai ser a mesma coisa", ou "vamos ter problema pior que nos Estados Unidos".

Interesses outros

Durante a inauguração, o presidente Gilson Lemes disse que o tribunal "se sente engrandecido pela presença de tantas autoridades que decidem o destino das pessoas e do Brasil, no momento de prestigiar essa instalação do Escritório do TJ-MG em Brasília".

Estavam presentes ao ato 30 desembargadores, juízes, servidores, políticos, membros da OAB, das polícias Militar e Civil, do Exército e da maçonaria.

À noite, o TJ-MG e a Amagis (Associação dos Magistrados Mineiros) fecharam o restaurante Lago, localizado no Lago Sul, em Brasília, para um "jantar de confraternização da inauguração do escritório".

São fortes as evidências de que a inauguração do escritório atende a outros interesses, além da representação administrativa do tribunal.

"A bancada mineira não abre mão de ter no Escritório de Representação do TJ-MG um apoio técnico, uma convivência fraterna, uma presença diária na construção das pautas que interessam a Minas Gerais e ao Brasil", disse o deputado federal Diego Andrade (PSD-MG).

Além de Andrade, participaram da inauguração os seguintes parlamentares mineiros:

Senador Carlos Viana (MDB-MG), representando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD); deputados federais Hercílio Coelho Diniz (MDB-MG); Eros Ferreira Biondini (PROS-MG); Fábio Ramalho (MDB-MG); Igor Tarciano Timo (PODE-MG); Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG); Mauro Ribeiro Lopes (MDB) e Wellington Prado (PROS-MG). Também esteve presente o deputado estadual Bruno Engler (PRTB).

São inconsistentes os argumentos para justificar a criação do escritório do TJ-MG em Brasília.

Opositores de Lemes atribuem a inauguração a um projeto pessoal do presidente, em final de mandato, para tentar obter a indicação para um cargo em tribunal superior. A conferir.

Eis como Gilson Lemes explica a iniciativa:

"Estaremos fisicamente mais próximos dos Tribunais Superiores, o que nos proporcionará um acompanhamento mais diuturno da fixação de teses jurídicas, medida imprescindível para a pacificação de inúmeras controvérsias, de maneira a oferecer mais segurança jurídica para nossas decisões".

O ministro mineiro João Otávio de Noronha, ex-presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), diz que "os tribunais de justiça precisam de um canal na capital do País".

Este blog consultou 16 tribunais (14 estaduais e 2 regionais federais). Nenhum criou canal semelhante.

Segundo Noronha, a inauguração "abre um elo de comunicação e diálogo do Tribunal e dos órgãos constituídos em Brasília e é motivo de orgulho e esperança".

Para ele, "é importante um espaço no qual os magistrados possam trabalhar, se reunir, preparar e planejar ações de âmbito nacional e de questões da Justiça mineira em interlocução com o Judiciário nacional".

Espaços ociosos

O governador mineiro Romeu Zema (Novo) diz que "esse espaço vai significar mais agilidade e maior acesso às instâncias superiores" (...) "muitos assuntos que hoje talvez demandem meses para serem solucionados, poderão ser resolvidos em dias".

Para manter esse espaço, o TJ-MG pagará aluguel de R$ 607 mil (em cinco anos) à CNC (Confederação Nacional do Comércio). A locadora (CNC) foi representada por uma imobiliária que faz gestão patrimonial para corporações em Brasília .

O Estado de Minas Gerais poderia ceder espaço ocioso nos dois andares que possui no Edifício JK, em Brasília, pois muitos servidores foram dispensados ou devolvidos a BH. Esse imóvel fica próximo ao Edifício CNC, onde funcionará o escritório do tribunal mineiro, no Setor Bancário Norte.

No dia da inauguração, o presidente do TRE-MG, desembargador Marcos Lincoln, que visitara as instalações na véspera, afirmou o seguinte:

"Nesta manhã, já participei, remotamente, de uma sessão de julgamento da 11ª Câmara Cível, o que foi possível graças a esta estrutura." (...) "Acredito que [o escritório] será de enorme valia e importância para o Tribunal e para órgãos parceiros, como a Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), que poderão compartilhar deste espaço."

O presidente do TRE-MG pode participar de sessão remota de julgamento no próprio tribunal, em Belo Horizonte, ou em casa.

Antonio Anastasia, ministro do TCU, disse que o escritório poderá levar "rapidamente" um memorial aos tribunais superiores. (...) "Existem os meios virtuais, é claro, mas eles não substituem o olho no olho, a presença física para ter aquela palavra pessoal, que é decisiva."

Os chamados embargos auriculares que Anastasia sugere são práticas de advogados. Quem representa os tribunais estaduais nas cortes superiores são as Procuradorias dos Estados.

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