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Salvador Nogueira

Nasa investe mais de US$ 500 mi em estações orbitais privadas

Projetos de três empresas serão desenvolvidos; uma quarta já tem contrato

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A Estação Espacial Internacional (ISS) deve seguir operando até 2028, quem sabe 2030, mas será muito difícil mantê-la depois disso. A Nasa, contudo, quer preservar uma presença constante na baixa órbita terrestre para além desse período e está apostando em parceiros comerciais, com seus complexos orbitais próprios, para atingir esse intento. Na quinta-feira (2), a agência espacial americana fechou contrato com três empresas para o desenvolvimento inicial de seus projetos privados de estação orbital, num investimento total de mais de meio bilhão de dólares.

Foram contempladas as companhias Blue Origin (US$ 130 milhões), Nanoracks (US$ 160 milhões) e Northrop Grumman (US$ 125,6 milhões). Elas se juntam à Axiom, que já tem desde fevereiro de 2020 um contrato com a Nasa (US$ 140 milhões) para lançar um módulo comercial e acoplá-lo à ISS. Depois de até sete anos por lá, ele será desacoplado e servirá como base para uma estação completa da empresa.

Com isso, são quatro iniciativas diferentes para tentar fazer vingar, com apoio governamental americano, pelo menos um projeto de estação espacial privada. Tratam-se ainda de pequenos passos iniciais –nenhum dos complexos orbitais sairá por menos de alguns bilhões de dólares–, mas que apontam na direção do futuro da ocupação da baixa órbita terrestre, conforme a Nasa coloca seus olhos sobre futuras missões à Lua e a Marte.

Ainda é cedo para dizer se vão prosperar. Por um lado, as iniciativas da Nasa para tentar passar o próprio lado americano da Estação Espacial Internacional à iniciativa privada fracassaram (o custo de manutenção é proibitivamente alto para oferecer retorno a investidores). Por outro lado, os programas comerciais de transporte de carga e tripulação à baixa órbita terrestre prosperaram, com múltiplos fornecedores e clientes além da Nasa (a SpaceX recentemente comercializou um voo à órbita para a iniciativa Inspiration4, e a Axiom já contratou voos à própria ISS com tripulação própria). O sonho é replicar esse sucesso criando múltiplos destinos em baixa órbita, mantendo-a permanentemente ocupada para além de 2030 (desde 2000, não se passou um dia sem que a Nasa tivesse ao menos um astronauta em órbita, graças à ISS).

A pressão é ainda maior com o crescimento da concorrência. A China apenas começou a construção de sua estação espacial Tiangong, em abril de 2021, e o projeto deve ir bem além de 2030.

A alternativa óbvia ao programa comercial de estações seria simplesmente tentar manter a Estação Espacial Internacional em operação por mais tempo, além de 2030. Mas não será fácil ou barato, e há quem diga que é inviável. O complexo já tem alta quilometragem (a construção em órbita foi iniciada em 1998). O principal módulo russo, o Zvezda, já mostra rachaduras e sinais de desgaste. E a relação entre EUA e Rússia já apresenta os mesmos problemas, com trocas de acusações e atritos constantes mesmo na área espacial, em que as duas potências costumavam se entender desde o colapso da União Soviética. Os russos também começam a se aproximar da China para futuros projetos espaciais e certamente venderão caro quaisquer novas extensões ao programa da ISS. O fim de uma era se aproxima.

O QUE VEM AÍ

O plano da Axiom é acoplar três módulos à Estação Espacial Internacional, com o primeiro deles em 2024 (a conferir). Após a aposentadoria do complexo orbital, o trio poderia se desacoplar (talvez levando consigo o Canadarm2, braço robótico canadense da ISS) e se tornar uma estação independente, podendo ganhar módulos novos adiante, tornando-se a Estação Axiom, na década de 2030.

Outra proposta bem crível é a da Nanoracks. A companhia, que até o momento se concentra em comercializar espaço para experimentos a bordo da ISS, fez uma parceria com a tradicional Lockheed Martin e a Voyager Space para construir sua estação própria. Chamada de Starlab, ela seria basicamente composta por um único grande módulo habitável inflável (como os desenvolvidos pela Bigelow Aerospace, outra companhia que já ambicionou ter uma estação própria e chegou a instalar um desses módulos à estação em 2016), acoplado a um módulo de propulsão e conjunto de painéis solares. O plano seria lançar o sistema ao espaço em 2027, e ele seria capaz de abrigar quatro astronautas e carga útil comparável à da ISS.

Já os projetos da Northrop Grumman, outra gigante tradicional, e da Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, são mais ambiciosos, envolvem estações com vários módulos e expansão constante, com vários parceiros comerciais. O da Northrop espera explorar a tecnologia desenvolvida nos cargueiros Cygnus, atualmente fornecendo transporte à ISS, para a criação dos módulos. Já o da Blue beira o megalomaníaco, com múltiplos parceiros (é a tradição da Blue formar consórcios, o que certamente ajuda no lobby) como Sierra Space e Boeing, embora comece as operações pequeno, o que pode funcionar.

Ausente dessa conversa está a SpaceX, de Elon Musk. A empresa chegou a propor uma concepção de estação espacial própria baseada no seu superfoguete Starship, mas a Nasa não fisgou. Uma escolha apenas sensata, dado que a empresa já fechou um contrato muito maior (US$ 2,9 bilhões) para desenvolver o Starship com o objetivo de levar astronautas de volta à Lua, o que deve ocorrer, se tudo der certo, na segunda metade desta década.

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