Renato Terra

Humor acima de tudo. Golden shower em cima de todos

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Descrição de chapéu

Por que ninguém acode Mamãe Falei?

Exceto Renan Tour de Blonde, nenhum defensor intransigente da liberdade de expressão advogou por Arthur do Val

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Era mais garantido do que gafe de Jair Bolsonaro no Dia Internacional da Mulher. Era mais comum do que esquecer senha alfanumérica. Era mais frequente do que o espirro depois do PCR. Era uma certeza: todo comediante, em algum momento, seria obrigado a filosofar sobre os limites do humor.

A ilustração é o ícone que representa a falta de áudio desenhado com caneta marcador cor azul.
Ilustração publicada em 11 de março de 2022 - Débora Gonzales

Muita gente prosperou chutando esses limites pra longe. Não só os limites do humor. Não só os limites da civilidade, da convivência. Mamãe Falei já havia testado os limites da desgraça atacando o padre Júlio Lancellotti, que faz um heroico trabalho pelos desassistidos, chamando-o de "cafetão da miséria". Já tinha invadido o departamento de medicina da USP fantasiado de vagina. Já fora expulso do DEM.

Numa reportagem de Bernardo Esteves para a revista Piauí em 2020, Mamãe falou: "Vídeo de treta dá mais views, você fica entusiasmado e entra num ciclo vicioso: mais views, mais likes, mais briga". E lamentou: "Hoje qualquer coisinha é considerada discurso de ódio ou incentivo à violência, e você perde a monetização."

A desgraça virou método. Mas qual o limite?

Recentemente, Kim Kataguiri, do mesmo MBL de Mamãe, disse que foi erro a Alemanha ter criminalizado o partido nazista. A reação foi violenta. Algum limite foi ultrapassado.

As declarações sobre as ucranianas são nojentas, repulsivas e execráveis. Sou a favor de que perca o mandato. Mas chama a atenção o fato de ninguém acudir Mamãe.

Além, é claro, de Renan Tour de Blonde, em seu depoimento para a posteridade: "Foda-se as eleições. Eu tô cagando pras eleições. Porque eu não quero ir pras eleições num país de gente covarde. O Arthur, que lutou sozinho quando tentaram passar aumento de imposto, tá sozinho agora. Sozinho precisando de ajuda porque vão cassar o mandato dele [...]. Foi uma declaração merda, mas isso não é roubar. E ele tá sendo cassado. Porra!".

Até onde os defensores intransigentes da liberdade de expressão estão dispostos a ir? Por que ninguém acode Mamãe? Até que ponto o discurso da liberdade de expressão serve exclusivamente a um projeto político? Ou serve aos algoritmos? Se o MBL não fizesse oposição ao governo, Jair Bolsonaro classificaria a fala de Mamãe como "asquerosa"? Ou será que a sociedade realmente botou um limite?

São perguntas que não devem ser respondidas pelos humoristas.

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