Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

Corridas de rua encolhem e ficam mais masculinas em 2022

Com otimismo moderado, setor prevê voltar aos níveis pré-pandêmicos em 2023

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Rodrigo Flores

Imagine encarar, ao final de uma longa corrida sob o sol, uma subida daquelas, bem íngreme, antes de cruzar a linha de chegada e poder, finalmente, comemorar e respirar aliviado.

A descrição acima é uma referência à São Silvestre, prova de rua mais famosa e tradicional do Brasil. Mas também funciona bem como metáfora para o atual estágio das competições semelhantes pelo país.

Após dois anos de pandemia, as provas começam a voltar, ainda que a passos lentos. E a expectativa dos organizadores é que os níveis pré-Covid sejam alcançados em 2023. Mas antes de chegar à Avenida Paulista, é preciso terminar de subir a temida Brigadeiro Luiz Antônio. Falta pouco, mas ainda falta.

Segundo levantamento da TicketSports, maior empresa brasileira de venda de ingressos para eventos esportivos de endurance (categoria que inclui as corridas de rua), os eventos realizados em 2022 perderam, em média, 40% dos participantes em relação ao registrado em 2019. "No primeiro semestre, os eventos aconteceram com 60% a 65% do seu público potencial. A expectativa é que esse número chegue a 80% no segundo semestre, e volte a 100% só no ano que vem", afirma Daniel Krutman, CEO e fundador da TicketSports.

Multidão corre na avenida Paulista com camisetas amarelas durante a São Silvestre
Corredores na avenida Paulista durante largada da corrida de São Silvestre no último dia de 2021. - Folhapress

O setor trabalha com um otimismo moderado. Uma pesquisa da Nielsen Sports divulgada no ano passado estimava que 13% de todos os corredores do mundo começaram a atividade depois de abril de 2020. E 9% desse contingente diz que a Covid-19 foi determinante para a prática do esporte. "O desafio é trazer esse novo corredor para as competições, mas estamos confiantes que uma hora ele vem", diz Marcos Pinheiro, fundador da Sportion MKT & Esporte e vice-presidente da Abraceo (Associação Brasileira de Corridas de Rua e Esportes Outdoor), entidade que reúne quase 100 empresas organizadoras de eventos esportivos no país.

Menos provas, menos gente. Mas não foi só isso que mudou. As corridas em 2022 tiveram alterações no perfil e no comportamento dos corredores. Abaixo listo algumas características desse "novo normal" (desculpem, prometo ser a última vez que vou usar essa expressão).

Menos mulheres

Mulheres eram maioria das participantes em provas de rua até 2018. A pandemia reverteu essa tendência e, em 2022, elas são 42% do total de inscritos nas provas. Ouvi algumas teorias sobre essa mudança. Uma delas é de que as corredoras são mais cautelosas para retornar aos eventos presenciais. Outra é de que elas trocaram a corrida por outras atividades físicas durante a pandemia. O fato é que as mulheres estão indo menos para as provas.

Onde estão os jovens?

É mais fácil encontrar um corredor de 60 anos do que um de 25 em provas de rua, segundo o levantamento da TicketSports. O grupo entre 25 e 29 anos representa 4,1% das inscrições, enquanto o segmento entre 60 e 64 anos compreende 5,8%. A idade média dos atletas é 45 anos.

O peso do bolso

Não foi só o arroz e o feijão que ficaram mais caros. Os custos de organização – e, consequentemente, os valores das inscrições para os atletas – também subiram. O dinheiro está curto para todo mundo. Os organizadores estão buscando alternativas, tais como oferecer kits mais baratos, sem camiseta, ou parcelar o valor da inscrição. O fato é que os custos elevados surgem como uma das principais justificativas para a queda no número de participantes.

Inscrição em cima da hora

O atleta já sabe que a pandemia aumentou a incerteza sobre a realização de eventos públicos. Hoje, o corredor prefere se inscrever em cima da hora, quando tem mais segurança que a sua prova não será cancelada. Esse comportamento adiciona uma dose extra de dificuldade para o organizador.

Público novo

Metade dos participantes de uma prova corre naquele evento pela primeira vez. Ou seja, a renovação é de 50%. Isso tem trazido um desafio adicional para os organizadores. "É um público que precisa ser informado sobre rotinas e protocolos das provas. Muitos não entendem por que não entregamos o kit de corrida no dia do evento", explica Pinheiro, da Abraceo.

Fim das corridas virtuais

As corridas virtuais – aquelas que acontecem em data e hora marcada, mas sem a organização e estrutura formal tradicional – estão desaparecendo. "As pessoas estão morrendo de vontade de se encontrar", avalia Pinheiro. A expectativa é que elas representem menos de 1% do setor nos próximos anos.

E você? Já teve a chance de participar de alguma prova neste ano? Conte as suas impressões nos comentários abaixo ou escreva para blognacorrida@gmail.com.

Rodrigo Flores

É jornalista. Foi diretor de Conteúdo do UOL e sócio do C6 Bank

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