Saída pela Direita

Conservadorismo, nacionalismo e bolsonarismo, no Brasil e no mundo

Saída pela Direita - Fábio Zanini
Fábio Zanini

De Moro às motociatas de Bolsonaro, veja os 10 fatos mais importantes para a direita em 2021

Retrospectiva inclui invasão do Capitólio e ascensão de novos personagens pelo mundo

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São Paulo

Um ano que começou com a invasão de um dos prédios mais conhecidos do planeta, o Capitólio, e termina sob o impacto da volta à cena política do ex-juiz Sergio Moro. Assim foi o 2021 da direita.

No meio, não faltaram brigas, novas alianças e a presença sempre intensa de um certo Jair Bolsonaro. Tudo temperado pelo clima eleitoral que já se anuncia, e durante uma pandemia que ainda dominou o noticiário.

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O presidente Jair Bolsonaro durante motociata em Santa Cruz do Capibaribe, em Pernambuco, em setembro - Marcos Corrêa/PR

Aqui, os dez fatos mais importantes do ano para o mundo destro, na humilde avaliação de Saída Pela Direita.

1-) Trump estimula invasão, sofre derrota, mas segue forte

O ex-presidente americano teve um 2021 bastante agitado. Em janeiro, atiçou apoiadores a invadirem a sede do Congresso americano para tentar melar a vitória de Joe Biden, num ato que chocou os americanos.

Com rosto pintado e chapéu de pele com chifres, manifestante pró-Trump grita durante invasão ao Congresso dos EUA
Com rosto pintado e chapéu de pele com chifres, manifestante pró-Trump grita durante invasão ao Congresso dos EUA, em janeiro - Reprodução

Derrotado, submergiu por algum tempo, mas ressurgiu no segundo semestre na esteira dos problemas enfrentados pelo sucessor na Casa Branca. Com controle total do Partido Republicano e ainda popular na base de direita, sua volta ao cargo em 2024 não é mais vista como um delírio.

2-) Ideológicos fora

Em 2021, Bolsonaro livrou-se de dois integrantes de peso da ala ideológica de seu ministério: Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente, substituídos por quadros mais, digamos, "convencionais".

Ao mesmo tempo, subiu o cartaz do "técnico" Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, ungido por Bolsonaro candidato ao governo de São Paulo.

Isso não significa, claro um surto de moderação do presidente --no máximo um recuo estratégico, para diminuir um pouco da pressão internacional sobre o governo. Ernesto e Salles devem se candidatar a cargos legislativos no ano que vem, com apoio da base bolsonarista.

3-) Guedes se divorcia dos liberais

No ano que passou, acabou definitivamente o encanto dos liberais pelo ministro Paulo Guedes (Economia). Já frustrados com a lentidão na aprovação das reformas, venda de estatais e abertura comercial, muitos defensores do Estado mínimo pelo menos viam em Guedes alguém que tentava levar adiante estas pautas.

Não mais. A defesa pelo ministro da PEC dos Precatórios e do rompimento do teto de gastos, para acomodar mais despesas, foi a pá de cal.

No ano que vem, o antigo posto de Ipiranga só recupera o prestígio se não houver mais nenhuma alternativa para os Faria Limers.

4-) A briga no Novo

Criado há dez anos para ser "novo", o Novo teve um ano para esquecer. Seu fundador, João Amoêdo, entrou em pé de guerra com a direção nacional e a maior parte da bancada de deputados federais.

Principal autoridade com mandato do partido, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, aproximou-se de Bolsonaro e deixou claro que levar o partido para a oposição não seria uma opção.

De quebra, uma vereadora em São Paulo foi acusada de agredir fisicamente uma colega de bancada.

Em busca de alguma paz, o partido, que defende ideias liberais, escolheu uma figura de fora da política como candidato a presidente, o cientista político Luiz Felipe D’Avila. Mas o espaço que ele terá para crescer na campanha é restrito. O Novo corre o risco de passar o ano eleitoral em profunda crise de identidade.

5-) Novas caras da ultradireita mundial

Se a direita global teve reveses em 2021, com as quedas de Donald Trump (EUA) e Binyamin Netanyahu (Israel), mais do que compensou com o surgimento de novas lideranças em diversos cantos.

O candidato de ultradireita à Presidência da França Éric Zemmour - Christophe Archambault/AFP

Na França, o jornalista e escritor Éric Zemmour surgiu de forma avassaladora com forte discurso anti-islâmico, com chances reais de pelo menos ir ao segundo turno na eleição presidencial do ano que vem.

Na Espanha, o partido Vox, liderado por Santiago Abascal, consolidou seu domínio no eleitorado mais conservador, em alguns momentos sobrepondo-se à direita moderada.

No vizinho Portugal, André Ventura, do Chega, plantou a bandeira da direita radical num país em que há muito não havia essa tradição.

No Chile, José Antonio Kast reabilitou a figura de Pinochet na campanha presidencial, e na Argentina os libertários ganharam palco com Javier Milei. Até na África do Sul a direita anti-imigração cresceu, com o partido ActionSA, mostrando que o fenômeno chega a vários continentes.

6-) A volta de Moro

O retorno de Moro ao cenário eleitoral bagunçou a certeza de que 2022 estaria destinada a um cenário polarizado com Lula vs Bolsonaro.

O ex-juiz e ex-ministro não terá vida fácil na eleição presidencial, e precisará explicar sua parcialidade no comando da Lava Jato e a decisão de unir-se ao governo do hoje desafeto Bolsonaro.

O ex-juiz Sergio Moro, durante lançamento de seu livro em São Paulo, no início de dezembro - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Mas com discurso forte de combate à corrupção e sólidas credenciais antipetistas, poderá rachar a base da direita no ano que vem, que era cativa do presidente.

7-) Direita news

Foi um ano cheio para a comunicação destra, em diversas plataformas. Entre os aplicativos de mensagens, o Telegram tornou-se o favorito dos conservadores, até pela precariedade dos mecanismos de controle no Brasil. Não por acaso, quem reina por lá é o presidente Jair Bolsonaro.

Na seara das redes sociais, o Gettr fez sua estreia, comandado por um ex-assessor de Donald Trump, e o próprio ex-presidente anunciou sua própria plataforma. Tudo para tentar fugir do Twitter, visto como "censor".

Na imprensa tradicional, a Jovem Pan, alinhada ao presidente, expandiu-se, agora em versão TV. Outros veículos como a revista Oeste, o jornal Gazeta do Povo e o site Brasil Sem Medo também se consolidaram como porta-vozes da direita.

8-) Cultura se firma como campo de batalha

Em 2021, a direita seguiu cada vez mais a orientação do filósofo Olavo de Carvalho, de tratar a cultura como parte da guerra política.

A produtora gaúcha Brasil Paralelo, especializada em documentários e programas com viés conservador, teve crescimento meteórico, e se tornou uma espécie de Netflix da direita.

O documentário Nem Tudo Se Desfaz, de Josias Teófilo, mobilizou a direita (e mesmo a não-direita) retratando as transformações no Brasil desde 2013. No humor, o canal Hipócritas cresceu como uma versão direitista do Porta dos Fundos.

E, como se não bastasse, a Secretara Especial da Cultura passou um ano inteiro sob o mesmo comando, do ex-Malhação Mário Frias. Para uma pasta caótica, com trocas de comando constantes, foi um progresso e tanto.

9-) A volta do Arenão

A fusão de PSL e DEM, dando origem ao União Brasil, pode revitalizar um segmento político que foi engolido pelo bolsonarismo nos últimos anos, o da direita (relativamente) moderada.

Desde os anos 1950, esse nicho sempre foi ocupado por um partido competitivo politicamente, seja ele a UDN, a Arena, o PDS ou o PFL (depois DEM). Com a previsão de ser formalizada em 2022, a nova agremiação pode criar mais uma sombra ao conservadorismo extremado do presidente.

10-) Bolsonaro on the road

Bolsonarismo é movimento, e em 2021 o presidente e seus apoiadores bolaram novas formas de se manter em constante agitação. Às vezes, literalmente, como nas incontáveis motociatas pelo país, uma criação deste ano.

Mas também de forma metafórica, obedecendo a um mesmo padrão: esticar a corda até onde der, energizar a base de apoiadores, recuar e logo inventar outra polêmica, sem deixa a peteca cair.

Exemplos não faltaram, da defesa do voto impresso aos questionamentos à vacina contra a Covid, passando pelos arroubos direcionados ao STF. Teve até desfile de veículos militares fumacentos na Esplanada.

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Blindados da Marinha passam em desfile pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF), em agosto - Pedro Ladeira/Folhapress

Se há uma certeza sobre 2022, é que essa máquina de gerar ruídos seguirá funcionando em potência máxima.

Feliz Ano Novo!

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Ps: esse blog faz uma pausa e retorna em janeiro. Até lá!

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