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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu Rússia

Rússia fecha acordo para voos de cosmonautas em naves americanas

Primeiro intercâmbio ocorre em setembro, com Anna Kikina voando à ISS de SpaceX

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Em dois movimentos ocorridos em rápida sucessão, o Kremlin anunciou na última sexta-feira (15) a saída de Dmitry Rogozin do comando da Roscosmos, e a corporação, que atua como agência espacial russa, fechou acordo com a Nasa, sua contraparte americana, para o intercâmbio de assentos entre espaçonaves dos dois países no envio de tripulantes à Estação Espacial Internacional (ISS).

Com isso, a cosmonauta Anna Kikina deve voar a bordo da Crew Dragon da SpaceX, com decolagem marcada para setembro, no voo Crew-5. Mais adiante, mas ainda no mesmo mês, o astronauta Frank Rubio deve voar na espaçonave russa Soyuz MS-22. Para a missão seguinte de cada um dos países, Andrei Fedyavev voará com os americanos, e Loral O'Hara, com os russos.

A iniciativa já vem sendo negociada há meses, com dois objetivos em mente: manter a estabilidade na cooperação entre os participantes do consórcio da ISS, liderados por EUA e Rússia, e garantir que, mesmo que qualquer dos lados tenha problemas com seus veículos, haverá sempre tripulantes dos dois países para zelar por seus módulos no complexo orbital.

Anna Kikina (esq.) que será a primeira russa a voar numa cápsula da SpaceX, posa ao lado dos colegas Sergey Prokopyev e Dmitriy Petelin
Anna Kikina (esq.) que será a primeira russa a voar numa cápsula da SpaceX, posa ao lado dos colegas Sergey Prokopyev e Dmitriy Petelin - Roscosmos/Reuters

As tratativas, contudo, estavam atrasadas, em parte pela criação de empecilhos pelo lado russo, liderado até então por Rogozin –uma figura histriônica, que já mandou (em tempos de paz) a Nasa usar um trampolim para ir à ISS sem as Soyuz e despachou cosmonautas para desfraldarem bandeiras da regiões ucranianas ocupadas pela Rússia durante a guerra a bordo da estação –o que, pela primeira vez, levou a protestos oficiais por parte da Nasa e da ESA (Agência Espacial Europeia) com relação aos russos no complexo.

As duas decisões, o acordo e a troca da chefia na Roscosmos, ajudam a colocar panos quentes numa relação que vinha caminhando para estremecimento cada vez maior. Mas isso não significa que Rogozin, um dos artífices da ampliação dos atritos, tenha caído em desgraça. Pelo contrário. Defensor ferrenho do presidente Vladimir Putin, ele tende a "cair para cima" e assumir outro posto de prestígio na administração russa. Para o seu lugar na Roscosmos, o Kremlin nomeou Yuri Borisov, vice-primeiro-ministro russo –tão fiel ao líder do regime quanto Rogozin, mas provavelmente mais contido em suas manifestações públicas.

A ISS é em essência o último bastião da cooperação russa com o Ocidente no espaço. A estação se torna inviável se um dos dois parceiros majoritários, Rússia ou EUA, decidir deixá-la, o que explica a pacificação. Mas isso não deve, ao menos no momento, se estender a outras parcerias. A ESA, na semana que passou, encerrou oficialmente a cooperação com os russos no programa ExoMars, e diversos lançamentos comerciais que seriam feitos por foguetes russos já passaram a empresas americanas e europeias. No médio prazo, sem parcerias, a indústria espacial russa tende a avançar ainda mais depressa no processo de sucateamento que tem sofrido nos últimos anos.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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