"No verão passado vivemos a alegria mais bonita, e agora, a maior das frustrações."
Roberto Mancini, o treinador da seleção italiana, resumiu assim a gangorra por que ele e seus comandados passaram em um intervalo de pouco mais de oito meses.
Em julho passado, a Squadra Azzurra estava no alto: superou a Inglaterra em Londres, em pleno Wembley, nos pênaltis para se sagrar campeã da Eurocopa multissede.
Melhor da Europa, a Itália, teoricamente, não teria problema para se classificar para a Copa do Mundo.
Pois não se classificou.
Primeiro, acabou em segundo lugar em sua chave nas Eliminatórias, atrás da Suíça. Essa posição a empurrou para a repescagem.
Depois, ao perder em casa (Palermo) para a Macedônia do Norte, com um gol nos acréscimos do segundo tempo, a Itália caiu, despencou, desmoronou.
Trajkovski causou a tragédia. Mais precisamente, o pé direito de Trajkovski, em um chute preciso de fora da área, fora do alcance de Donnarumma.
Os italianos desperdiçaram seguidas chances de fazer o gol no rival, dando a chance para um velhíssimo ditado do futebol prevalecer: "Quem não faz toma".
O gol inesperado, que cravou o 1 a 0 final no placar, foi um assombro para todos. Um espanto, um choque.
Partida encerrada, nem os jogadores macedônios, ajoelhados no gramado do estádio Renzo Barbera, pareciam crer no que acabavam de concretizar.
A tetracampeã mundial sucumbia diante da ex-república iugoslava, um completo azarão que nunca foi a uma Copa do Mundo –e para ir ainda precisará passar por Portugal.
A Itália ficava fora de uma Copa do Mundo pela segunda vez consecutiva – já não se classificara para o Mundial de 2018, na Rússia.
É a primeira vez na história que isso acontece. A Azzurra só não esteve na Copa inaugural, em 1930 (Uruguai), e na de 1958 (Suécia).
No futebol, a queda geralmente é coletiva. Diante da Macedônia, pode-se afirmar que foi esse o caso. Ou não?
No trágico (para a Azzurra) gol de Trajkovski, o mais próximo adversário do atacante era o ítalo-brasileiro Jorginho, eleito o melhor jogador da Europa em 2021.
Ao reclamar de um toque de mão do camisa 9, Jorginho atrasou-se na marcação dele. Chegaria a tempo de travar o arremate, se não perdesse tempo? Talvez.
Porém isso é hipotético, e não dá para responsabilizar o volante pela derrota.
Só que o próprio Jorginho se responsabiliza pela não ida da Itália ao Mundial do Qatar, que será no fim deste ano.
Não por esse lance que resultou no gol de Trajkovski. Não pela sua atuação na partida contra a Macedônia.
A culpa que Jorginho sente é por ter permitido que esse jogo se realizasse. Pois ele teve a oportunidade –não uma, mas duas vezes– de evitar que a Itália fosse para a repescagem.
Nos dois confrontos diretos entre Itália e Suíça (0 a 0 na Basileia e 1 a 1 em Roma), Jorginho errou um pênalti. Assim, a Suíça se manteve na disputa pelo topo do grupo.
Muito abalado depois da eliminação, o camisa 8 declarou que terá de conviver com essa assombração para sempre.
"Dói quando penso nisso. Vai me assombrar pelo resto da minha vida", declarou o catarinense de 30 anos, que atua pelo Chelsea, à TV italiana Rai Sport.
"Estando lá [na marca do pênalti] duas vezes e não ser capaz de ajudar seu time e seu país é algo que carregarei para sempre. É um grande peso para mim."
Apesar do revés, o presidente da Federação Italiana de Futebol, Gabriele Gavrina, disse que gostaria que o treinador Mancini prosseguisse no comando da Azzurra.
Caso o técnico decida não continuar, o mais cotado para assumir o cargo é o ex-zagueiro Fabio Cannavaro, capitão da Itália campeã na Copa do Mundo de 2006.
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