Ouvi desde pequeno, de pessoas ponderadas, que, se um dia eu viesse a ser vítima de um assalto, jamais deveria reagir.
Por quê? Porque os assaltantes podem estar armados –geralmente estão– e, no caso de resistência, a vítima pode ser não apenas agredida, mas morta.
Em um país no qual a criminalidade assusta as pessoas, sou afortunado para dizer que passei uma única vez por uma situação de roubo, quando tinha 19 anos.
Um garoto com, calculo, a mesma idade que eu tinha, mais alto, magro, abordou-me na rua, bem cedo –eu me deslocava a pé para pegar o transporte para a faculdade–, e anunciou: "Passa o relógio".
A rua estava vazia, não havia a quem recorrer. E correr, mesmo eu sendo rápido, não se mostrava uma opção atraente.
Vi que ele tinha um objeto afiado na mão, talvez um canivete, e nessa hora decidi ficar sem ter como ver as horas.
É verdade que deu, um segundo antes, vontade de reagir, mas felizmente tive uma ponderação inconsciente e não o fiz.
Em menos de um minuto, um relógio perdido, um baita susto, e só. Saí no lucro.
Porém não é só no Brasil que há bandidos. E futebolistas, especialmente os mais endinheirados, são visados mundo afora.
Não é inusual, de tempos em tempos, ler uma notícia de que assaltantes conseguiram entrar na residência de determinado jogador para furtar o que de valor encontrarem.
No caso do furto, pelo menos não se passa pela sensação de o ladrão estar com você. O roubo é aflitivo, e não se sabe se será possível sair ileso.
Um jogador brasileiro, de um grande clube inglês, decidiu arriscar. Reagiu a um assalto. Quis a sorte ou o destino que ele não se desse mal.
Quem relata o caso, ocorrido em agosto, é o diário britânico Daily Mail, com informações da polícia inglesa.
O atleta em questão é o zagueiro Gabriel Magalhães, titular do Arsenal, que esteve, como reserva, nas mais recentes partidas da seleção brasileira pelas Eliminatórias da Copa de 2022, contra Colômbia (1 a 0) e Argentina (0 a 0).
O beque de 23 anos voltava com um amigo para sua casa, à noite, e foi seguido por assaltantes, interessados em roubar seu Mercedes preto, avaliado em € 45 mil (R$ 287 mil).
Ao estacionar na garagem, Gabriel foi abordado por um dos ladrões, que estava com um capuz na cabeça e armado com um taco de beisebol. Inicialmente, o jogador ergueu as mãos e entregou-lhe o que parecia ser a chave do carro.
Momentos depois, no entanto, houve uma reação, com tentativa do jogador, que tem 1,90 m, de segurar o assaltante, que tentou utilizar o taco, sem sucesso, e na sequência saiu correndo, assim como seu cúmplice, da casa.
Não sou conselheiro, porém, se fosse, aconselharia: não faça o que Gabriel fez.
E se os bandidos estivessem não com um taco de beisebol, mas com uma arma de fogo?
Gabriel não perdeu o carro, mas poderia ter perdido algo muito mais valioso: a vida.
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