Um grupo de 17 jornalistas da Folha criou o Comitê de Inclusão e Equidade para atuar dentro da Redação do jornal na promoção da diversidade. O comitê é uma das medidas criadas após a carta de mais de 200 jornalistas em reação à publicação de um texto de Antônio Risério, em que o antropólogo acusa negros de racismo contra brancos.

Após o episódio, os textos que tratam de racismo estão sob embargo na Folha. Na prática, isso quer dizer que eles serão lidos pela Secretaria de Redação para avaliação. O embargo permite que textos possam ser lidos por mais pessoas e aprimorados.

O comitê atuará dentro e fora das editorias do jornal com o objetivo de sugerir e desenvolver projetos que tornem a Folha mais inclusiva e equânime quando o assunto é raça, cor, etnia, gênero, orientação sexual, classe e pessoas com deficiência.

A primeira reunião do comitê com a Secretaria de Redação e com o diretor de Redação, Sérgio Dávila, aconteceu em 7 de abril.

Na ocasião, foram discutidas sugestões para ampliar a diversidade de fontes consultadas pelo jornal, de modo que o conteúdo publicado pela Folha reflita a variedade da vida social no Brasil, com especial atenção para os atores historicamente marginalizados. Intelectuais e especialistas negros de diversas áreas afirmam que são procurados por jornalistas para entrevistas apenas quando o assunto abordado é racismo.

No âmbito do que pensa a Folha, o comitê questionou os secretários, secretárias e o diretor de Redação sobre a possibilidade de o jornal rever sua posição contrária às cotas raciais.

Sobre o assunto, Dávila disse que a decisão ainda não foi tomada e que todas as possibilidades estão sobre a mesa. O diretor de Redação disse também que o tema vem sendo discutido com o Conselho Editorial da Folha.

Para o comitê, a reavaliação e eventual mudança de posição em prol das cotas raciais vão ao encontro da produção do jornal que, reiteradamente, mostra por meio de reportagens e de produtos como o Ifer (Índice Folha de Equilíbrio Racial) que as cotas têm se mostrado efetivas ao incluir alunos estudantes pobres e negros, preservando a qualidade do ensino.

Em 2019, pretos e pardos se tornaram maioria no ensino superior público pela primeira vez, chegando a 50,3%, segundo informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A política de cotas vigente, assim como programas de apoio aos estudantes, foi um dos fatores que levou ao avanço, segundo o instituto.

Também foi pauta da reunião o censo da Redação, um levantamento interno feito pelo Datafolha para auxiliar na compreensão sobre quem são os profissionais da Folha e quais são as suas críticas e sugestões, entre outros pontos. Discutiu-se a possibilidade de tornar públicas as informações referentes à diversidade para levar ao leitor maior transparência.

O comitê é composto por 12 jornalistas negros, 5 brancos, 11 mulheres e 6 homens, sendo um homem transgênero e uma travesti. O grupo se reúne trimestralmente com Flavia Lima, secretária-assistente de Redação e editora de diversidade, que encaminhará as demandas à Direção.