Veja só a mistura de origens: o time brasileiro Atlético-MG vai ter um técnico argentino apelidado de "Turco" que na verdade é neto de libaneses. A contratação foi anunciada pela equipe na quinta-feira (12), formalizando a troca de Cuca — que deixou o clube por decisão própria — por Antonio Mohamed.
Mohamed, 51, nasceu em Buenos Aires. Na Argentina, como no resto da América Latina, os descendentes de árabes acabaram apelidados de turcos. Isso porque, quando começaram a imigrar para o continente no fim do século 19, eles eram oficialmente súditos do Império Otomano. Aquele império, que tinha capital em Istambul, controlava o território do que são agora a Síria e o Líbano.
Os árabes partiram em massa para as Américas por volta de 1870. Entre as razões para a sua saída estão as diversas crises que assolaram o leste do Mediterrâneo naquelas décadas – por exemplo, o colapso do mercado da seda e as duas guerras mundiais. Brasil, Argentina e Estados Unidos receberam a maior parte dessa população, em parte porque os três eram vistos como países bastante promissores.
A maior parte dos árabes tinha vindo dos territórios que mais tarde se tornaram Síria e Líbano. O apelido de "turcos", que eles receberam em especial na América Latina, tinha tom pejorativo. Em especial, porque muitos deles ressentiam os séculos de presença otomana em suas terras natais. O poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade captura bem essas contradições em seu poema "Turcos", em que escreve:
Os turcos,
meu professor corrige: Os turcos
não são turcos. São sírios oprimidos
pelos turcos cruéis. Mas Jorge Turco
aí está respondendo pelo nome,
e turcos todos são, nesse retrato
tirado para sempre... Ou são mineiros
de tanto conviver, vender, trocar e ser
em Minas: a balança
no balcão, e na canastra aberta
o espelho, o perfume, o bracelete, a seda,
a visão de Paris por uns poucos mil-réis?
Os árabes e seus descendentes se destacaram em diversos setores nos países em que se instalaram. No Brasil, ficaram famosos pelo comércio popular. Também tiveram proeminência na política brasileira, como atestam os sobrenomes de Michel Temer, Paulo Maluf, Fernando Haddad, Jandira Feghali e Guilherme Boulos. Os árabes entraram ainda em campo no futebol brasileiro. Foi o caso de Athiê Jorge Curi, presidente do Santos, e Nabih Abi Chedid, do Bragantino, entre outros.
O mesmo aconteceu na Argentina. O ex-presidente Carlos Menem era descendente de sírios, para ficar em um caso emblemático. Curiosamente, a Argentina também já teve um outro "turco" futebolístico: Omar Asad, que chegou a ter o mesmo apelido de Antonio Mohamed.
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