Maternar

No blog, as mães Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti abordam as descobertas do início da maternidade

Maternar - Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Descrição de chapéu maternidade

'O que abominava nas minhas filhas era exatamente o que fazia', diz Samara Felippo

Ao lado de Carolinie Figueiredo, atriz atua em peça sobre maternidade real

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São Paulo

Não há como sair indiferente da peça Mulheres que Nascem com os Filhos, em cartaz em São Paulo até este domingo (5).

Durante uma hora, as atrizes Carolinie Figueiredo e Samara Filippo falam sobre suas experiências como mães: voltam para o útero, gritam de dor e medo, ouvem palpites absurdos, julgam e também são julgadas.

Enquanto algumas verdades são ditas no palco, há muito riso na plateia. Há também silêncios reflexivos. A peça dá colo e ao mesmo tempo chacoalha.

Escrita pelas duas atrizes e pela diretora, Rita Elmôr, o espetáculo traz os famosos clichês "fome, sono e enjoo", mas também fala sobre exaustão, solidão e culpa. "Seja porque não teve o parto que queria ou porque não amamentou, se trabalha fora ou largou tudo para cuidar dos filhos em casa. A culpa adoece a mulher e essa peça vem como um processo de cura coletiva", diz Samara Filippo, atriz e mãe da Alícia, 12, e Lara, 9.

Com a maternidade, Samara conta que aprendeu a se vulnerabilizar e controlar seus julgamentos. Percebeu que o que abominava nas filhas --gritos, por exemplo--, era o que ela também fazia.

Reconhecer privilégios e aprender sobre racismo foram outras etapas importantes. Mãe de duas meninas pretas, levou um choque quando a mais velha pediu para alisar o cabelo para ficar igual às colegas da escola. "Mais que vaidade, entendi ali que muitas mães alisavam os cabelos das filhas para protegê-las", lamenta.

No palco, Carol Figueiredo está sentada com as pernas para frente. É branca, tem cabelos castanhos, que estão presos. Samara está ajoelhada ao lado dela, debruçada em seu ombro. É uma mulher branca de cabelos escuros, também presos. As duas vestem vestido vinho e verde. Ao fundo, o tronco de uma imensa árvore feita de cordas
Peça Mulheres que Nascem com os Filhos dá colo, mas também alguns chacoalhões - Lorena Zschaber/Divulgação

Carolinie Figueiredo engravidou pela primeira vez aos 21 anos, mesma idade que sua mãe e sua avó gestaram pela primeira vez. "Aos 23, com dois filhos não planejados, um casamento falido, a carreira de atriz pausada, muito frustrada, comecei a repetir as mesmas coisas que recebi na infância: gritava, ameaçava, colocava de castigo, chantageava. Esses eram os recursos que eu tinha", lembra.

Para Carol, a educação violenta impactou diretamente sua baixa autoestima. E o resultado aparece no palco também, onde se despe, literalmente, para falar sobre a relação com o corpo, tão transformado após as gestações de Bruna, 10, e Théo, 8. "Falo [e mostra] estrias, celulite, o tamanho da minha barriga, o que é pesado e o que foi empoderado. Foi desafiador e duro conseguir me despudorar de toda vergonha, culpa e repressão que carregava e carrego nesse corpo marcado e rasgado após os filhos", reflete.

A maternidade, que rompeu com a carreira, com a identidade, o casamento, os sonhos e vida financeira também alavancou a profissão de terapeuta. "Agora estou recuperando meu território, meu corpo e minha aceitação", diz.

Carol e Samara estão no palco, de frente uma para outra segurando uma corda. Vestem vestido verde e vinho. Ao fundo, a projeção de uma árvore azulada
No palco, Samara Felippo e Carolinie Fiegueiredo falam de medo, culpa e solidão na maternidade - Lorena Zschaber

É SÓ [MAIS] UMA FASE

Dizem que a maternidade é igual ao videogame: quando você vence uma fase difícil, outra pior te espera. Encontrar equilíbrio no uso das redes sociais e definir o conteúdo que as duas acessam são alguns dos desafios de Samara, que também lida com a divergência entre as irmãs e o primeiro paquera da mais velha.

Mas o que mais pega agora é a possibilidade de Alícia morar nos Estados Unidos, onde o pai, o jogador de basquete Leandrinho mora.

Samara se separou dele quando a filha mais nova tinha apenas 20 dias. "Acho que vai ser ótimo para educação dela, mas queria que fosse mais pra frente, pelo menos após a menarca [primeira menstruação]", diz.

Já Carol lamenta que agora não consegue mais ninar os filhos no colo. "Está doendo muito nos dois lados. Meus filhos amam colo e essa sempre foi uma estratégia de regulação [emocional]. Sei que eles querem e precisam, mas eu não consigo mais", referindo-se ao tamanho das crianças.

Com lágrimas nos olhos, ela conta que estão procurando juntos uma adaptação para a nova fase. "No fundo, eu sei que minha criança interna ainda espera esse colo, mas já não é mais possível", reflete.

De joelhos, vestindo uma blusa de alça e calcinha beges, Carolina Figueiredo exibe as celulites, apertando a coxa direita. Ela é uma mulher branca de cabelos escuros, presos e tem olhos claros.
Despir-se no palco foi desafiador para Carol Figueiredo; "carregada vergonha, culpa e repressão", diz - Amanda Mirella

​​SERVIÇO:

Mulheres que Nascem com os Filhos (classificação 12 anos)

Temporada: em cartaz até 5 de junho (sexta e aos sábado, às 21h, domingo, às 19h)

Teatro Nair Bello - Shopping Frei Caneca - Rua Frei Caneca, 569, 401A, Consolação, São Paulo, SP

Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)

Duração: 60 minutos

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