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No blog, as mães Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti abordam as descobertas do início da maternidade

Maternar - Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti

Seu filho vive gripado? Entenda por que as 'crechites' estão mais intensas

Pandemia alterou resposta imunológica e vírus simples causa danos maiores e mais longos

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São Paulo

Adenovírus, bocavírus, rinovírus, influenza, parainfluenza, coronavírus, vírus sincicial respiratório ou enterovírus. Deu vontade de tossir? Esses são alguns itens do cardápio responsável pelas febres, tosses e melecas esverdeadas infinitas que apareceram nas crianças ultimamente.

O acúmulo de vírus circulando por aí e a lotação dos prontos-socorros chamaram a atenção até de quem atua há anos em hospitais. O inverno começou mais quente, mas a temperatura deve cair nos próximos dias e dá-lhe soro, inalação e paciência.

Fora isso, a alta nos casos de internação por Covid-19 também está preocupando os pais de crianças entre zero e cinco anos --a única faixa etária que não pode receber a vacina contra a doença.

Segundo o levantamento Infogripe, da Fiocruz, desde abril, 15% dos registros de internação em hospitais são dessa faixa. Em novembro, esse grupo representava menos de 5% dos casos semanais de síndromes respiratórias agudas graves. Ainda​ de acordo com a Fiocruz, nas últimas quatro semanas, 71,2% dos casos de síndrome gripal registrados no Brasil foram causados pela Covid-19.

A família da professora Thaís Fernandes, 23, faz parte dessa estatística. A filha Aurora, de 1 ano e 5 meses testou positivo recentemente. A preocupação dos pais aumentou porque a menina já foi internada duas vezes com pneumonia.

As "crechites", termo usado para as doenças que aparecem após o início da vida escolar, chegaram com tudo na casa dela e além dos repetidos resfriados, Aurora já apresentou sinusite, otite e pneumonia de repetição, chegando a tomar antibiótico por oito vezes para tratar todas essas doenças.

"Deixar de trabalhar [para ficar com a filha em casa] nunca foi uma opção. O caminho foi se acostumar. Sou professora e vejo de perto casos virais, mas não tinha noção que seria uma semana bem e 15 dias doente", diz.

A família da bancária Ana Bosco, 41, também está com Covid-19. Seu filho Thales, de quase dois anos, também apresentou vários quadros virais desde o início na escola, em abril desse ano.

"São resfriados constantes. No último mês teve uma sequência de febre alta, muito catarro no peito e coriza. Além da Covid, Thales está com conjuntivite. Recentemente o menino usou antibiótico e corticoide para tratar outras infecções bacterianas. "A gente aprendeu a lidar. Vamos contornando os sintomas com medicações caseiras para tentar deixá-lo melhor", explica.

A pandemia alterou nossa resposta imunológica. Antes do isolamento social, o contato diário com os vírus respiratórios deixava nosso corpo "'treinado" para combatê-los. O período de isolamento em casa, sem o contato diário com esses vírus fez com que as doenças chegassem mais fortes e demorassem mais para ir embora.

​ ​CAUTELA COM ANTIBIÓTICO

Para especialistas ouvidos pelo Maternar, apenas 20% dos casos de 'crechites' necessitam de antibióticos, pois esse medicamento só atua contra bactérias. No caso das viroses, tomar antibiótico pode agravar ainda mais a saúde do paciente, porque o produto também elimina as bactérias boas do corpo.

"Há também o risco de causar alergias, vômitos, diarreia, problemas hepáticos e renais. E o mais preocupante de todos: o surgimento de cepas mais resistentes", explica Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, infectologista do Sabará Hospital Infantil.

Depois de tanta medicação na filha, Thaís Fernandes conta que agora espera para ir ao pronto-socorro. "Hoje eu aguardo uns três dias. Vou administrando a febre antes de correr para lá, porque todas as vezes que fomos ao PS saímos com a receita de antibiótico. Parece que eles dão sem critério", afirma.

PS, QUANDO IR?

A maioria dos quadros virais infantis não precisa de atendimento na emergência. O ideal é medicar e observar a febre. Caso a criança apresente febre por mais de 72 horas, apresente esforço para respirar, prostração, perda de apetite ou recusa na ingestão de líquidos, a recomendação é levá-la ao hospital.

PAUSA NA ESCOLA?

Famílias de crianças pequenas (abaixo dos três anos) que têm o privilégio de contratar uma babá ou com algum parente que fique em casa com eles podem afastar a criança da escola por um período ou até atrasar o início das aulas. "Crianças pequenas se beneficiam muito mais ficando em casa com cuidador responsivo a elas e que tenham oportunidade de desenvolver vínculos fortes com uma pessoa só. Pesando os prós e contras, vale ficar em casa livre por um período das infecções", explica a pediatra Marcia Zani.

DÁ PARA TURBINAR A IMUNIDADE?

Para Zani, não existe um remédio mágico capaz de turbinar a imunidade das crianças. O ideal é checar como anda a saúde antes de suplementar de forma exagerada. A especialista recomenda manter a vacinação em dia e aumentar a ingestão de líquidos e comidas "de verdade", como frutas, legumes e verduras e diminuir os alimentos processados, que atrapalham o funcionamento do corpo.

Os pais devem atentar para a higiene dos ambientes e tratar doenças preexistentes como asma e rinite. O uso de máscaras em ambientes com muitas pessoas é o mais recomendado, assim como a higienização frequente das mãos com álcool em gel.

Crianças doentes não devem ir para escola e se os pais puderem dar uma pausa de uns dias a mais para o organismo do filho se recuperar bem é o mais indicado.

"Gente estressada fica mais doente. Um final de semana em família próximo da natureza ajuda a diminuir o cortisol [hormônio do estresse] que enfraquece a nossa defesa. Hormônio de bem-estar também protege o corpo", completa a especialista.

Thaís ao lado da filha Aurora. A mãe é uma mulher preta, tem cabelos anelados e sorri. Usa vestido claro de festa na tonalidade bege. Sua bebê  usa um vestido rosado sem mangas, tem aproximadamente um ano e está séria. Ao fundo, enfeites de aniversário
Thaís e a filha Aurora: internações e uso repetido de antibiótico preocupam mãe da menina que testou positivo para Covid-19 - Arquivo Pessoal

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