Hector tem 7 anos e é fã de churrasco. O menino, que mora com sua família em Arroio Grande, no Rio Grande do Sul, não comia carne vermelha desde o último Natal — o item é um dos mais atingidos pela alta inflação que dificulta o consumo de alimentos e bebidas por milhões de brasileiros. Decidiu pedir ao Papai Noel que os presenteasse com o alimento para celebrar o próximo dia 25.
Ao ver a cartinha, a mãe Patrícia Fros de Braz, 35, ficou emocionada e publicou uma foto nas redes sociais. O caso viralizou após ser mostrado em reportagem da revista Crescer e também por outros veículos.
Ao blog #Hashtag, Patrícia conta que a repercussão, inesperada, foi positiva para sua família. "Nosso natal vai ser gigante!", comemora. Ela também é mãe de Rosiane, 19, de Mariana, 9, e de Oliver, que tem menos de um ano.
Ao saber da história, muitas pessoas de Arroio Grande e de outros lugares enviaram mensagens e se mobilizaram para colaborar com o desfecho feliz. "Não sei como, mas descobriram onde moramos, enviaram carnes e outras comidas", conta. Além disso, também têm recebido doações via Pix. "Estamos muito felizes, alguns dizem ‘eu tenho pouco’, mas para nós é muito e está fazendo toda a diferença", relata a mãe.
A mãe conta ainda que Hector fica "faceiro" com as mensagens e doações que a família vem recebendo. Além de garantir a carne no Natal, a família tem recebido mensagens sobre roupas para as crianças. E o Papai Noel está enviando até uma bicicleta do Canadá. "Ele fica numa alegria! Nem sei explicar: ele sente, nós sentimos também". A família já conseguiu realizar o desejo de Hector, que comeu carne após doações —inclusive um churrasco.
Patrícia vê o momento com esperança. Agora, deseja que surjam oportunidades de emprego para seu marido. Antes da pandemia, ela e Leandro Alves de Medeiros, 27, eram lenhadores. Desde o surgimento da Covid-19, houve redução no comércio local de lenha e o casal ficou sem emprego. Ao mesmo tempo, Patrícia engravidou de Oliver, e está lidando com uma hérnia umbilical, o que, atualmente, a impede de fazer esforços.
Ela precisa de cirurgia, mas os hospitais não estavam realizando o procedimento devido à pandemia. "Dói muito, mas vou tentar fazer depois que Oliver começar a caminhar", pondera, devido à necessidade de colo natural do bebê. Atualmente, a família vive com o dinheiro arrecadado por sua filha mais velha, Rosiane, e por meio de bicos, como a limpeza de pátios, feitos por Leandro.
Na internet
A repercussão nas redes sociais teve um impacto positivo para a família de Hector, mobilizando interessados em ajudá-los, mas também serviu para fomentar o debate sobre a fome e a desigualdade no Brasil. Comentários lamentando o cenário do país, críticas ao atual governo e comparações com o contexto da fome durante mandatos de partidos anteriores se destacaram entre as publicações.
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