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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu astronomia

Programa 'missão impossível' da Nasa banca estudo de voo interestelar

Enxame de miniveleiros viajaria até Proxima Centauri a 20% da velocidade da luz

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Uma das leituras mais interessantes do site da Nasa para quem gosta de ficção científica é a seleção dos projetos a serem apoiados pelo programa Niac, sigla em inglês para Conceitos Inovadores Avançados da Nasa. Ele banca pequenos estudos (a US$ 175 mil por ano) com ideias para o futuro. Na edição de 2024, tem um pouco de tudo, de avião para a rarefeita atmosfera de Marte a coletor de amostras do inferno escaldante de Vênus. Mas a proposta mais arrojada tem a ver com o desafio (quase) impossível de um voo interestelar.

O problema é simples de entender –e difícil de resolver. Uma espaçonave mandada ao espaço interestelar com propulsão química convencional (os bons e velhos foguetes) não poderia chegar à estrela mais próxima do Sol, Proxima Centauri, antes que se passassem dezenas de milhares de anos. Para cumprir a tarefa de superar os 4,2 anos-luz de distância em tempo razoável, é preciso atingir velocidades relativísticas, ou seja, que representem uma fração significativa de c, a velocidade da luz.

Thomas Eubanks, da empresa Space Initiatives, da Flórida, foi um dos agraciados pelo programa neste ano com a proposta de enviar um enxame de miniveleiros espaciais impulsionados por laser. A ideia é lançar à órbita milhares dessas pequenas naves, com uns poucos gramas cada, e então usar um canhão laser para acelerá-las a até 0,2 c, 20% da velocidade da luz. Na proposta, ele imagina que tal missão seja conduzida na segunda metade do século 21.

Concepção artística do planeta Proxima B, ao redor da anã vermelha Proxima Centauri, a 4,2 anos-luz daqui
Concepção artística do planeta Proxima B, ao redor da anã vermelha Proxima Centauri, a 4,2 anos-luz daqui - ESO/Reuters

Por que não agora? Porque ele precisaria de um laser com potência de 100 gigawatts, que não existe ainda, milhares de miniveleiros solares capazes de resistir ao lançamento, algo que não existe ainda, e o que ele chama de "baldes de luz terrestres" (essencialmente espelhos de telescópio) com área de 1 km2, que também não existem.

E por que um enxame de milhares de naves, em vez de uma só? Primeiro, para manter a redundância –mesmo que algumas sejam destruídas por colisões ou defeitos no meio do caminho, muitas hão de sobreviver à travessia. Segundo, porque uma nave pequena dessas, sozinha, não conseguiria manter contato com a Terra a distâncias interestelares. A solução seria colocar todas em sincronismo, disparando cada uma seu pequenino laser na nossa direção, para que o disparo coletivo se torne detectável (com os "baldes de luz"), transmitindo os dados para a Terra.

Um terceiro motivo: com um enxame de mininaves espalhadas, mesmo com as incertezas sobre a posição exata do planeta Proxima b, que orbita aquela estrela, algumas hão de passar perto dele para colher boas imagens.

Essa complicação toda mostra como é desafiador fazer voo interestelar com tecnologias próximas das atuais (ainda que extrapoladas a um nível mais elevado). Mas também é encantador que, mesmo com todas as limitações, já possamos sonhar com missões assim. É muito provável que essa proposta jamais passe da fase de estudo conceitual. Mas também não custa lembrar que o Niac financiou no passado outras ideias arrojadas que acabaram virando realidade, como um helicóptero marciano e nanossatélites em missões interplanetárias.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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