Normalitas

Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis

Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto
Descrição de chapéu Natal

Cidades espanholas retomam máscara em locais abertos e toque de recolher

Variante ômicron já é maioria de casos em regiões como Madri e Catalunha

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Pinheiro de Natal com decoração natalina. Em lugar de bolas, um vírus de plástico vermelho
Árvore de Natal com decoração covidiana - Pixabay/Reprodução

—EU JÁ DISSE! NÃO É POR AÍ, É PELO OUTRO LADO! PORRA! SAFADOS, SEM-VERGONHA!!

Eu e meu compañero de apartamento estamos em nosso observatório preferido, a varanda do nosso quarto andar, contemplando o sujeito ululantemente ensandecido que vocifera na rua, a voz ecoando em l/o/o/p entre as paredes de edifícios do cruzamento.

—O que mais me surpreende –, comenta meu compi, sorvendo um goliño de café –, é que ele está louco, mas não tanto: espera o sinal verde e, déu meu*... usa máscara!!

​* déu meu: "meo deos" em catalão ​

***

Sábio louco, ou, pelo menos, obediente às novas regras da pandemia espanhola.

Desde o último dia 24, véspera de Natal, a máscara, compulsória em ambientes fechados desde priscas eras covídicas, voltou a ser obrigatória também ao ar livre em toda a Espanha.

A iniciativa é uma resposta à galopante alta de casos derivados da chegada da variante ômicron, que já é dominante em Madrid (80% dos casos) e Catalunha (mais de 50% dos casos).

Localmente, cada comunidade criou também suas regras anti-Covid natalinas. A Catalunha, onde os casos passaram de 319 a 526 por 100 mil habitantes na última semana, ressuscitou o toque de recolher entre 1 e 6 da manhã.

O governo local também lançou medidas para conter aglomerações em plena época de festas de fim de ano. Reuniões estão limitadas a 10 pessoas, e a ocupação máxima em diversos lugares, de lojas a academias de ginástica, foi reduzida a 50 a 70% da capacidade.

Discotecas e boates foram fechadas até segunda ordem. Bummer, num ano em que 60% das entradas pras festas de fim de ano já tinham sido vendidas, contra 40% em média num ano pré-pandemia. Povo tava com sede de balada, mas não vai ser desta vez.

A princípio, as novas medidas devem valer até 7 de janeiro, depois do dia de Reis (6), que é, aqui, o verdadeiro dia de trocar presentes, com mucha fiesta e procissões de cavalgada de reyes –por ora, não canceladas.

***

O espanhol não está contente, claro. Há uma perplexidade no ar e uma grande pergunta: se com vacinação e precaução não estamos contendo o vírus, quando vamos conseguir? Alguns epidemiologistas de referência nacional já falam em permanência endêmica.

Ainda assim, quase metade da população (46%, segundo pesquisa recente) é favorável a que se ampliem as medidas restritivas para enfrentar a tal Sexta Onda do vírus.

***

Pra minha ceia de Natal com uma amiga e um casal de amigos, todos fizemos o teste rápido. Assim na entrada do apê, mesmo, antes de destapar a cara amassada pela pff2 e tomar um vinhozim. Todos negativos. No fim da noite, dormi no sofá, porque estivemos sambando até às 3h (o que não faz a saudade de casa e uns vinhos Montsant na cabeça –eu sou a última sambista do universo), e eu não podia sair na rua por conta do toque de recolher.

Já o Natal do meu namorildo catalão foi mais emocionante. Em Canárias pra passar as festas com a família do pai, todos tinham feito testes antes de viajar, menos o irmão caçula, que começou a se sentir mal antes mesmo de chegar na ilha.

Ora, ora: covid-positive, o danado. Resultado: todo mundo fazendo testes de novo e isolando o menino. Meu namô foi parar num quarto de hotel, tomando cerveja de minibar na véspera do Natal. Ho ho ho.

—Tudo bem que todos da família fizeram o teste, mas e o povo no avião de ida?...

Meu companheiro de cela, digo, de casa, novamente. E suas verdades.

***

Enquanto os reis magos em terra de Opus Dei não vêm, a população de risco española vai recebendo doses de reforço, a Nova Narrativa da Esperança.

A eficácia da vacina é irrefutável, mas sabemos que não eterna: segundo declarou ao "El País" o chefe de Microbiologia do hospital barcelonês Vall D'Hebron, um dos mais importantes da Espanha, Tomàs Pumarola, as ditas funcionam, "mas a proteção contra a infecção diminui a partir dos seis meses".

Por isso, a partir de fevereiro, os certificados Covid, já obrigatórios pra entrar em bares, restaurantes e shows, vão passar a ter validade de 9 meses em toda a União Europeia.

Falando nilson... não me surpreenderia encontrar o certificado Covid no bolso do homem ensandecido supracitado. Até os loucos, se não são burros, sabem que é melhor prevenir que cloroquinar.

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