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O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Guardiola troca clube mexicano nacionalista; conheça times que vetam forasteiros

Treinador do Manchester City afirmou que o América só usa jogadores 'puros', mas quem o faz é o Chivas Guadalajara

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Com fama de conhecedor profundo do futebol, o treinador espanhol Pep Guardiola, que comanda com competência o Manchester City, cometeu um erro que pode ser considerado crasso, há poucos dias, na pré-temporada da equipe inglesa nos EUA.

Em entrevista antes da partida contra o América do México, em Houston, que seria vencida pelo Man City por 2 a 1, Guardiola fez um comentário sobre o rival, clube tradicionalíssimo na América do Norte, tendo sido criado em 1916.

Depois de se declarar um admirador do futebol mexicano, ele foi indagado sobre qual seria o tamanho da complicação de ter o América, maior ganhador do campeonato nacional do país, como oponente.

"Isso não sei dizer. Mas o clube tem uma história, fiquei sabendo que o América é especial porque joga com mexicanos puros", afirmou Guardiola, que antes de começar a carreira de técnico no Barcelona atuou por uma temporada (2005/06) no Dorados de Sinaloa, hoje na segunda divisão do México.

Vestido com um agasalho esportivo azul claro que tem o escudo do Manchester City, o treinador Pep Guardiola, com o microfone à sua frente, dá entrevista em Green Bay, nos Estados Unidos
O técnico do Manchester City, Pep Guardiola, concede entrevista em Green Bay durante a pré-temporada do time inglês nos Estados Unidos - Kamil Krzaczynski - 22.jul.2022/AFP

Ao mencionar mexicanos "puros", a referência era ao elenco contar somente com futebolistas originários do México, não havendo a presença de estrangeiros.

Só que Guardiola não podia estar mais equivocado. ​O América permite forasteiros, tanto que tem no plantel nada menos do que dez atletas que não são mexicanos. Dois deles, Jorge Meré e Álvaro Fidalgo, são compatriotas do treinador.

Ou seja, na preparação para o amistoso Guardiola nem sequer quis saber quem fazia parte do América, o que enfraquece bastante seu discurso de apreciar o futebol do México –pelo menos historicamente falando.

O técnico confundiu o América com um de seus maiores rivais, o Chivas Guadalajara, esse sim conhecido por atuar somente com jogadores mexicanos.

Acerca dessa praxe, que consta nos estatutos do clube, houve uma dúvida recente, já que o Guadalajara contratou Santiago Ormeño, que nasceu no México porém obteve a cidadania peruana.

O clube esclareceu que a presença do atacante não desrespeita os princípios da agremiação:

"O segundo parágrafo da cláusula quinta dos estatutos estabelece que no Chivas ‘só podem jogar mexicanos de nascimento’, ou seja, pessoas nascidas em território nacional ou com pais de nacionalidade mexicana, de acordo com o artigo 30 da Constituição mexicana. Santiago Ormeño nasceu na Cidade do México e, portanto, é mexicano de nascimento".

O jogador Santiago Ormeño, que nasceu no México e obteve a nacionalidade peruana, posa com a camisa do Chivas Guadalajara
O jogador Santiago Ormeño, que nasceu no México e obteve a nacionalidade peruana, posa com a camisa do Chivas Guadalajara - Reprodução/Site do Chivas Guadalajara

O clube de Guadalajara está entre alguns no mundo que prezam por esse lado nacionalista, sendo proibitivos no que se refere a "gringos" em suas fileiras. Esse tipo de atitude é comumente relacionado a xenofobia.

Um dos times mais famosos a seguir esse preceito é o Athletic Bilbao, da Espanha.

No ano passado, fiz contato com o clube com o seguinte questionamento: "Por que o Athletic não tem jogadores forasteiros no elenco? Há uma razão específica?".

Quem deu a resposta foi Javier Ucha Marquiegui, responsável pelas relações exteriores da agremiação basca, fundada em 1898.

"O Athletic só joga com atletas do País Basco, ou seja, não apenas não atua com estrangeiros como tampouco contrata jogadores do restante da Espanha."

"Essa filosofia do Athletic está vigente por toda a sua história. De fato, inicialmente todos os times tinham essa forma de jogar. Os jogadores de uma região enfrentavam os de outra região. Com o tempo, as equipes mudaram sua forma de agir, contratando atletas de outras regiões, porém nós mantemos nossa filosofia inicial."

"É importante deixar claro que não há nenhuma relação com racismo ou xenofobia. No Athletic podem jogar atletas de qualquer raça, desde que tenham nascido no País Basco ou que tenham tido sua formação esportiva no País Basco."

Abraçados lateralmente, jogadores do Atlhetic Bilbao fazem um minuto de silêncio antes de partida contra o Betis no Campeonato Espanhol
Jogadores do Atlhetic Bilbao, equipe que só atua com atletas ligados ao País Basco, fazem um minuto de silêncio antes de partida contra o Betis no Campeonato Espanhol - Cristina Quicler - 13.mar.2022/AFP

O País Basco caracteriza-se pelo forte nacionalismo, com forte valorização de seus costumes e de sua cultura. É uma das regiões espanholas, juntamente com a Catalunha, que conta com grupos que almejam a independência em relação ao poder central.

Há outros clubes que seguem o mesmo modelo que exclui estrangeiros, conforme texto publicado pelo Top Soccer Blog em dezembro passado.

Entre eles estão:

  • o El Nacional, equipe de grande expressão no Equador (13 vezes vencedor do campeonato nacional), atualmente na segunda divisão do país, que carrega o apelido de "Os Nativos";
  • o Desna, da Ucrânia (divisão de elite), que teve o estádio em Chernihiv bombardeado em abril em decorrência da guerra com a Rússia;
  • o Malavan FC, atual campeão da segunda divisão do Irã, que atua com jogadores da região portuária de Bandar-e Anzali.

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