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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Estudo explica como Sistema Solar ganhou configuração final

Pesquisa também pode esclarecer de onde um hipotético nono planeta teria saído

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Um novo estudo pode ajudar a explicar como o Sistema Solar ganhou sua configuração final. De quebra, talvez esclareça como um hipotético nono planeta a orbitar o Sol a dezenas de bilhões de quilômetros de distância pode ter ido parar lá, muito além da região por onde trafega Netuno, o mais distante dos conhecidos.

Hoje tudo parece bem organizadinho: quatro planetas rochosos mais internos, quatro gigantes gasosos mais distantes, um cinturão de asteroides entre os dois e um segundo cinturão de objetos gelados depois do oitavo planeta. Mas já era tudo assim desde que tudo começou, 4,6 bilhões de anos atrás? Naquela época, quando o Sol estava nascendo e se via envolto em um disco giratório de gás e poeira –berço para o processo de formação planetária, as coisas pareciam diferentes. Pelo menos, é o que dizem as simulações feitas pelos cientistas.

Elas sugerem, por exemplo, que os planetas gigantes tenham se formado a distâncias menores entre si e só depois tenham se espaçado na sua configuração atual. Para explicar com isso se deu, um grupo em 2005 propôs que um episódio de instabilidade dinâmica entre os planetas acabou, após bagunça considerável, deixando-os em sua configuração atual. Esse modelo, conhecido pelo nome da cidade onde foi gestado (Nice, na França), supunha que isso havia acontecido várias centenas de milhões de anos após a dissipação do disco protoplanetário. Ou seja, seria um evento tardio, com gatilho desconhecido.

Concepção artística retrata formação de um sistema planetário, moldado pela dissipação do disco de gás, de dentro para fora
Concepção artística retrata formação de um sistema planetário, moldado pela dissipação do disco de gás, de dentro para fora - Nasa/JPL

O novo trabalho de Beibei Liu, da Universidade de Zhejiang, China, Sean Raymond, da Universidade de Bordeaux, França, e Seth Jacobson, da Universidade Estadual do Michigan, EUA, parece resolver boa parte desse mistério. Ele simula o efeito que a própria dissipação do disco teria sobre os planetas, ocorrendo de dentro para fora no sistema, conforme o Sol "acendeu" e o vento solar passou a varrer o gás circundante.

Publicado na última edição da Nature, o estudo mostra que esse mecanismo naturalmente faria o espaçamento entre Júpiter e Saturno aumentar, numa espécie de efeito rebote, e acabaria induzindo a uma instabilidade nos dois planetas mais exteriores, Urano e Netuno. Inclusive, simulações com um quinto planeta gasoso poderiam ter desfecho similar ao do Sistema Solar, com um deles sendo ejetado para fora. E tudo isso aconteceria não centenas de milhões de anos após o nascimento do Sol, mas bem rápido, uns 10 milhões de anos no máximo.

Com isso, o que antes parecia uma peculiaridade inexplicável na evolução do Sistema Solar agora pode ser visto como um processo típico e natural. "O efeito rebote pode explicar por que instabilidades dinâmicas parecem ser quase onipresentes em sistemas exoplanetários", escrevem os autores. Por fim, caso o tal planeta 9 (até o momento puramente hipotético) exista mesmo, o novo trabalho torna mais fácil explicar como ele foi parar lá, ejetado durante o período de instabilidade.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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