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Salvador Nogueira

Webb mede temperatura em planeta rochoso de Trappist-1

Medição é inédita; planeta mais interno do sistema parece não ter atmosfera

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O Telescópio Espacial James Webb conseguiu medir a temperatura diurna do mais interno dos planetas do fascinante sistema Trappist-1, que possui sete planetas de porte comparável ao da Terra.

É a primeira vez que se faz uma medição do tipo para um mundo rochoso fora do Sistema Solar. Os resultados sugerem que o lado iluminado do planeta Trappist-1 b tem uma temperatura de cerca de 500 Kelvin, o equivalente a 230 graus Celsius.

A observação também não encontrou evidências de uma atmosfera para aquele mundo, o que não é de todo inesperado –medições anteriores feitas com os telescópios espaciais Hubble e Spitzer, menos capazes que o Webb, também não haviam encontrado sinais de um invólucro de ar.

Concepção artística de Trappist-1 b, sem atmosfera e com temperatura superficial no lado iluminado de 230°C
Concepção artística de Trappist-1 b, sem atmosfera e com temperatura superficial no lado iluminado de 230°C - Nasa/ESA/CSA/J. Olmsted (STScI)

O sistema Trappist-1 é de imenso interesse dos astrônomos em razão da facilidade com que se oferece justamente para esses estudos de caracterização dos planetas. Trata-se de uma estrela anã vermelha, com menos de 10% da massa do Sol, localizada a 40 anos-luz daqui, na constelação de Aquário. É um astro com baixo nível de atividade e idade avançada (estimada em 7,6 bilhões de anos, com margem de erro grande, de 2,2 bilhões para mais ou para menos).

Os sete planetas, descobertos entre 2016 e 2017, têm diâmetros entre 77% e 129% do terrestre, o que indica que possivelmente todos eles são rochosos, três dos quais (planetas d, e e f) na chamada zona habitável –faixa em torno da estrela em que o nível de radiação é compatível com a existência de água em estado líquido na superfície.

Todos foram identificados pelo método do trânsito, o que significa dizer que eles passam periodicamente à frente da estrela com relação à Terra. Foi assim que o Webb conseguiu detectar a emissão de luz infravermelha do Trappist-1 b. Impossível detectar sua luz individualmente, mas é viável detectar um eclipse secundário, quando o planeta passa por trás da estrela –permitindo que o telescópio detecte apenas a luz estelar. Comparando-a à observação de quando ele está aos lados dela, ajudando a compor a luz total, é possível subtrair uma da outra e ficar só com o que é emitido do planeta.

É a partir desse resultado que o grupo liderado por Thomas Greene, do Centro Ames de Pesquisa da Nasa, na Califórnia, pôde calcular que o planeta quase certamente é desprovido de atmosfera e tem uma temperatura de 230 graus Celsius no lado diurno. As observações foram publicadas na revista científica britânica Nature.

A exemplo da Lua em torno da Terra, Trappist-1 b deve estar travado gravitacionalmente, de modo que a mesma face do planeta está sempre voltada para sua estrela. Sem uma atmosfera para distribuir calor do lado diurno para o noturno, a região noturna deve atingir temperaturas consideravelmente mais baixas que 0 grau Celsius.

Há grande ansiedade por resultados do Webb ligados aos demais planetas do sistema Trappist-1. A 40 anos-luz da Terra, ele promete ser um dos primeiros a serem caracterizados com mais detalhes, indo além dos parâmetros básicos de massa e diâmetro. Quem sabe algum deles, na zona habitável, retém uma atmosfera e a capacidade de conservar água em estado líquido na superfície, num ambiente favorável à vida? Só o futuro dirá –mas falta pouco agora.

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