Quadro-negro

Uma lousa para se conhecer e discutir o que pensa e faz a gente preta brasileira

Quadro-negro - Dodô Azevedo
Dodô Azevedo

Poitier não gostava de ser reduzido ao seu Oscar pioneiro

Para o ator, o reconhecimento da academia era apenas chancela de uma indústria branca

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Em mais de uma entrevista, Sidney Poitier remendou quem o apresentava como "o primeiro negro a vencer um Oscar". Para o ator, dar tanta importância ao Oscar é reforçar a ideia de que artistas negros precisam do reconhecimento da indústria branca para serem considerados bons.

Ter sido o primeiro negro a vencer o Oscar foi o menor dos feitos do ator.

O ator Sidney Poitier é homenageado e está em cima do palco, sorrindo, agradeçendo à homenagem
(FILES) In this file photo taken on March 11, 2000, US actor Sidney Poitier receives a standing ovation as he receives the Life Achievement Award at the Sixth Annual Screen Actors Guild Awards in Los Angeles. - Sidney Poitier, Hollywood's first major Black movie star, has died, the deputy prime minister of the Bahamas said on January 7, 2022. Poitier, who held dual US and Bahamian nationality, was "an icon, a hero, a mentor, a fighter, a national treasure," Deputy Prime Minister Chester Cooper said on his official Facebook page. (Photo by LUCY NICHOLSON / AFP) ORG XMIT: LAX18 - AFP


Sidney Poitier era uma enciclopédia de história das artes dramáticas negras estadunidense. Sempre que podia, destacava a excelência, por exemplo, do incrível casal Rubby Dee, grande dama do teatro negro, casada com o titã Ossie Davis.

Também fazia questão, em suas trajetória, de reforçar a cena cinematográfica e teatral negra. Embora nunca tenha sido para ele ter parceiros brancos, como John Cassavetes, Rod Steiger, ou Jean Seberg, produziu e dirigiu filmes. Ainda melhor que o clássico "Adivinhe quem veio para jantar", é "A warm december", filme que dirigiu e estrelou em 1973 e que permanece esquecido porque trata-se de uma história de amor entre negros.

É interessante imaginar as maravilhas que Poitier faria, hoje, se jovem, com esse mercado de streamings que finalmente abraçou tantas, inúmeras, quase infinitas séries apenas com personagens negros.
Poitier capinou no mato da indústria cinematrográfica, até hoje, infelizmente menos diversa que a a indústria dos streamings.

E, nesse capinar, surgiu o fílme ícone, um meme em pelo anos 60. "Ao mestre com carinho", conta história de um professor negro que encara o desafio de acertar a vida confusa de alunos brancos e seus white people problems. Desprezado pelos alunos no início, ganha sua confiança na base da autoridade de um príncipe afro, da escuta de um feiticeiro de tribo, e o charme que só seres humanos com muita melanina no corpo têm.

Era o único negro em cena. Em um filme que mostrava como a jovem branquitude estava perdida em seus privilégios, enquanto o negro serviu de farol.

Hoje, vivenciamos muito isso. Não só no Brasil, onde a população branca, mesmo privilegiada, está perdida e têm buscado farol em intelectuais como Djamila Ribeiro. Os pretos com sabedoria confortando uma cultura ocidental que não deu certo é o tema de "Ao mestre, com carinho".

Talvez seja o único filme em Hollywood onde acontece o fenômeno do black savior.

Sidney Poitier dançando na festa dos alunos é cena que fez optar pela carreira de professor.

Respeito, seriedade, disciplina e suíngue. É isso que constitui o povo preto.

E, assim, inspirando a tudo e todos, o ator foi vivendo os seus gloriosos 94 anos de vida. Uma vitória viver tanto e bem.

Celebremos isso.

Ao mestre, com carinho.

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