O Telescópio Espacial James Webb continua, ainda na largada de sua missão científica, produzindo resultados extraordinários. Na semana que passou, dois novos artigos trouxeram as primeiras imagens diretas de exoplanetas obtidas pelo satélite.
É importante lembrar que, embora elas sejam raras, já tínhamos, graças a outros observatórios, um punhado de fotografias de exoplanetas. O principal desafio em registrá-los de forma direta é a disparidade de brilho entre eles e suas estrelas-mães, combinada à proximidade entre si. Dessa forma, imagens de exoplanetas costumam, neste momento, se restringir àqueles mais jovens (que ainda retêm bastante calor de formação, o que os torna mais brilhantes em infravermelho) e, ao mesmo tempo, mais distantes dos astros centrais.
As novas observações seguem esse padrão, mas o que elas trazem de novo é uma qualidade sem precedentes. O primeiro trabalho, divulgado no repositório arXiv e submetido a um periódico da Sociedade Astronômica Americana, reporta as imagens feitas do exoplaneta HIP 65426 b, o primeiro oficialmente fotografado pelo Webb.
Graças a um coronógrafo, capaz de barrar a luz da estrela central, o telescópio conseguiu capturar uma imagem daquele mundo em todos os sete filtros usados. Trata-se de um exoplaneta gigante gasoso com massa sete vezes maior que a de Júpiter, orbitando a cerca de 90 UA (1 unidade astronômica é a distância Terra-Sol, 150 milhões de km). A idade é estimada em 14 milhões de anos (compare com os 4,5 bilhões do Sistema Solar).
Os astrônomos constataram que o desempenho real do Webb é até dez vezes superior ao predito, o que entusiasma para futuras observações e abre espaço para que mais planetas sejam registrados de forma direta.
Já o segundo artigo diz respeito ao exoplaneta VHS 1256 b, que tem menos de 20 vezes a massa de Júpiter e orbita a cerca de 150 UA de uma anã marrom (nome que se dá a "estrelas abortadas", que se formaram como estrelas, mas não ganharam massa suficiente para manter o processo de fusão nuclear em seu núcleo). O próprio VHS 1256 b pode ser outra anã marrom, dada a incerteza de sua massa (costuma-se separar as anãs marrons dos planetas gigantes gasosos na faixa de 13 vezes a massa de Júpiter).
Fato é que o Webb obteve o espectro (a "assinatura de luz") de mais alta fidelidade já captado de um objeto do tipo. Foi possível detectar a presença de água, metano, monóxido e dióxido de carbono, além de sódio e potássio, na composição do astro. Ademais, há um sinal que indica nuvens de silicatos na atmosfera (ele é tão quente que rochas são vaporizadas por lá), a primeira vez que se faz uma detecção do tipo em um companheiro de massa potencialmente planetária.
E esses são apenas os dois primeiros resultados da observação direta de exoplanetas. Muito mais virá por aí, aumentando o álbum de fotos –para não mencionar a compreensão– desses mundos estranhos e fascinantes.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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