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Amon Borges

Forró da Lua Cheia tem Racionais, BaianaSystem e Francisco, el Hombre com festa e protestos

Indígenas pataxós sobem ao palco em show e protestam contra Bolsonaro e morte de indigenistas

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O festival Forró da Lua Cheia chegou à 30ª edição com clima de festa e mensagens de protestos durante o feriado prolongado de Corpus Christi, de quinta (16) a domingo (19), em Altinópolis, na região de Ribeirão Preto (cerca de 315 km de São Paulo). Racionais MC's, BaianaSystem, Liniker, Falamansa, Mart'nália, Francisco, el Hombre e Alceu Valença ao lado de Geraldo Azevedo estiveram na programação.

Um hotel fazenda no interior do estado recebeu, segundo a organização, cerca de 10 mil pessoas, abrigadas em espaços de camping para curtir um evento multicultural que, além de shows divididos em seis palcos, oferece oficinas, palestras, cursos e outras tantas experiências e performances artísticas.

No dia inicial de festa, a cantora Liniker foi o primeiro grande nome a passar pelo palco Vale, o principal, em uma noite de 20º C e leve brisa.

Maria Florguerreira, mulher indígena pataxó, no palco durante show da banda Francisco, el Hombre
Maria Flor Guerreira, mulher indígena pataxó, no palco durante show da banda Francisco, el Hombre no festival Forró da Lua Cheia, em Altinópolis, perto de Ribeirão Preto (interior de SP) - Brunno Kawagoe - 19.jun.2022/Indie Click/Divulgação

Acompanhada por uma banda potente e empolgante, com integrantes como a baixista Ana Carina Sebastião e a saxofonista Mayara Almeida, a cantora até sambou. Em um momento que intitulou Nostalgia, Liniker entoou músicas que, segundo ela, faziam lembrar o samba na casa da mãe dela, quando começou a cantar. Foi o caso de "Azul da Cor do Mar", de Tim Maia, que abriu o bloco.

Alceu Valença e Geraldo Azevedo sucederam a cantora no mesmo espaço no show O Grande Encontro, com o desfalque de Elba Ramalho, com diagnóstico de Covid. A dupla fez a sequência de grandes clássicos de suas carreiras, como "Morena Tropicana", "La Belle de Jour", "Anunciação" e "Sabiá".

Algumas músicas que tradicionalmente Elba canta no espetáculo foram interpretadas por eles, como "Bicho de Sete Cabeças", que Geraldo entoou. "Sintam a presença de Elba aqui", disse o artista. "Viva a vacina", bradou Alceu, após afirmar que sua amiga estava bem por causa dos imunizantes. "Agora os sintomas são menores por causa da vacina."

O dia seguinte teve como destaque o show do Racionais MC's. Para a ocasião, Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay contaram com a presença de banda no palco, projeto que teve início na turnê comemorativa 3 Décadas, em 2019.

As músicas que retratam a realidade dura do Brasil, abordando temas como violência, racismo e falta de oportunidades, são cantadas em coro com participação até dos seguranças do festival. "Negro Drama", "Vida Loka - Parte 1", "Jesus Chorou", "Diário de um Detento" e "Capítulo 4, Versículo 3" estão entre os hits.

Já o sábado (18), terceiro dia de festival, foi o que mais levou o público a pular. Russo Passapusso coordenou rodas no meio da multidão durante o show do BaianaSystem.

Na sequência, madrugada adentro, surgiu a banda Francisco, el Hombre, conhecida por performances também animadas e com mensagens de protestos e críticas, especialmente a Bolsonaro. E, desta vez, não foi diferente e o quinteto formado por Lazúli, Andrei Kozyreff, Helena Papini e pelos irmãos Mateo e Sebastián Piracés-Ugarte recebeu indígenas pataxós no palco.

Maria Flor Guerreira, Tamikuã Faustino e mais três indígenas participaram do momento. "Somos pataxós, somos indígenas, sim. Nós existimos, resistimos e precisamos de vocês. Precisamos de vocês como guardiões da nossa Mãe Terra", afirmou Maria Flor.

"A nossa luta não é pela mulher indígena, pela criança indígena nem por nenhuma categoria. A nossa luta é pela vida."

A relação da Francisco, el Hombre com as indígenas vem de alguns anos, já que elas inclusive participaram da gravação do clipe "Matilha", lançado em janeiro de 2020.

Maria Florguerreira (esq.) e outros indígenas pataxós sobem ao palco durante show da banda Francisco, el Hombre no festival Forró da Lua Cheia, em Altinópolis, perto de Ribeirão Preto (interior de SP)
Maria Flor Guerreira (esq.) e outros indígenas pataxós sobem ao palco durante show da banda Francisco, el Hombre no festival Forró da Lua Cheia, em Altinópolis, perto de Ribeirão Preto (interior de SP) - Brunno Kawagoe - 19.jun.2022/Indie Click/Divulgação

"Nossa luta não começou em 1988, nossa luta é de mais de 520 anos, que nós resistimos para existir", disse Tamikuã Faustino. "Quero convidar vocês para abraçar a nossa luta, porque nosso povo indígena está sofrendo ameaças. Nosso povo indígena é assassinado todos os dias. Estamos aqui para falar que não queremos nenhuma de sangue a mais."

Foi uma passagem do evento em que ficou evidente a referência à morte do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. "E salve nossos indigenistas sacrificados pelo sistema 'capetalista'", gritou Maria Flor, que levava uma bandeira de Lula nas costas.

A seguir, Tamikuã puxou um "fora, Bolsonaro" e logo veio um "olê, olê, olê olá, Lula, Lula", acompanhado pela banda.

Cantora Ana Cañas no palco
Ana Cañas canta Belchior em show de encerramento do festival Forró da Lua Cheia, em Altinópolis, perto de Ribeirão Preto (interior de SP) Descrição para acessibilidade: - Amon Borges - 19.jun.2022/Folhapress

Para fechar o Forró da Lua Cheia 2022, Ana Cañas cantou Belchior no palco Mirante. Fim de tarde de domingo e um clima intimista e sereno imposto pela artista com hits e canções lado B do cantor morto em 2017.

"Sujeito de Sorte", "Rapaz Latino-Americano" e "Como Nossos Pais" fizeram parte do setlist.

"Muito louco pensar como essas músicas são muito atuais e foram escritas há quase 50 anos", afirmou Ana, que tampouco poupa críticas ao governo de Jair Bolsonaro.

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