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Salvador Nogueira

Europeus suspendem missão de rover para buscar vida em Marte

Lançamento do ExoMars, com participação da Rússia, aconteceria em setembro

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A invasão russa da Ucrânia jogou água no chope da primeira tentativa europeia de operar um rover na superfície de Marte. Em reunião de seu conselho na quinta-feira (17), a ESA (Agência Espacial Europeia) anunciou a suspensão dos trabalhos na missão ExoMars.

O projeto já havia lançado um orbitador e um módulo de pouso de teste (que falhou) em 2016, mas a grande ambição era levar ao solo marciano o rover Rosalind Franklin. Batizado em homenagem à pesquisadora que ajudou a decifrar estrutura da molécula de DNA, ele teria por objetivo buscar evidências de vida passada ou pregressa no planeta vermelho, a um custo superior a 1 bilhão de euros.

Originalmente, ele deveria ter partido em 2018. Mas o desenvolvimento atrasou, o que empurrou o lançamento para 2020. E então essa janela também foi perdida, por falhas na qualificação dos paraquedas. Só se pode lançar algo para Marte a cada 26 meses, aproveitando o alinhamento apropriado dos planetas. Aí ficou para 2022. E agora estava tudo pronto: paraquedas, módulo de pouso, rover e veículo lançador. Só faltou combinar com os russos.

Imagem mostra o astronauta britânico Tim Peake ao lado de protótipo do rover do programa ExoMars, em 2019
Imagem mostra o astronauta britânico Tim Peake ao lado de protótipo do rover do programa ExoMars, em 2019 - AFP

Parceiros no projeto (eles forneceram o lançador, um veículo Proton a decolar de Baikonur, no Cazaquistão, e construíram o módulo de pouso, além de terem instrumentos no rover), decidiram invadir a Ucrânia e botar fogo no mundo. Em meio à troca de ameaças e sanções, a ESA "reconheceu a impossibilidade presente de manter a cooperação contínua com a Roscosmos [corporação espacial russa] na missão do rover ExoMars com lançamento em 2022". Indo além, "autorizou o diretor-geral da ESA a executar um estudo industrial rápido para definir melhor as opções disponíveis para um caminho adiante a fim de implementar a missão".

O caminho é tortuoso. Se a crise se encerrar em curto prazo e a parceria com a Roscosmos for retomada, pode rolar em 2024. Caso isso não aconteça, o voo ficaria, no mínimo, para 2026, possivelmente 2028. O problema não é só trocar o lançador (por sinal, diversos outros projetos da ESA também ficaram sem carona, depois que a Rússia decidiu interromper as operações dos foguetes Soyuz na Guiana Francesa). Envolve a intensa cooperação no módulo de pouso e no próprio rover, que teria de, de algum modo, ser desfeita e refeita com outro parceiro ou com novos investimentos europeus.

Isso também não seria fácil, nem rápido. Vale lembrar que o ExoMars, antes de ser uma parceria ESA-Roscosmos, era ESA-Nasa, mas a agência americana pulou fora em 2012 por falta de disponibilidade orçamentária (precisou reinvestir o dinheiro nos estouros do Telescópio Espacial James Webb). De lá para cá, a situação não melhorou, com os preços exorbitantes das missões lunares Artemis. Da mesma forma, a ESA não está exatamente nadando em dinheiro e teve de pedir autorização dos países membros para gastar mais no próprio ExoMars, em 2016, após estouros de orçamento. Não será surpresa total se o rover acabar se tornando mais uma baixa da guerra.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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