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'Bolsonarismo é maior do que Bolsonaro', diz antropóloga após discussão sobre termo viralizar nas redes

Segundo especialista, fenômeno tem características próprias que vão além do conservadorismo

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São Paulo

Diante da vitória de diversos candidatos bolsonaristas nas eleições deste domingo (2), surgiu o debate nas redes sociais se faz sentido usar o termo "bolsonarismo", referindo-se a um fenômeno político com caraterísticas próprias.

Alguns internautas e especialistas afirmaram que o correto seria utilizar outras terminologias.

Há aqueles também que reforçaram o uso do termo.

A antropóloga Isabela Kalil considera que o bolsonarismo de fato se destaca como um fenômeno político, social e cultural próprio. "Esse fenômeno, a meu ver, não pode ser só chamado de conservadorismo. Porque, com o Bolsonaro, a gente tem uma nova combinação, e ela é original", diz ela, que é coordenadora do curso de sociologia e política da Fesp-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).

"A gente já tinha conservadorismo religioso antes, mas ele não estava combinado com, por exemplo, a questão armamentista ou com a pauta dos militares", continua.

A professora também afirma que o bolsonarismo deu contornos próprios à direita mais radical. "O Bolsonaro não inventou a extrema direita, mas ele foi hábil em pasteurizar a agenda desse campo político e torná-la palatável para um público mais amplo."

Kalil explica ainda que dá o nome de bolsonarismo a esse fenômeno, porque entende que ele não é passageiro. Na visão da antropóloga, esse é um processo que começou no início da década de 2010, quando o então deputado Jair Bolsonaro passou a dar entrevistas em programas de televisão, e não vai se encerrar caso o presidente não seja reeleito.

Como exemplo, ela menciona o trumpismo nos Estados Unidos, que ainda permanece forte mesmo com a derrota de Donald Trump nas urnas.

A especialista ressalta o número de pessoas que usam o nome de Bolsonaro para conquistarem seu espaço na política. "Bolsonaro não é só o Jair, mas uma organização familiar. Tem a ver com os seus três filhos, outros familiares e pessoas que não são da família mas usam esse nome. Então, não estamos falando de uma pessoa, mas de um conjunto de pessoas."

Além disso, Kalil defende a ideia de que há um processo de "bolsonarização da política". "A questão é que hoje a gente não faz mais política da forma como fazia há alguns anos. E foi a participação de Bolsonaro no debate público que mudou isso", diz.

Assim, a antropóloga afirma que, mesmo políticos que não estão diretamente ligados a Bolsonaro, passaram a fazer uso do mesmo vocabulário que o utilizado pelo presidente, manifestando-se, por exemplo, a favor da família tradicional e contra à "ideologia de gênero". Essas pessoas, segundo ela, também começaram a reproduzir a forma de Bolsonaro fazer política, criando polêmicas e atacando os adversários.

Para Kalil, a eleição expressiva de ex-ministros de Bolsonaro ao Senado, caso de Damares Alves (Republicanos) e Marcos Pontes (PL), é uma evidência de que "o bolsonarismo é maior que o Bolsonaro". De acordo com a professora, uma parcela importante da população tem a ânsia de que esse projeto que combina elementos religiosos e militares se concretize no país —com ou sem Bolsonaro na presidência.

O cientista político Rafael Cortez também considera que bolsonarismo é um termo que designa um movimento com características próprias. "O presidente Bolsonaro e seu núcleo político organizaram certos conflitos no âmbito da sociedade e os trouxeram para a arena política", diz ele, que é sócio da Tendências Consultoria e professor do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa).

"Se é verdade que existe uma base social importante, também é verdade que existe uma construção dessa base social pela política. O bolsonarismo consegue combinar a defesa da liberdade com o armamento. Tem um discurso restaurador da política, mas ao mesmo tempo se alia ao centrão. Consegue associar fé religiosa com acesso a armas", completa.

Cortez afirma que um dos principais elementos que explicam o bom desempenho do bolsonarismo nas urnas neste ano é o governismo. Mas ele também ressalta a capacidade que nomes ligados ao movimento têm de disseminar as mensagens produzidas pelo núcleo bolsonarista.

O cientista político dá como exemplo a reeleição de Carla Zambelli (PL), que foi a segunda deputada federal mais votada de São Paulo, com mais de 900 mil votos. "Ela não tem propriamente uma ação em termos política pública, não importa qual seja o setor. Ela obteve sucesso sendo uma interlocutora entre a mensagem bolsonarista e o eleitor."

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