Quadro-negro

Uma lousa para se conhecer e discutir o que pensa e faz a gente preta brasileira

Quadro-negro - Dodô Azevedo
Dodô Azevedo
Descrição de chapéu mídia jornalismo

Só a 'cultura do cancelamento' pode nos salvar da barbárie

Hoje, Hitler teria sido 'cancelado' antes de chegar ao poder

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

'Cultura do cancelamento' é o nome vitimista que pessoas que nunca haviam experimentado críticas dão às repreensões que recebem.

É usando, especialmente, e no mundo inteiro, pela classe média, alta e ricos em geral. Gente que faz bobagem, ou comete crimes, passa por um momento de execração social, mas não passa disso.

Uma vítima da 'cultura do cancelamento', não sofre violência física. Não é espancada até a morte na beira de uma praia do Rio de Janeiro enquanto as pessoas passam para comprar refrigerantes.

Muito pelo contrário. Os chamados 'cancelados' ganham notoriedade, seguidores, dão entrevistas, contam histórias de superação. Costumam voltar do 'cancelamento' mais famosos e mais ricos.

E, ainda sim, bradando contra a 'cultura do cancelamento'.

Falar mal dela também dá notoriedade. Escrever textos, também. Textos que vilanizam 'a cultura do cancelamento' confortam os que querem ter, por exemplo, a liberdade de dizer e fazer o que quiser, 'sem ser cancelado'.

Hilter não teria se viabilizado hoje. O cancelamento viria com os primeiros discursos. Ler a monumental obra de Jason Lutes, que passou mais de vinte anos escrevendo seu monumental romance gráfico Berlim (Editora Veneta, 2020) que desvela, em monumentais 592 páginas, um retrato meticuloso do cordial povo alemão durante os anos 20, antes da conversão coletiva ao nazismo.

Se houvesse a tal 'cultura do cancelamento' nos séculos XVI e XVII, gente preta não teria sido escravizada no continente africano. E os milhões de indígenas mortos por conta dos vírus que os colonos trouxeram da Europa teriam escandalizado o mundo e refletido, antes que mal fosse feito: Talvez a colonização não seja uma boa ideia.

É fato, também, que se houvesse 'cultura do cancelamento´, hoje, em cidades pequenas do Brasil, tão isoladas do conceito e dos defensores de Direitos Humanos, menos esposas estariam sendo assassinadas pelos maridos e menos filhas estariam sendo estupradas por seus próprios pais.

O que chamam de 'cultura do cancelamento', nós aqui chamamos de civilização.

Entende-se a fraqueza humana, principalmente de quem não passa por necessidades, em confundir o conceito de liberdade com liberdade-para-tudo.

Não se deve imputar o que ocorreu com o Flow Podcast a uma geração jovens de comunicadores que se viram sem regulamentação na internet. A postura sempre sensata de streamers jovens como Casimiro Miguel, LØAD e do podcast Podpah e o comportamento diletante de intelectuais e juristas brasileiros de 60 anos sobre o caso Flow, os mesmos que escrevem contra a política de cotas, nos evidencia não há idade para os que nos chamam de canceladores e nos acusam de atuar sobre sua liberdade.

Nos chamam de canceladores as pessoas antivacina que seguem morrendo de Covid.

Nos chamam de canceladores os que querem a liberdade irrestrita que levou Hitler a se achar no direito de ter feito tudo o que fez.

Nos chamam de canceladores.

Sem saber que trata-se, no Brasil de 2022, de um elogio.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.