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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Só Elon Musk pode salvar o programa lunar americano

Custo de missões da Nasa é tido como "insustentável" por avaliação independente.

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Na última terça-feira (1º), o programa Artemis, com o qual os EUA pretendem levar astronautas de volta à Lua nesta década, sofreu um atropelamento. Foi em uma audiência do Comitê de Ciência da Câmara dos Representantes. A palavra-chave da apresentação? "Insustentável".

O diagnóstico veio do inspetor-geral da Nasa, Paul Martin, cuja função é justamente analisar de forma independente os programas da agência. Em seu relatório, surge pela primeira vez informação concreta de quanto custarão as quatro primeiras missões lunares (incluindo a inagural, Artemis I, marcada para este ano, que será um teste sem tripulação): US$ 4,1 bilhões por voo. Desse montante, a maioria (US$ 2,2 bilhões) vai para o SLS, o superfoguete de uso único baseado em tecnologias dos antigos ônibus espaciais.

Martin estima que, entre os anos fiscais 2021 e 2025, a Nasa terá de desembolsar US$ 53 bilhões para manter o programa "nos trilhos". E aí vão as aspas porque, independentemente do pagamento, já são esperados atrasos consideráveis. Lembra quando o objetivo era pousar na Lua em 2024? O inspetor-geral agora fala em "2026, na melhor das hipóteses". E contraste a etiqueta de preço de cinco anos com o orçamento anual destinado a toda a Nasa: uns US$ 25 bilhões. Com as duas informações lado a lado, temos a receita para "insustentável".

Ilustração do superfoguete SLS, com seu estágio principal laranja e dois propulsores laterais auxiliares.
Ilustração do superfoguete SLS, que deve fazer seu primeiro voo neste ano, mas que tem custo reputado como insustentável pelo inspetor-geral da Nasa. - Nasa/AFP

Há várias razões que levaram ao elefante branco: lobby (a poderosa Boeing é a responsável pelo SLS), foco do Congresso em manter empregos após o fim do programa dos ônibus espaciais e contratação num formato que, segundo Martin, favorece os contratados e não a Nasa.

Não é novidade nem para a agência, que já vem adotando para outros programas um novo modelo de contratação. Em vez de "custo total mais lucro", como o do SLS, "custo fixo", como o adotado para os programas comerciais de carga e tripulação da Estação Espacial Internacional. O modelo antigo encorajava empresas a atrasarem e inflarem custos, com a garantia de que tudo seria pago. No novo, se preço e prazo estouram, o problema é do fornecedor.

É nesses termos que a SpaceX está desenvolvendo um veículo para servir de módulo de pouso lunar. Esse projeto, chamado Starship, embora tenha custo modesto (e fixo) para o tamanho da ambição, US$ 2,9 bilhões, acaba trazendo a reboque um lançador do mesmo porte do SLS, mas moderno, potencialmente reutilizável e pelo menos 20 vezes mais barato.

Uma vez que ele seja demonstrado para missões de pouso lunar, é improvável que não seja colocado em uso também para transportar a tripulação por todo o caminho até a Lua –dispensando a necessidade de SLS e Orion. Mas o Starship envolve tecnologias não testadas e, com isso, risco. Pode ser que não funcione, pode demorar mais que o esperado. E com isso torna-se cada vez mais provável que astronautas chineses sejam os primeiros a pousar na Lua no século 21. Só Elon Musk a essa altura pode salvar as ambições americanas.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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