O presidente Jair Bolsonaro (PL) encontrou-se, na manhã desta quarta-feira (29), com o jornalista norte-americano Tucker Carlson, apresentador líder de audiência da TV a cabo nos EUA e notório porta-voz de ideias conservadoras, quando não de teorias conspiratórias.

Apontado pelo site Mediate como o jornalista americano mais influente de 2021, o âncora é, por exemplo, um dos grandes propagadores da teoria racista da "grande substituição". Segundo a conspiração, a entrada de imigrantes nos EUA faria parte de um plano democrata para tornar o eleitorado branco uma minoria no país e, assim, diminuir as chances do Partido Republicano vencer eleições.

A foto ao lado de Bolsonaro, publicada por Carlson em suas redes sociais, chamou atenção de alguns usuários. Não necessariamente pelo encontro (antecipado e celebrado por bolsonaristas), mas pelas camadas simbólicas no clique.

Segundo a série de reportagens do The New York Times, "Nacionalista Americano", Carlson construiu "talvez o programa mais racista da história da TV a cabo" nos EUA e, também, "o mais bem-sucedido".

Durante os protestos após o assassinato de George Floyd, que catalisou manifestações antirracistas em todo o mundo, Carlson taxou o movimento Black Lives Matter como uma "turba criminosa". Tornou-se também, um fervoroso apoiador da invasão do Capitólio americano, deflagrada em 2021 por apoiadores de Donald Trump. Para ele, a presença de supremacistas brancos no movimento, ora alvo de uma comissão parlamentar, "mal vale uma nota de rodapé".

Carlson está no Brasil para investigar "a crescente influência da China" no país, de acordo com o site O Antagonista. Os ataques ao país asiático, um dos mais importantes parceiros comerciais do Brasil, foram frequentes ao longo da gestão bolsonarista, liderados tanto por ministros, como Abraham Weintraub e o ex-chanceler Ernesto Araújo, quanto pelo próprio presidente.

Bolsonaro também publicou em suas redes imagens do encontro com Carlson.

Segundo o mandatário, ele usou o encontro para mostrar "ao mundo a verdade sobre o Brasil, sobre o nosso governo" e, em referência ao versículo bíblico que usa como slogan, disse ter "certeza que mais uma vez a verdade irá nos libertar".

Fosse o Brasil um filme, apontou o ilustrador Cristiano Siqueira, a foto de Bolsonaro com Carlson seria uma cena repleta de "easter eggs" (ovos de páscoa, em tradução literal), como são chamadas as pequenas referências a um universo que só podem ser compreendidas de todo por bons conhecedores. Por exemplo, quando a Pixar inclui um boneco de "Toy Story" em um filme que não integra a franquia.

Internautas começaram a apontar essas referências e relacionaram detalhes das fotos às últimas notícias no Brasil, como o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari, as acusações de assédio contra Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, a violência policial e as declarações racistas de Nelson Piquet contra Lewis Hamilton.

Se por uma lado a "semiótica" do "puro suco de Brasil" despertou a reação de alguns, bolsonaristas compartilham a foto como uma conquista do presidente brasileiro. Filipe Martins, assessor especial de assuntos internacionais de Bolsonaro, classificou como "histórica" a entrevista com o jornalista americano.

Ecoando o discurso do presidente, seus apoiadores enxergam no encontro um momento para que "a verdade" sobre o Brasil seja revelada "ao mundo".