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Representação de mulheres na mídia reflete preconceitos culturais como o machismo, mostra estudo

Empresa de consultoria de comunicação analisou mais de 14 milhões de notícias com menção explícita de gênero em 12 países

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Campinas

A forma como mulheres são projetadas pelas mídias e veículos de comunicação reproduz vieses e preconceitos presentes na sociedade. Desde o protagonismo feminino à frente da notícia até a escolha do que merece destaque em sua trajetória, veículos reforçam padrões tendenciosos e patriarcais, segundo levantamento realizado pela LLYC, empresa global de consultoria de comunicação.

A companhia realizou o estudo "Mulheres sem nome: Avanço da presença das mulheres na mídia e o desafio que ainda subsiste", que analisou mais de 14 milhões de notícias com menção explícita de gênero publicadas em 2022 em países como o Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, México, Panamá, Peru, Portugal e República Dominicana.

Ilustração de Aline Souza que mostra duas mulheres dialogando. A da esquerda possui cabelos longos e blusa regata verde e segura uma prancheta amarela, enquanto a outra tem os cabelos presos em coque, usa uma blusa rosa e, com uma caneta, assina a prancheta.
Ilustração de Aline Souza que mostra duas mulheres dialogando. A da esquerda possui cabelos longos e blusa regata verde e segura uma prancheta amarela, enquanto a outra tem os cabelos presos em coque, usa uma blusa rosa e, com uma caneta, assina a prancheta - Aline Souza

O objetivo era mapear como a visibilidade do talento feminino, fundamental para promoção da igualdade de gênero, é retratada na mídia e entender as relações entre cultura e comunicação.

De acordo com o estudo, a menção explícita de gênero é 2,3 vezes mais frequente quando mulheres são citadas pelo texto do que quando há homens.

O fenômeno foi nomeado como "sobrenome feminino" para denunciar que, em geral, a associação de um cargo, setor ou esporte ao masculino é socialmente naturalizada, enquanto a presença de mulheres geralmente não é levada em consideração se não estiver categorizada como tal. Um exemplo é o caso do futebol (masculino) e futebol feminino, cuja menção do gênero só aparece quando se trata delas.

O estudo também identificou que o nome das mulheres aparece 21% menos nas manchetes do que o dos homens. No caso de temas como esporte, ciência, liderança ou cinema, o nome feminino aparece 40% menos que o dos homens nos títulos. Esse padrão contribui para o enfraquecimento da figura feminina enquanto indivíduo, contribuindo para uma generalização que leva ao apagamento.

Um exemplo seriam títulos como "Uma mulher pode ser a nova presidente dos Estados Unidos", no caso delas, em contraposição a "Barack Obama pode ser o novo presidente dos Estados Unidos", quando se trata deles.

Já no lado da produção, o levantamento aponta que, na maioria dos países do mundo, os homens assinam 50% mais notícias do que as mulheres. Na análise de autoria por país, até 80% das notícias são publicadas sem autor, enquanto as notícias assinadas têm, em sua maioria, uma assinatura masculina.

Na República Dominicana, os homens assinam três vezes mais notícias do que as mulheres, enquanto nos Estados Unidos eles assinam 8% mais reportagens do que as mulheres. Portugal é o país onde homens e mulheres assinam notícias quase em igualdade, enquanto a Colômbia é o único país onde há mais mulheres do que homens assinando notícias em cinco das oito seções analisadas.

Há ainda uma diferença entre homens e mulheres determinada pelos temas de publicação. As seções de saúde, eventos e sociedade são onde mais mulheres assinam, cerca de 45%. Esporte, tecnologia e economia têm menos escrita feminina, em torno de 25%.

Esse padrão pode reforçar a ideia de que determinados assuntos são naturalmente masculinos, precisando ser especificado quando o destaque vem da mulher.

Nesse sentido, o estudo propõe que o uso de "feminino" como categoria pode contribuir para uma divulgação mais ampla em segmentos onde a liderança de mulheres é pouco presente. Além disso, 50% das notícias sobre elas são acompanhadas do "sobrenome feminino". Sem o recurso de diferenciação do masculino, metade da produção sobre elas desapareceria.

Outro destaque do estudo diz respeito à dupla vitimização feminina. A cobertura da violência contra a mulher continua a centrar-se na vítima e não no agressor. Em geral, notícias sobre abusos tornam as vítimas protagonistas da ação, em vez de destacar a responsabilidade do criminoso.

Mulheres são mencionadas três vezes mais do que os homens quando se fala em violência e duas vezes mais em situações de assédio. Mesmo quando ele é mencionado, o termo "mulher" tem 20% mais chances de aparecer na manchete do que "homem". Isso contribui para um reforço da ideia de que a responsabilidade de ter sido agredida é dela, e não dele.

É necessário um esforço de sensibilidade, ética e coerência de abordagem nas informações sobre violência sexista e o tratamento das mulheres nessas matérias, diz o estudo.

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