Um ano que começou com a invasão de um dos prédios mais conhecidos do planeta, o Capitólio, e termina sob o impacto da volta à cena política do ex-juiz Sergio Moro. Assim foi o 2021 da direita.
No meio, não faltaram brigas, novas alianças e a presença sempre intensa de um certo Jair Bolsonaro. Tudo temperado pelo clima eleitoral que já se anuncia, e durante uma pandemia que ainda dominou o noticiário.
Aqui, os dez fatos mais importantes do ano para o mundo destro, na humilde avaliação de Saída Pela Direita.
1-) Trump estimula invasão, sofre derrota, mas segue forte
O ex-presidente americano teve um 2021 bastante agitado. Em janeiro, atiçou apoiadores a invadirem a sede do Congresso americano para tentar melar a vitória de Joe Biden, num ato que chocou os americanos.
Derrotado, submergiu por algum tempo, mas ressurgiu no segundo semestre na esteira dos problemas enfrentados pelo sucessor na Casa Branca. Com controle total do Partido Republicano e ainda popular na base de direita, sua volta ao cargo em 2024 não é mais vista como um delírio.
2-) Ideológicos fora
Em 2021, Bolsonaro livrou-se de dois integrantes de peso da ala ideológica de seu ministério: Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente, substituídos por quadros mais, digamos, "convencionais".
Ao mesmo tempo, subiu o cartaz do "técnico" Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, ungido por Bolsonaro candidato ao governo de São Paulo.
Isso não significa, claro um surto de moderação do presidente --no máximo um recuo estratégico, para diminuir um pouco da pressão internacional sobre o governo. Ernesto e Salles devem se candidatar a cargos legislativos no ano que vem, com apoio da base bolsonarista.
3-) Guedes se divorcia dos liberais
No ano que passou, acabou definitivamente o encanto dos liberais pelo ministro Paulo Guedes (Economia). Já frustrados com a lentidão na aprovação das reformas, venda de estatais e abertura comercial, muitos defensores do Estado mínimo pelo menos viam em Guedes alguém que tentava levar adiante estas pautas.
Não mais. A defesa pelo ministro da PEC dos Precatórios e do rompimento do teto de gastos, para acomodar mais despesas, foi a pá de cal.
No ano que vem, o antigo posto de Ipiranga só recupera o prestígio se não houver mais nenhuma alternativa para os Faria Limers.
4-) A briga no Novo
Criado há dez anos para ser "novo", o Novo teve um ano para esquecer. Seu fundador, João Amoêdo, entrou em pé de guerra com a direção nacional e a maior parte da bancada de deputados federais.
Principal autoridade com mandato do partido, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, aproximou-se de Bolsonaro e deixou claro que levar o partido para a oposição não seria uma opção.
De quebra, uma vereadora em São Paulo foi acusada de agredir fisicamente uma colega de bancada.
Em busca de alguma paz, o partido, que defende ideias liberais, escolheu uma figura de fora da política como candidato a presidente, o cientista político Luiz Felipe D’Avila. Mas o espaço que ele terá para crescer na campanha é restrito. O Novo corre o risco de passar o ano eleitoral em profunda crise de identidade.
5-) Novas caras da ultradireita mundial
Se a direita global teve reveses em 2021, com as quedas de Donald Trump (EUA) e Binyamin Netanyahu (Israel), mais do que compensou com o surgimento de novas lideranças em diversos cantos.
Na França, o jornalista e escritor Éric Zemmour surgiu de forma avassaladora com forte discurso anti-islâmico, com chances reais de pelo menos ir ao segundo turno na eleição presidencial do ano que vem.
Na Espanha, o partido Vox, liderado por Santiago Abascal, consolidou seu domínio no eleitorado mais conservador, em alguns momentos sobrepondo-se à direita moderada.
No vizinho Portugal, André Ventura, do Chega, plantou a bandeira da direita radical num país em que há muito não havia essa tradição.
No Chile, José Antonio Kast reabilitou a figura de Pinochet na campanha presidencial, e na Argentina os libertários ganharam palco com Javier Milei. Até na África do Sul a direita anti-imigração cresceu, com o partido ActionSA, mostrando que o fenômeno chega a vários continentes.
6-) A volta de Moro
O retorno de Moro ao cenário eleitoral bagunçou a certeza de que 2022 estaria destinada a um cenário polarizado com Lula vs Bolsonaro.
O ex-juiz e ex-ministro não terá vida fácil na eleição presidencial, e precisará explicar sua parcialidade no comando da Lava Jato e a decisão de unir-se ao governo do hoje desafeto Bolsonaro.
Mas com discurso forte de combate à corrupção e sólidas credenciais antipetistas, poderá rachar a base da direita no ano que vem, que era cativa do presidente.
7-) Direita news
Foi um ano cheio para a comunicação destra, em diversas plataformas. Entre os aplicativos de mensagens, o Telegram tornou-se o favorito dos conservadores, até pela precariedade dos mecanismos de controle no Brasil. Não por acaso, quem reina por lá é o presidente Jair Bolsonaro.
Na seara das redes sociais, o Gettr fez sua estreia, comandado por um ex-assessor de Donald Trump, e o próprio ex-presidente anunciou sua própria plataforma. Tudo para tentar fugir do Twitter, visto como "censor".
Na imprensa tradicional, a Jovem Pan, alinhada ao presidente, expandiu-se, agora em versão TV. Outros veículos como a revista Oeste, o jornal Gazeta do Povo e o site Brasil Sem Medo também se consolidaram como porta-vozes da direita.
8-) Cultura se firma como campo de batalha
Em 2021, a direita seguiu cada vez mais a orientação do filósofo Olavo de Carvalho, de tratar a cultura como parte da guerra política.
A produtora gaúcha Brasil Paralelo, especializada em documentários e programas com viés conservador, teve crescimento meteórico, e se tornou uma espécie de Netflix da direita.
O documentário Nem Tudo Se Desfaz, de Josias Teófilo, mobilizou a direita (e mesmo a não-direita) retratando as transformações no Brasil desde 2013. No humor, o canal Hipócritas cresceu como uma versão direitista do Porta dos Fundos.
E, como se não bastasse, a Secretara Especial da Cultura passou um ano inteiro sob o mesmo comando, do ex-Malhação Mário Frias. Para uma pasta caótica, com trocas de comando constantes, foi um progresso e tanto.
9-) A volta do Arenão
A fusão de PSL e DEM, dando origem ao União Brasil, pode revitalizar um segmento político que foi engolido pelo bolsonarismo nos últimos anos, o da direita (relativamente) moderada.
Desde os anos 1950, esse nicho sempre foi ocupado por um partido competitivo politicamente, seja ele a UDN, a Arena, o PDS ou o PFL (depois DEM). Com a previsão de ser formalizada em 2022, a nova agremiação pode criar mais uma sombra ao conservadorismo extremado do presidente.
10-) Bolsonaro on the road
Bolsonarismo é movimento, e em 2021 o presidente e seus apoiadores bolaram novas formas de se manter em constante agitação. Às vezes, literalmente, como nas incontáveis motociatas pelo país, uma criação deste ano.
Mas também de forma metafórica, obedecendo a um mesmo padrão: esticar a corda até onde der, energizar a base de apoiadores, recuar e logo inventar outra polêmica, sem deixa a peteca cair.
Exemplos não faltaram, da defesa do voto impresso aos questionamentos à vacina contra a Covid, passando pelos arroubos direcionados ao STF. Teve até desfile de veículos militares fumacentos na Esplanada.
Se há uma certeza sobre 2022, é que essa máquina de gerar ruídos seguirá funcionando em potência máxima.
Feliz Ano Novo!
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Ps: esse blog faz uma pausa e retorna em janeiro. Até lá!
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