A final do Mundial de Clubes, um jogo muito disputado, com evidente superioridade do Chelsea sobre o Palmeiras –mais posse de bola (70% a 30%) e mais finalizações (22 a 11)–, teve como personagem principal a arbitragem. Ou, mais especificamente, a videoarbitragem.
Nenhum jogador brilhou individualmente, taticamente os rivais tentaram cumprir o que se esperava –o Chelsea com a iniciativa, o Palmeiras no contra-ataque–, e quem decidiu a partida mesmo foi o VAR (árbiro asistente de vídeo), essa figura que não aparece nas câmeras mas que tem um poder de influência enorme.
Na partida em Abu Dhabi (Emirados Árabes), o VAR foi representado pelo italiano Massimiliano Irrati. O árbitro de campo era o australiano Christopher Beath.
A decisão teve dois pênaltis, um para cada lado, e ambos só foram assinalados depois que Irrati recomendou a Beath que analisasse lances que ele considerou normais.
Nessas duas jogadas, de fato a bola bateu na mão, dentro da área, tanto de Thiago Silva, do Chelsea, como de Luan, do Palmeiras.
Nas duas, não pareceu que os jogadores tiveram a intenção de tocar a bola com a mão. Só, que, pela regra, ao não estar com o braço colado ao corpo, os atletas colocaram-se em uma situação de risco de cometer a infração.
Diz um trecho da regra 12 do futebol, sobre mão na bola, que deve ser marcada falta se o jogador da defesa "toca a bola com a mão/braço quando isso torna seu corpo anormalmente maior".
"Considera-se", continua o texto, "que um jogador tornou seu corpo anormalmente maior quando a posição de sua mão/braço não é consequência ou justificável do/pelo movimento corporal para aquela situação específica. Ao colocar a mão/braço nessa posição, o atleta corre o risco de sua mão/braço ser atingida(o) pela bola e ser penalizado."
No lance que resultou no pênalti palmeirense, convertido por Raphael Veiga, claramente Thiago Silva saltou, em disputa aérea com Gustavo Gómez, com o braço erguido. A bola resvalou em sua mão. Pênalti. Acerto do VAR.
O incrível é que Thiago Silva cometeu o mesmo erro (pular na área defensiva, para cabecear, com o braço erguido) que resultou na marcação de um pênalti para o Paraguai, contra o Brasil, na Copa América de 2015.
Passados quase sete anos, ele ainda não aprendeu que não deve fazer isso. Preocupante, pois é titular da seleção brasileira e neste ano tem Copa do Mundo. Que possa aprender até lá.
Na jogada que decretou a derrota do Palmeiras, Luan foi muito infeliz. Estava muito perto de Azpilicueta quando o espanhol chutou; estava mesmo com o braço esquerdo afastado do corpo; e teve o azar de a bola ir direto na mão.
A ação, mesmo involuntária, de Luan interferiu no arremate do capitão do Chelsea, porque a bola passaria se o braço não estivesse ali.
Toque involuntário? Sim. Mas então era necessário, para evitar o pênalti, que o zagueiro não desgrudasse o braço do corpo? Também sim.
O defensor precisa, sempre, 100% das vezes, para evitar cometer infração, estar com o braço junto ao tronco. Pois a regra assim exige.
(Se a regra deve ser modificada ou não, é tema para debate. Deve um jogador ser punido por a bola tocar em sua mão/braço, em um movimento não proposital, sem estar com o braço escancaradamente aberto, em um lance em que ele estava muito próximo do adversario, como no caso de Luan?)
Desse modo, por cumprir a regra, o VAR novamente acertou. Havertz bateu a penalidade máxima com competência e deu ao Chelsea o inédito título mundial.
Na partida no estádio Mohammed Bin Zayed, na capital emiradense, o VAR, de quebra, ainda interveio para que um jogador do Palmeiras, o mesmo Luan, fosse expulso.
Perto do término da prorrogação, Luan era o último homem de linha, em corrida mano a mano com Havertz, e atingiu o rival, pelo lado, com um carrinho, na entrada da área. Beath, o juiz de campo, nada marcou.
Momentos depois, o VAR pediu-lhe que olhasse o lance no monitor. Realmente foi falta, e realmente era digna de expulsão.
O protocolo do VAR permite a ele que interfira em "incidentes" referentes a "cartão vermelho", ou seja, pode alertar o árbitro de campo no caso de exagero ao mostrar esse cartão ou no caso de não exibição do mesmo quando deveria tê-lo feito.
Em resumo: num jogo em que o favorito Chelsea não brilhou e o azarão Palmeiras deixou a desejar (muita transpiração, pouquíssima inspiração), o prêmio de "homem do jogo" poderia muito bem ter sido dado ao VAR italiano.
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