O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Ajuda da arbitragem ao Brasil na 'Copa de Garrincha' faz 60 anos

Duas marcações, uma na sequência da outra, evitaram que a seleção perdesse da Espanha e pudesse seguir rumo ao bi

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"Só vi que foi pênalti revendo o lance. Na hora, na dúvida, dei dois passos. O árbitro estava longe, não viu. Foi pura malandragem, daquelas que a gente aprende nas peladas."

Essa frase, publicada na revista Placar, é do lateral-esquerdo Nilton Santos (1925-2013), apelidado "Enciclopédia do Futebol", sobre um dos lances mais polêmicos das Copas do Mundo.

Aconteceu há exatos 60 anos, no dia 6 de junho de 1962, no Mundial no Chile, quando Brasil e Espanha faziam o jogo final de cada seleção no Grupo 3.

O Brasil, atual campeão do mundo, liderava a chave, e com um empate se classificava para os mata-matas.

A Espanha, com um time decente e reforçado pelo lendário Puskás (o maior nome do futebol húngaro, que depois obteve a cidadania espanhola), precisava da vitória para avançar.

No estádio Sausalito, em Viña del Mar, pouco mais de 18 mil torcedores acompanhavam uma ótima exibição da seleção europeia, que saiu na frente aos 35 minutos do primeiro tempo, com Adelardo, e era superior a um Brasl sem Pelé, que se contundira na partida anterior.

O goleiro Gylmar, com boas defesas, impedia os espanhóis de ostentar uma vantagem mais ampla.

No segundo tempo, o panorama não mudou, e o lance a que se referiu Nilton Santos aconteceu aos 11 minutos.

O capitão da Espanha, Enrique Collar, avançou pela ponta direita, passou pela marcação de Zagallo e entrou na área, onde estava Nilton Santos. O brasileiro esticou a perna esquerda e houve o choque. O atacante caiu.

Pênalti. Só que não. Nilton Santos, espertamente, aproveitando-se de que o árbitro, o chileno Sergio Bustamante, não estava bem colocado, deu passos para a frente e se posicionou próximo à linha da grande área, mãos na cintura, como se indicasse que a falta tivesse sido fora dela.

Há muita gente que, ao observar a jogada, afirma que nem infração foi. Conclusão difícil. Nilton Santos fez o movimento em direção ao rival e não atingiu a bola. Collar, perna esquerda do brasileiro à frente, esbarrou nela ao avançar e despencou. Cavou? Pode ser.

O primeiro fato é que o próprio Nilton Santos considerou penalidade máxima, conforme suas palavras ("só vi que foi pênalti revendo o lance").

O segundo fato é que a malandragem dele deu resultado, e não houve a marcação do pênalti, mas de falta rente à risca da grande área.

Esse é o lance mais famoso lembrado dessa partida alusivo a favorecimento à seleção brasileira. Só que não foi o único nem o mais escandaloso.

Esse veio logo a seguir, na cobrança da falta. Puskás ergueu a bola na área, a defesa brasileira tirou de cabeça para o meio da área. A bola subiu e, na queda, Joaquín Peiró acertou uma linda bicicleta e colocou a bola no ângulo de Gylmar.

Seria o 2 a 0, porém Bustamante ergueu o braço e anulou o gol. Por quê? Um mistério não resolvido até hoje, e que possivelmente jamais será. Vi o lance dezenas de vezes e não encontrei irregularidade alguma.

Terceiro fato: depois disso, o Brasil melhorou, e em duas jogadas pela linha de fundo, uma de Zagallo e outra de Garrincha, virou o jogo, com dois gols de Amarildo, o Possesso, substituto de Pelé.

O Brasil avançava, a Espanha ficava pelo caminho, em dois dos erros mais clamorosos em Copas do Mundo. Seguramente, as falhas de arbitragem registradas no menor intervalo de tempo a favor de determinada seleção.

Na "Copa de Garrincha", eleito o melhor jogador da competição, tendo sido um dos artilheiros do Mundial, com quatro gols (dois deles na semifinal contra o Chile) e duas assistências, afora os dribles desconcertantes e as arrancadas fulminantes, a arbitragem de Bustamante foi determinante para o bicampeonato do Brasil.

Em tempo: Essa não foi a única vez que o Brasil foi favorecido em uma Copa do Mundo. Houve outras, e uma das que me lembro ocorreu na campanha do pentacampeonato, em 2002, no Mundial da Coreia do Sul/Japão. Nas oitavas de final, com 0 a 0 no placar, Marc Wilmots, o capitão da Bélgica, ganhou de cabeça de Roque Júnior e fez o gol. Vi e revi a jogada: limpa, sem falta. Porém o tento do centroavante foi anulado pelo árbitro jamaicano Peter Jam Prendergast. Resultado final: Brasil 2 x 0 Bélgica.

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