Uma estação que um dia foi imponente, mas que hoje está totalmente sucateada. Assim pode ser resumida a estação ferroviária de Pirajuí (a 382 km de São Paulo), uma das que compunham a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
Com a maior parte dos cômodos sem telhado, a estação também não tem portas ou janelas na maioria do complexo, dominado por pichações e mato crescendo na área interna do imóvel.
Pirajuí era a 12ª estação existente no trecho entre Bauru e Corumbá (MS), por onde a Noroeste do Brasil oferecia uma linha ferroviária que ficou conhecida como Trem da Morte, por conta principalmente da desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.
Ela permitia a ligação com Puerto Quijarro, na Bolívia, de onde partia o verdadeiro Trem da Morte, que vai até Santa Cruz de la Sierra, maior cidade boliviana (1,5 milhão de habitantes), e que ganhou esse nome devido ao número de acidentes e também por ser no passado rota para o transporte de doentes.
Na estação de Pirajuí, cujo prédio substituiu outro inaugurado em 1925, a insígnia NOB, alusiva à Noroeste do Brasil, ainda está lá, mas quase apagada e com sinais evidentes de mofo.
Vidros quebrados, fezes de animais de grande porte, restos de marmitas atraindo insetos e um casal se alimentando sentados no lugar onde um dia houve uma janela compunham o ambiente.
Os trilhos, porém, estão em pleno uso e, quando eu e o repórter fotográfico Eduardo Anizelli fomos à estação, funcionários da concessionária Rumo faziam manutenção no local.
O cenário de abandono de Pirajuí foi muito semelhante ao visto em Bauru, estação inicial do Trem da Morte.
Percorremos, por rodovia, os 1.272 quilômetros entre Bauru e Corumbá e em 24 estações visitadas encontramos destruição e histórias de desolação de ex-maquinistas e antigos usuários das ferrovias.
Das 122 estações erguidas entre as cidades, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum. A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.
Muitas já não existiam décadas antes da privatização, ocorrida em 1996 —foi o primeiro trecho da já extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) privatizado pelo governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A estação de Pirajuí, de acordo com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), é uma das existentes no trecho que foram alvo de cessão de uso gratuito. Resta, agora, que ela tenha uma destinação.
O relato do estado da estação ferroviária de Pirajuí faz parte de uma série sobre a extinta Noroeste do Brasil.
Se quiser conferir o relato geral das estações que pertenceram à ferrovia, contamos essa história aqui. A situação em Bauru está aqui.
Ah, o jovem casal que se alimentava no único cômodo ainda com telhado da estação deixou o local em uma moto pouco antes de a Folha partir para a próxima parada. Os restos de comida, assim como talheres de plástico e a sacola em que transportaram as marmitas, foram abandonados por eles no lugar que um dia foi o saguão da estação.
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