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'Todos, todas e todes': uso de linguagem neutra por novo governo gera debate nas redes

Usar expressão gera inclusão e não fere a língua portuguesa, afirma especialista

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Brasília

O uso da linguagem neutra por integrantes do novo governo tem gerado elogios e críticas nas redes sociais. Em várias cerimônias de posse de ministros, foi usada a palavra "todes", que contempla as pessoas que não se identificam nem com o gênero feminino nem com o masculino. O termo tem mais de 30 mil menções no Twitter até a manhã desta sexta (6).

Na última segunda-feira (2), o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, iniciou seu primeiro discurso com "boa tarde a todas, a todos e a todes" e foi aplaudido pela plateia. A expressão também foi utilizada pela locutora do evento que empossou Fernando Haddad como ministro da Fazenda.

Fernando Haddad é um homem branco de meia idade e veste terno e gravata. Ele discursa ao microfone com a mão esquerda erguida
Haddad discursa em sua cerimônia de posse como ministro da Fazenda, em Brasília - Gabriela Biló /Folhapress

O mesmo ocorreu nas cerimônias de posse dos ministros dos Direitos Humanos, Silvio Almeida; das Mulheres, Cida Gonçalves; e da Cultura, Margareth Menezes. Neste último evento, a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, também usou a expressão e deu "boa noite a todos, todas e todes".

Nas redes sociais, muitos internautas celebraram o caráter inclusivo das falas no novo governo.

"É uma tentativa do governo de olhar para pessoas que historicamente no nosso país foram abandonadas, isso quando elas não foram alvo de alguma política que deliberadamente retirava direito direitos delas", afirma a professora Vivian Bernardo, mestre em linguística pela USP (Universidade de São Paulo).

"Isso é algo que a gente não vai verificar única e exclusivamente na linguagem, mas a linguagem é uma forma de a gente ver esse movimento de cuidado, de preocupação", completa.

Na língua portuguesa, a palavra "todos" (portanto, no masculino) é usada para se referir a grupos mistos, compostos de homens e mulheres. E isso, muitas vezes, gera incômodo em pessoas que lutam por igualdade de gênero e/ou buscam dar visibilidade a uma parcela da população que não se identifica nem como homem nem como mulher —ou não só como homem ou não só como mulher.

A linguagem não binária, que também é chamada de neutra, foi muito atacada pela gestão de Jair Bolsonaro (PL). Ao ser exonerado pelo governo Lula, o ex-presidente da Biblioteca Nacional, Luiz Ramiro, criticou o uso desse recurso nas cerimônias de posse dos novos ministros.

"Quando este governo de esquerda adota a linguagem neutra, por exemplo, dilacera o mais belo edifício nacional, que é a própria língua; corrói o imaterial e o material, e até o mais maravilhoso prédio da Biblioteca Nacional pode ser pilhado, pois a degradação do que é mais fausto na cultura já foi feito", afirmou Ramiro, que estava no cargo desde março de 2022 e, em seu mandato, entregou uma medalha ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).

A utilização do "todos, todas e todes" gerou também uma série de questionamentos nas redes sociais. No Twitter, muitos argumentaram que a palavra "todes" não existe na língua portuguesa e que "todos" já serviriam para englobar mulheres, homens e pessoas não binárias.

A professora Vivian Bernardo explica que não há erro no uso de "todes". "Falar que é errado do ponto de vista da norma porque não está no dicionário é uma limitação bastante grande. É um argumento muito fraco, porque muito do que está no dicionário hoje não estava lá 100, 200, 300 anos atrás", diz.

"Toda língua passa por mudança linguística. Não é uma coisa do português, não é uma coisa da esquerda ou da direita", completa.

A especialista também chama a atenção para o fato de que a linguagem não binária foi empregada somente no começo e/ou no fim dos discursos. "É realmente para chamar a atenção do público para um referente que até então era invisibilizado, mas o resto do texto não sofreu mudanças, não tem ali inadequações."

Mas, então, bastaria utilizar apenas "todes" para se referir à totalidade da plateia? Na opinião de Vivian Bernardo, não. Segundo a professora, a palavra dá visibilidade às pessoas não binárias, mas não às mulheres. Por isso, a importância da combinação entre "todos, todas e todes".

"Do ponto de vista da minha pesquisa, a linguagem não binária não serve democraticamente como uma alternativa para incluir homens e mulheres. A linguagem, na verdade, não é neutra. A linguagem é não binária. Então, ela tem como papel dar visibilidade a um terceiro grupo."

A seguir, veja postagens que discutem o uso de "todos, todas e todes" por integrantes do governo Lula.

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