O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Faltou ao Brasil, contra a Croácia, saber vencer

Fred no ataque, bola não tirada de jogo, Casemiro sem parar Modric; erros em série eliminam seleção da Copa

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O Brasil precisou de todo o tempo normal do jogo e mais todo o primeiro tempo da prorrogação para fazer um golzinho na duríssima Croácia.

Isso dá, sem contar os acréscimos, que têm sido fartos na Copa do Qatar, uma hora e 45 minutos.

A seleção martelou, martelou, martelou, até que Neymar, depois de tabelar com Lucas Paquetá, driblou o goleiro Livakovic e furou o paredão croata: Brasil 1 a 0. Alívio.

Neymar aponta a cabeça para cima, com os olhos fechados, ao lamentar a eliminação do Brasil, nos pênaltis, para a Croácia nas quartas de final da Copa do Qatar
Neymar reage à eliminação do Brasil, nos pênaltis, para a Croácia nas quartas de final da Copa do Qatar, no estádio Cidade da Educação - Jewel Samad - 9.dez.2022/AFP

Eu pensei, e você, se viu o jogo, possivelmente também pensou: "Está controlado, basta administrar, tocar a bola, fazer o tempo passar. Eles, croatas, estão cansados, já jogaram uma prorrogação, não terão força para reagir".

O Brasil tinha o jogo nas mãos (ou nos pés), bastava saber vencer. Não soube.

Se a seleção de Tite demorou essa eternidade que citei (pelo menos 105 minutos) para vazar Livakovic, levou pouco mais de dez minutos para permitir o empate.

Não se deve de forma alguma tirar o mérito da Croácia, que, mesmo cansada (jogara outra prorrogação, contra o Japão, quatro dias antes) e mesmo sem uma esperança nítida –pois o Brasil foi durante o jogo, e permanecia sendo na prorrogação, o controlador das ações–, jamais deixou de acreditar.

Mas se deve responsabilizar os brasileiros, em altíssima dose, por proporcionar aos croatas a possibilidade de chegar ao gol de empate –como chegaram, para depois ganhar nos pênaltis, como já tinham ganhado dos japoneses nas oitavas de final.

O zagueiro e capitão Thiago Silva fez a seguinte constatação após a eliminação do Brasil:

"A gente poderia estar um pouco melhor concentrado porque a gente não está acostumado a tomar esse tipo de contra-ataque. A gente está sempre muito bem organizado, eu acho que a gente desorganizou um pouquinho na segunda bola que a gente perdeu e demos o contra-ataque, que era tudo que eles queriam naquele momento".

O lance a que Thiago Silva se refere ocorreu aos quase 11 minutos do segundo tempo da prorrogação. Faltavam de quatro a cinco minutos para o árbitro inglês Michael Oliver apitar o término da partida no estádio Cidade da Educação e o Brasil manter o sonho do hexa.

O Brasil estava no campo de ataque. Até aí, tudo bem, melhor a bola longe do gol de Alisson do que perto. Só que quem participava da jogada ofensiva junto com Pedro não era Neymar, ou Antony, ou Rodrigo, atacantes como o flamenguista.

Quem participava era o volante Fred, que Tite colocara no tempo extra para fortalecer a marcação no meio-campo, para evitar que a Croácia pudesse criar alguma chance, para ser o parceiro de combate de Casemiro.

No lance, depois de uma dividida com Gvardiol (o croata que joga com uma máscara protetora no rosto), ele avançou até quase a linha de fundo do adversário.

O volante Gvardiol dá um carrinho e desarma Fred no estádio Cidade da Educação, em Al Rayyan, no Qatar
O volante Fred é desarmado por Gvardiol pouco antes do contra-ataque em que a Croácia fez o gol de empate contra o Brasil na Copa do Mundo - Giuseppe Cacace - 9.dez.2022/AFP

O que aconteceu na sequência contribuiu para que, menos de um minuto depois, a Croácia empatasse.

Lovren chegou antes de Fred e deu um chutão, Perisic desviou de cabeça, ainda no campo de defesa croata, e Danilo não cabeceou a bola para a lateral, para que a seleção pudesse se recompor –talvez não tivesse como fazê-lo, pois a redonda chegou muito rápido a ele.

Danilo cabeceou para o meio, e a bola chegou a Modric, o craque da Croácia e articulador de suas jogadas. Casemiro estava próximo e aparentemente podia evitar que o camisa 10 iniciasse o contra-ataque.

Aliás, antes do jogo das quartas de final, em entrevista à Fifa, Vinicius Junior –que saíra da partida mais cedo por opção do treinador, dando lugar a Rodrygo– disse que confiava em Casemiro para neutralizar o camisa 10 croata.

Só que naquele momento Casemiro falhou. Não desarmou Modric, não fez falta nele (talvez por medo de ser expulso, pois já tinha cartão amarelo), e o contra-ataque foi iniciado.

O camisa 16 Petkovic, da Croácia, chuta diante de Marquinhos e Thiago Silva para fazer gol de empate contra o Brasil  no estádio Cidade da Educação, em Al Rayyan, no Qatar
Petkovic (16) chuta, a bola desvia em Marquinhos (agachado), e a Croácia empata com o Brasil na prorrogação, no estádio Cidade da Educação, em Al Rayyan - Adrian Dennis - 9.dez.2022/AFP

Deu no que deu. A defesa brasileira estava desorganizada, Fred e Casemiro voltando, sabendo que não chegariam. Vlasic (reserva que entrara) avançou e tocou na esquerda para Orsic (reserva que entrara), que cruzou para Petkovic (reserva que entrara), livre, chutar.

Pego de surpresa, o Brasil ainda teve o azar de o chute desviar em Marquinhos e tirar a chance de defesa de Alisson.

No jogo que teve mais de duas horas, essa foi a única vez que a Croácia, em nove tentativas, acertou o gol brasileiro –as outras oito ou foram bloqueadas ou foram para fora.

"A gente fica chateado pela forma que foi. Estava na nossa mão, escapou ali", afirmou Casemiro, que fez boa Copa.

Escapou ali mesmo. Em um único lance, que um time que sabe vencer teria evitado que acontecesse.

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