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Salvador Nogueira

Estudo do Brasil vai investigar proteína do Sars-CoV-2 no espaço

Pesquisa bancada por farmacêutica viajará a bordo de cargueiro da SpaceX

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Pesquisadores brasileiros vão promover o estudo, no espaço, de uma proteína essencial do Sars-CoV-2, vírus causador da Covid. O experimento terá uma etapa a ser conduzida na Estação Espacial Internacional (ISS), e os resultados podem ajudar a iluminar caminhos na busca de novos tratamentos e vacinas.

O projeto foi concebido pela equipe do LNBio (Laboratório Nacional de Biociências), que faz parte do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), em Campinas (SP). O financiamento, por sua vez, será promovido pela farmacêutica Cimed, com apoio da empresa de logística espacial Airvantis. O estudo faz parte de uma iniciativa de cinco anos, chamada Cimed X, que investirá R$ 300 milhões em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, incluindo aí experimentos no espaço.

O material será enviado à ISS na missão cargueira Dragon CRS-24, da SpaceX, que deve partir de Cabo Canaveral, Flórida, em 21 de dezembro de 2021. O material de pesquisa será manuseado no módulo laboratório Kibo, da Jaxa (agência espacial japonesa).

A Estação Espacial Internacional, vista em órbita da Terra
Estação Espacial Internacional, fotografada a partir de uma nave Soyuz, em 4 de outubro de 2018 - Nasa/Roscosmos/Reuters

Serão enviados três arranjos experimentais diferentes, todos contendo a proteína N (nucleocapsídeo) do Sars-CoV-2. Muita atenção tem sido dada à proteína S (de "spike", ou espícula), que tem um papel fundamental na capacidade do patógeno de infectar as células humanas. Contudo, outras proteínas também têm ação importante, como é o caso da N, que é crítica para o empacotamento do genoma do vírus. Sua estrutura, contudo, ainda não foi elucidada, e os pesquisadores apostam que o ambiente de microgravidade do complexo orbital pode ajudar.

O objetivo é conseguir realizar a cristalização da proteína em órbita e então trazer o cristal formado de volta à Terra para estudo. "Nessa primeira etapa enviaremos a proteína N purificada junto com três diferentes soluções de cristalização", explica Celso Eduardo Benedetti, pesquisador do LNBio e coordenador do estudo. "A ideia aqui é ter mais de uma condição de cristalização da proteína N para aumentar as chances de obtenção dos cristais."

Caso dê certo, os cristais formados serão trazidos de volta para análise por difração de raios-X, na nova linha de luz síncrotron Manacá do Sírius, acelerador de partículas brasileiro inaugurado em 2018 e operado pelo LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), também parte do CNPEM. A observação de como os raios-X são desviados pelos cristais ajuda a decifrar a forma exata da proteína.

Tentativas de fazer uma boa cristalização da proteína N na Terra até agora fracassaram. Mas no espaço, em condição de imponderabilidade, é possível obter resultados melhores. "O fato é que as condições de cristalização em microgravidade podem favorecer a formação de cristais que difratam a uma resolução superior à dos cristais obtidos aqui em solo, e isso melhora a qualidade do dado experimental e consequentemente a resolução do modelo atômico gerado", explica Benedetti.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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