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Salvador Nogueira

Estudo brasileiro aponta onde procurar sistemas similares ao solar

Análise de 192 estrelas traz correlação entre lítio e presença de planetas

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Estudando uma amostra de 192 estrelas similares ao Sol, um trio de pesquisadores no Brasil conseguiu estabelecer um forte vínculo entre a quantidade de lítio na composição estelar e a presença de planetas. Ao que tudo indica, estrelas com baixos níveis de lítio, a exemplo da nossa, têm maior chance de ser circundadas por um sistema planetário.

O trabalho foi realizado por Anne Rathsam, Jorge Meléndez e Gabriela Carvalho Silva, todos os três do Instituto de Geofísica, Astronomia e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), e publicado no periódico britânico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

O elo entre a abundância de lítio e a existência de planetas há muito vem sendo estudado pelos astrônomos, mas não é fácil cravar de forma inequívoca que ele exista. Afinal, muitas coisas diferentes podem influenciar a quantidade desse metal na composição estelar, desde a idade da própria estrela (sabemos que o lítio vai sendo destruído dentro dela com o passar do tempo) até o impacto de objetos que podem "poluir" sua alta atmosfera com o metal. Por isso é complicado enxergar com clareza e rigor matemático a correlação. Mas aparentemente esse novo trabalho chegou lá.

Concepção artística da formação de um sistema planetário
Concepção artística da formação de um sistema planetário - Nasa

Para isso, o trio explorou o espectro (a assinatura de luz, que denota a composição) de 36 estrelas que sabidamente têm planetas, além de outras 156 sem companheiros planetários detectados. Houve um cuidado de escolher apenas astros similares em massa, idade e abundância de elementos pesados nos dois grupos, para evitar qualquer viés que criasse uma falsa correlação.

Os dados colhidos com o espectrógrafo Harps, especializado no estudo de exoplanetas e instalado no telescópio de 3,6 metros do ESO (Observatório Europeu do Sul) em La Silla, no Chile, revelaram que estrelas sem planetas têm cerca do dobro da abundância de lítio que suas equivalentes com planetas.

Mais: análises estatísticas realizadas pelos pesquisadores indicam que a chance de essa correlação ser espúria, pura coincidência, é de algo como 1%. Ou seja, agora temos boas razões para acreditar que o fenômeno é real –menos lítio na estrela, mais planetas em volta.

A explicação para isso ainda não está totalmente clara, mas especula-se que ele ocorra porque a formação de planetas acaba incorporando boa parte do lítio presente no disco de acreção que daria origem ao sistema em questão. Isso, por sua vez, reduz a quantidade que acaba indo parar na estrela.

O mais interessante, contudo, é que o resultado ajuda indiretamente na busca por exoplanetas em estrelas parecidas com o Sol. A detecção desses astros por vezes exige anos de observações, ao passo que a composição química das estrelas pode ser determinada bem mais depressa. Dando uma olhadela para as gêmeas do Sol espalhadas pela Via Láctea, os astrônomos podem concentrar suas buscas naquelas que têm menos lítio e, portanto, maior chance de abrigar um sistema planetário parecido com o nosso.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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