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Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis

Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto
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Teu QR por um cafezinho

Obrigatoriedade do passaporte Covid começa a valer na Espanha com multas muy salgadas

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Com a chegada do frio europeu, minha preguiça sobe o Everest.

Mas hoje bateu sol em Barcelowna e isso me deu coragem.

Me emperiquitei com a parafernália mofada de ginástica, legging pink básica pra pintar a sexta-feira de flamingo, e combinei de encontrar um amigo (outro preguiçoso) pra uma sessão de crossfit. Oh, excitement do bichus humanus regularis.

Mas hoje, esqueci, não é um dia normal, e mal sabia yo o périplo que me aguardava.

Bom, eu sabia que nesta primeira sexta (03) de dezembro começava a vigorar a regra de passaporte-digital-Covid-pra-tudo, como medida para conter o avanço de contágios e da variante ômicron (já são 4 casos identificados no país).

E, ainda que eu esquecesse, os cartazes na entrada de estabelecimentos comerciais já alertavam: sem certificado, não tem café, não tem almoço, não tem cinema. Mas tava tranquila, porque tinha o meu engatilhado no celular.

Na entrada da academia de ginástica do bairro, uma fila colossal. Os recepcionistas, escaneando o código QR dos certificados, gotinhas de suor escorrendo da testa de um, checavam em uma página oficial a validade dos ditos. Todo mundo passou sem problemas, até chegar a minha vez: peeéééééeée, luz vermelha, sinto muito, adeu.

Resumindo a historinha, saí dali direto pra outra fila gigantesca no meu posto de saúde, pra tentar entender o que estava acontecendo. Pensei que o problema pudesse estar relacionado com o fato de que, por ter tido Covid, a minha "vacinação completa" é de uma dose só.

Uma hora depois (eu devia ter aproveitado pra fazer uns agachamentos kegels enquanto esperava), me explicam que o certificado foi atualizado esta semana e que era só fazer o download de novo.

E lá vou eu pro site oficial, desejosa de obter meu novo certificado. Deu ruim: colapsada. Mesma coisa que aconteceu na semana anterior, quando o governo da Catalunha teve que adiar a obrigatoriedade do certificado por puro crash das redes.

***

Nesta sexta 03, primeiro dia da obrigatoriedade do passaporte Covid em bares, restaurantes, academias de ginástica, casas de repouso, boates e atividades culturais como teatros, cinemas e concertos em diversos lugares da Espanha, parece que quase todo mundo está obedecendo direitinho.

Até porque há multas que podem variar de 60 a 600 euros (de R$ 383 a R$ 3.837) pra quem for pego sem o certificado, e de 600 a 600 mil (ou seja, até R$ 3.875.021,91...!) pros estabelecimentos que não cumpram a normativa.

O certificado Covid informa se o portador recebeu a pauta completa de vacinação, teve o vírus nos últimos meses ou possui uma prova PCR negativa recente. Todos os maiores de 13 anos devem apresentar o documento. Também conhecido como passaporte Covid, vale pra entrar em determinados lugares públicos (algo que os governos regionais podem regulamentar) e para viagens entre países-membros da União Europeia.

Das 17 comunidades autônomas espanholas, até o momento somente 8 receberam autorização judicial para implementar a obrigatoriedade do documento, também conhecido como passaporte Covid —entre elas, Catalunha, País Basco e ilhas Baleares, que incluem Ibiza.

As regras podem variar um pouco conforme a comunidade. Nas Baleares, onde o nível de alerta atualmente é baixo, somente será exigida a documentação para locais com lotação máxima de mais de 50 pessoas. No caso de clubes de música eletrônica, se alguém for pego dançando sem máscara também estaria lascado. A máscara ainda é obrigatória em todos os espaços fechados no país.

***

No caso da Espanha, a obrigatoriedade do passaporte Covid por enquanto não parece estar causando tanta comoção —salvo os supracitados colapsos do site oficial pra emissão do tal.

A grande maioria da população já recebeu as duas doses: 79,3%, contra 80,9% com pelo menos uma dose. Grupos de risco, inclusive, estão no momento recebendo a terceira dose de reforço (até agora, 10,7% da população, incluindo 66% dos maiores de 70 anos).

A obrigatoriedade valerá pelo menos até janeiro, mas, como a gente já viveu algumas tantas vezes nos últimos quase dois (DOIS, XENTEM!) anos de pandemia, sempre pode nos aguardar alguma surpresiña na próxima esquina.

Finalmente com meu certificado atualizado e aprovado, lá vou eu de pink pra tentar mexer o corpiño parte II.

No caminho, paro num Café Preferido —sabe, desses que guardam encantos discretos, como um dono sorridente, umas cadeiras confortáveis, um papo fático pra alegrar a manhã, talvez um alheamento do mundo... Na entrada, um papel sulfite com o aviso da obrigatoriedade do QR. Avanço, decidida, pro balcão, mas a única pergunta que recebo é: "leite quente ou frio?". Vai ser um longo inverno...

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