Em meio à guerra no norte da Etiópia, o medalhista olímpico Haile Gebrselassie, 48, comprometeu-se a lutar contra as forças rebeldes no Tigré.
"O que você faria quando a existência de um país está em jogo?", afirmou à agência de notícias Reuters de seu escritório na capital Adis Abeba, onde comanda diversas empresas de recepção, imobiliária, agrícola e educacional. "Você deixa tudo de lado. Infelizmente, nada vai prendê-lo."
A crise no país africano vem se agravando enquanto o conflito entre o governo etíope, liderado pelo premiê Abiy Ahmed, e a TPLF (Frente de Libertação do Povo do Tigré) já completa um ano.
Estudo da ONU divulgado na sexta (26) apontou que mais de 9 milhões de pessoas da região norte do país precisam atualmente de ajuda alimentar. A desnutrição também aumenta e afeta entre 16% e 28% das crianças, e cerca de 50% das mulheres grávidas e lactantes estão desnutridas no Tigré.
Diante desse cenário, o premiê, que já foi chancelado com um Nobel da Paz, afirmou que iria comandar a guerra a partir do front, o que motivou a disposição de Gebrselassie de ir para o conflito.
O etíope teve uma carreira e tanto no atletismo. Levou a medalha de ouro nos 10 mil metros nas Olimpíadas de Atlanta (1996) e de Sydney (2000) e quebrou 17 recordes mundiais. Como maratonista, foi tetracampeão em Berlim, uma das mais importantes provas da modalidade, de 2006 a 2009. Na capital alemã, alcançou a melhor marca já registrada até então nos 42,195 km, em 2007 e 2008.
O atleta disse acreditar que o esporte tem a ver com "paz e amor", mas defendeu sua decisão de lutar contra os rebeldes, que no último mês ameaçaram marchar até a capital Adis Abeba. Para ele, o conflito é uma ameaça para toda a África.
"A Etiópia é um país que contribuiu muito para todo o continente", defendeu. "Sim, é um país exemplar. Fazer ajoelhar a Etiópia e fazer ajoelhar o resto. Isso é impossível." Gebrselassie afirmou ainda que iria até o fim. "Você espera que eu vá dizer até a morte? Sim, esse é o preço final em uma guerra."
ENTENDA O CONFLITO
O conflito na região do Tigré entre as forças governistas e a TPLF teve início há um ano e desencadeou uma onda de deslocados internos, além da deterioração das crises econômica e social. Ao longo do período, calcula-se que 2 milhões de pessoas deixaram suas casas.
O governo do país, também criticado pela comunidade internacional, decretou no início de novembro estado de emergência nacional por seis meses. O premiê pediu que a população pegasse em armas para defender o país frente ao avanço da TPLF, e dezenas de milhares saíram às ruas de Adis Abeba para apoiar o governo e criticar a interferência externa, especialmente dos Estados Unidos.
A tensão também aumenta no campo de batalha. Imagens divulgadas pela mídia estatal mostram Ahmed usando um uniforme militar na linha de frente com o exército.
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