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Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis

Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto
Descrição de chapéu Rússia câncer

'Pior do que a pandemia'

Primeiros pacientes oncológicos mirins chegam à Espanha vindos de Kiev; país espera receber milhares de refugiados nos próximos dias

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"Isso aqui vai ser pior do que a pandemia".

O desabafo é de uma médica do hospital Vall d'Hebron, um dos maiores da Espanha.

Localizado na parte alta de Barcelona, perto das montanhas que rodeiam a cidade, o complexo, como outros do país, está se preparando para receber refugiados ucranianos.

Na última sexta-feira (11), o governo central espanhol anunciou a chegada dos primeiros 30 pacientes oncológicos pediátricos ucranianos, trazidos junto com familiares graças à ação da ONG Aladina. A maioria será alocada em Madrid.

"Podemos calcular quantas pessoas ou soldados morrerão nos ataques, mas nunca quantos pacientes não foram diagnosticados a tempo (...) ou quantos morreram porque não receberam tratamento", disse Lesia Lysytsia, médica ucraniana do principal hospital infantil de Kiev, em entrevista à NBC dias atrás.

Doenças como o câncer não esperam a guerra passar.

Com os ataques, Lysytsia se mudou pro hospital com marido e duas crianças pequenas para cuidar de outros pequenos.

Transferidos todos para o porão, onde não chega a luz do dia, alguns dos pacientes se encontram em estado grave, demasiado grave para ser removidos –bebês de meses no soro ou crianças passando por tratamentos de quimioterapia, por exemplo. São duas guerras, são muitas.

No início desta semana, alguns ônibus conduziram pacientes mirins e familiares a Lviv, cidade a oeste do país e um dos principais destinos dos que abandonam as zonas de combate. Uma viagem de até cinco dias passando por áreas vulneráveis.

Por enquanto, ficaram para trás os que não têm como sair. No hospital, estão sendo atendidas também crianças feridas em ataques.

***

Ao contrário da fronteiriça Polônia, até o momento a Espanha não recebeu mais do que um milhar de refugiados, ao menos pelas contas oficiais. A maioria, vindos por intermédio de familiares ou conhecidos que já estavam aqui.

O governo espanhol, com o apoio de ONGs e administrações locais, vem se mobilizando para receber mais gente em breve.

A acolhida será oferecida em diferentes espaços, todos os possíveis: casas de repouso, abrigos, hostels, refúgios criados para recepção de pessoas vítimas de violência doméstica etc.

Esta semana, o ministro de Inclusão, Seguridade Social e Migrações, José Luís Escrivá, confirmou que a Espanha está preparada para receber 12 mil refugiados ucranianos e, se necessário, mais. Espera-se uma vinda em massa nos próximos dias. "Temos que estar preparados para [receber] uma quantidade considerável [de refugiados]".

***

Em alguma esquina de Barcelona, dias atrás, conheci uma ucraniana.

Na real, só sabia que era gringa, como eu. Estávamos rindo e conversando sobre amenidades enquanto compartilhávamos um momento casual num balcão de uma cafeteria.

De repente, ela ficou séria. "Sou ucraniana", disse. "Minha família segue em uma cidade perto de Kiev. E não sei o que fazer. Estou desesperada".

Eu a abracei. Ela chorou. Choramos. Murmurei umas patetice. O que dizer, o que fazer, o que importa. Ela saiu às pressas com um croissant enrolado num guardanapo, estava atrasada pro trabalho. Vida, esse absurdo.

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Para colaborar com o crowdfunding da ONG Aladina, acesse aqui.

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