Desde a noite desta segunda (9), circula nas redes sociais uma falsa nota de falecimento de "uma senhora de 77 anos" no ginásio da Academia Nacional da Polícia Federal, em Brasília, para onde manifestantes radicais foram encaminhados.
Sem revelar a identidade da suposta vítima, a publicação afirma que ela teria morrido de sede. Uma foto de uma mulher idosa, retirada do banco de imagens Pexels, acompanha o texto, que também chama o ginásio de "campo de concentração".
Os golpistas foram levados em dezenas de ônibus até a Academia Nacional da Polícia Federal depois que a PM do Distrito Federal e a Polícia do Exército conduziram o esvaziamento da área do quartel-general do Exército em Brasília, cumprindo determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo o Ministério da Justiça, cerca de 1.200 pessoas foram detidas.
Na sua conta no Twitter, a Polícia Federal esclareceu que a informação sobre a morte de uma mulher idosa nas dependências da corporação é falsa.
O autor da imagem divulgada na publicação é o fotógrafo Edu Carvalho, de Campinas (SP). Ele conta que quem está na foto é Deolinda Tempesta Ferracini, avó de sua esposa, Juliana Cuchi Oliveira.
Deolinda morreu aos 80 anos, há exatamente três meses, no dia 10 de outubro de 2022, depois de passar alguns dias internada na UTI da Santa Casa de Vinhedo (SP) em decorrência de um AVC (acidente vascular cerebral).
"Eu chorei a morte dela. Carreguei o caixão no enterro dela. Foi bem impactante ver isso na internet. Minha esposa ficou superchateada e toda família também ficou", afirma o fotógrafo, que foi acordado pela manhã com uma enxurrada de mensagens sobre a notícia falsa.
Fazer um ensaio fotográfico de Deolinda, em 2018, foi ideia de Edu. "Ela era muito espontânea, bem para frente, bem alegre mesmo", conta. Em seguida, ele disponibilizou as fotos na plataforma Pexels, que é um banco de imagens gratuito.
Segundo ele, há mais de 27 mil sites pelo mundo que já utilizaram as fotos de Deolinda —em geral, para campanhas de vacinação e textos sobre saúde na terceira idade.
Esta é a segunda vez que fazem uso indevido das imagens, diz o fotógrafo. Em 2020, estamparam uma foto de Deolinda em um totem, em São Paulo, que homenageava as pessoas que haviam morrido de Covid. "Agora, usaram de forma indevida novamente, associada a uma fake news."
Em uma mensagem, Juliana Cuchi Oliveira, neta de Deolinda, lamentou o episódio. "Me senti impotente, a internet tem uma força absurda tanto para o bem quanto para o mal. Estamos tentando ao máximo avisar as pessoas, mas muitas desacreditam e ainda pedem para provar. Isso dói muito e só vai saber quem estiver na pele um dia. Que isso acabe logo", escreveu.
Além do uso indevido da foto do banco de imagens, também chamou a atenção a tradução incorreta da notícia falsa. "Nota de falecimento" virou "death note" e "campo de concentração", "concentration championship".
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