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Salvador Nogueira

Cientistas cultivam plantas com solo lunar pela primeira vez

Experimento usou amostras de regolito colhido nas missões Apollo 11, 12 e 17

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Pela primeira vez, um experimento usou solo extraído da Lua para cultivar plantas. O trabalho foi realizado por Anna-Lisa Paul, Stephen M. Elardo e Robert Ferl, da Universidade da Flórida, nos EUA, e traz boas e más notícias para os futuros planos de instalação de uma base lunar tripulada.

O ponto positivo é que sementes de Arabidopsis thaliana, um dos organismos modelo da botânica, conseguiram germinar em meio a regolito (solo) extraído dos sítios de pouso das missões Apollo 11, 12 e 17. O negativo é que todas elas apresentaram sinais de estresse, como crescimento reduzido e manchas escuras nas folhas.

Para compreender melhor o que estava acontecendo com elas, os pesquisadores também fizeram um transcriptoma –análise de quais genes estavam ativos nas plantas– e encontraram muitos sinais similares às reações típicas desses organismos quando lidam com espécies reativas de oxigênio, metais e sais.

Plantas cultivadas com solo terrestre (esquerda) e lunar (direita), após 16 dias
Plantas cultivadas com solo terrestre (esquerda) e lunar (direita), após 16 dias - UF/Ifas/Tyler Jones

Apesar disso, o experimento já serve por si só como prova de princípio de que, a despeito das dificuldades, seria possível cultivar plantas na Lua. Claro, não na superfície exposta à radiação e sem atmosfera, mas em ambientes pressurizados que abrigarão também os astronautas numa futura base lunar.

No experimento, publicado no periódico Communications Biology, do grupo Nature, sementes de A. thaliana foram depositadas em placas, cada uma com solo extraído de uma região diferente da Lua. Como controle, sementes foram depositadas em placas com um solo terrestre criado pela NASA para simular o lunar.

A elas adicionou-se água e um caldo nutritivo, e todas foram depositadas em potes separados para que se observasse seu desenvolvimento. A germinação aconteceu em todas as amostras até 60 horas após o plantio, e o desenvolvimento inicial pareceu normal. Lá pelo sexto dia, diferenças começaram a ser observadas, com raízes menores nas plantas que brotaram no solo lunar. Após 20 dias, os cultivos resultantes tiveram seu transcriptoma analisado.

Curiosamente, o trio observou diferenças entre plantas cultivadas com regolito das missões Apollo 11 e 12, que era mais antigo e passou por mais interação com a radiação presente na Lua, e as que usaram solo da Apollo 17, mais novo e menos processado nas condições lunares. Isso se refletiu na quantidade de genes ligados a estresse ativados em cada planta. Mas normal, normal mesmo, nenhuma delas ficou.

"Esses dados sugerem que regolito mais maduro fornece um substrato mais pobre para crescimento de plantas que o regolito imaturo", escreveram os pesquisadores. "Portanto, embora esse estudo demonstre que plantas podem usar o regolito lunar como substrato primário, mais caracterização e otimização seria necessária antes que o regolito pudesse ser considerado um recurso in situ de rotina, particularmente em locais em que o regolito é altamente maduro."

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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