Morte Sem Tabu

Morte Sem Tabu - Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira
Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira

Cynthia Araújo estreia no Morte Sem Tabu

Cynthia é doutora em Direito. Escreveu o livro "Existe direito à esperança?"

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mulher de cabelos soltos no ombro, óculos escuros em ambiente aberto e um pôr-do-sol de fundo

Cynthia Araújo coautora do Blog Morte Sem Tabu Arquivo pessoal

Prezada Camila, boa tarde!

Meu nome é Cynthia Pereira de Araújo e faço pesquisa de doutorado em Teoria do Direito na PUC-Minas. Estou na reta final da minha tese, que é sobre direito à saúde ou direito à esperança, a partir de pacientes com câncer em estágio avançado, uma ideia que surgiu do meu trabalho como advogada da União. Em síntese, passei os últimos quatro anos lendo e escrevendo sobre câncer, morte e finitude e, mais recentemente, conversando com pacientes em fim de vida (não necessariamente terminais no sentido mais estrito do termo), médicos e outros profissionais de saúde.

Na Teoria do Direito (ou Filosofia do Direito), quase ninguém faz pesquisa empírica. Mas eu não via como falar deste assunto sem ir pra dentro do hospital e é o que eu venho fazendo nos últimos meses.

Eu não sei se você tem ideia da relevância do Morte sem tabu para pessoas que fazem pesquisas como a minha. É algo que fica ali para mostrar que não estamos doidos e que o nosso estudo é importante, que ele faz sentido. Eu não leio tudo, nem leio sempre. Mas sei que existe e que criou um oásis no meio do deserto. No seu primeiro texto (bem, acho que é o primeiro), você fala que as pessoas não falavam sobre câncer. No Imperador de todos os males, do Siddhartha Mukherjee, ele menciona o caso de uma paciente com câncer de mama que quer contar sua história para o NYT, se não me engano, e eles respondem que não publicam a palavra "câncer".

Eu venho tentando humanizar a tese em diversas frentes, tentando encontrar o ser humano fora do paciente e sua doença - por isso quis saber a impressão de jornalistas. Creio que enriqueceria muito minha tese se você pudesse falar um pouco sobre como vem sendo a recepção ao blog nos últimos anos e o tipo de retorno que você em geral tem das pessoas. Poderíamos conversar mais informalmente pelo telefone ou por e-mail mesmo - ou poderia ir até você (moro em Belo Horizonte). Caso isso não seja possível, não tem problema. Fica o meu registro de agradecimento e sucesso pelo seu trabalho.

Um abraço,
Cynthia (17/04/2018)

Prezada Cynthia,

Acabei de ler o primeiro texto que trocamos. O blog já existia há quatro anos e mais quatro se passaram desde nosso primeiro encontro. Sua contribuição para esse espaço tem sido cada vez mais relevante. Eu lembro de ter me identificado com suas palavras e ter adorado o fato de você estar desenvolvendo uma pesquisa com pacientes com câncer. É fundamental termos dados concretos para falarmos sobre o que significa qualidade de vida em sua fase final.

Os tabus nos prejudicam. Acabamos não discutindo um assunto tão pertinente a todos nós e vamos seguindo, vagarosamente, um processo de morte solitário e dolorido, apenas porque é "desse jeito". A primeira coisa que me chamou atenção em você foi o questionamento dos padrões, dessa forma automática como vivenciamos o final da vida. Nos identificamos nesse desejo de mostrar que existem escolhas e decisões que podem ser tomadas e antecipadas. Estamos aqui para informar e acolher relatos.

Você é uma autora mais do que natural para esse espaço e hoje se une ao 'oásis no meio do deserto' como você chamou. Esse que chama 'morte sem tabu' e ao mesmo tempo é tão cheio de vida, e de emoção! Você entra oficialmente para um portal que já não é mais visto como louco, ou mórbido. Hoje, o blog renasce. Agora somos em três mulheres que buscam desmistificar a morte e tratar com acolhimento e responsabilidade temas relevantes a todos nós.

Um beijo e seja bem-vinda!
Camila (8/02/2022)

Cynthia, querida,

Nos conhecemos por meio da morte. Poderia ser mórbido dizer isso se esse tema não fosse tão importante para nós: afetiva e socialmente falando.

De algum modo, a morte nos reuniu. Eu a Camila, em 2020. E, desde então, a você também, com suas reflexões sobre a esperança (ou falta dela), que vão ao encontro das minhas.

Venho pensando que falar sobre morte é um jeito de alcançar a vulnerabilidade do outro, sendo até mesmo uma abertura para falar sobre outros temas, tão ou mais duros.

Trocamos grandes mensagens em áudio, com longas reflexões, sobre as tantas mortes que nos atravessam. A morte do tempo, a morte dos sonhos, a morte de quem sequer pode pensar na morte.

Em novembro de 2021, nós três escrevemos juntas o texto de despedida de Marília Mendonça. Triste, porém necessário texto que reuniu as palavras dessas três mulheres que refletem sobre o fim.

Você já era uma parceira de longa data aqui do Morte Sem Tabu, mas com certeza a publicação desse texto nos aproximou ainda mais. Quando você escreve com outra pessoa, estabelece-se aí uma parceria, um contrato não dito de respeito e admiração pelos pensamentos orquestrados pelo outro. Suas reflexões vêm a somar grandemente nesse espaço, que, mesmo virtualmente, te abraça. Seja bem-vinda!

Um beijo,
Jéssica (04/02/2022)

A foto de perfil desse blog passa a ser, a partir de hoje, uma corujinha chamada Tabu, nosso mascote desenvolvido por Aline Flores, da Grou Agência.

Em sua estreia, Cynthia reflete sobre seu primeiro luto: Minha primeira morte. Quer compartilhar com a gente suas vivências e histórias sobre luto? Escreva para o e-mail: mortesemtabu@gmail.com

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